A FILOSOFIA DA VOZ
Por: Carolina234 • 26/9/2018 • 3.080 Palavras (13 Páginas) • 364 Visualizações
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A coordenação entre fonação e respiração necessária para o canto é mais precisa e específica do que a utilizada para a produção da voz falada. Segundo Miller (1994), o cantor treinado combina um início de fonação adequado com um controle do ar expirado, produzindo uma pressão subglótica constante. Assim, o ar necessário para a fonação é mantido controlado.
Uma opinião unânime entre os profissionais envolvidos no treinamento e na reabilitação de cantores é de que o suporte respiratório é essencial para o canto (Spiegel, Sataloff, &Hawkshaw,1997). O mecanismo de suporte constitui a fonte geradora de um vetor de força na coluna de ar, que irá passar entre as pregas vocais. Os problemas anatômicos, técnicos ou doenças do sistema respiratório podem gerar vozes alteradas e sem projeção, ou mesmo criar padrões compensatórios negativos para a produção vocal.
Fonação
Na voz falada, as pregas vocais fazem ciclos vibratórios com o cociente de abertura levemente maior que o de fechamento. Produz-se uma série relativamente regular de harmônicos, teoricamente infinita, porém em média 20 deles são suficientes para oferecer a identidade de uma vogal. Os harmônicos produzidos decrescem em intensidade, em direção aos harmônicos agudos, na razão de 12 dB por oitava. Na fala, o atrito da mucosa das pregas vocais é bastante aumentado nas situações de pigarro, tosse ou ataque vocal brusco e podem ocorrer instabilidades ocasionais, sem que isso comprometa a comunicação do indivíduo. Percebe-se uma movimentação discreta da laringe no pescoço, determinada por variações na inflexão das frases. A extensão de freqüências em uso habitual é de 3 a 5 semitons, dependendo da língua que se fala e da entonação empregada. Discretos desvios no modo vibratório, em termos de rouquidão, soprosidade ou aspereza, são geralmente aceitos socialmente e não causam maiores danos ao processo ao processo de comunicação.
Na voz cantada popular, pode não haver quase nenhuma diferença nos ciclos fonatórios, como geralmente observamos nos cantores de MPB, ou pode ainda haver modificações excepcionais nos cocientes de fechamento e abertura dos ciclos vibratórios. No canto lírico, o fato do cociente de fechamento ser maior que o de abertura gera um som acusticamente mais rico e com maior tempo de duração. Produz-se uma série maior de harmônicos, com mais de trinta facilmente identificáveis no registro espectrográfico, com intensidade forte mesmo nos harmônicos mais agudos do espectro. No canto, o atrito da mucosa das pregas vocais é reduzido e os atos de pigarrear e tossir são inadmissíveis. A ênfase não é feita com ataque vocal brusco, mas sim com mudança da tensão nas estruturas e nuanças discretas de freqüência e intensidade. A laringe tende a permanecer em posição baixa no pescoço (na maior parte das escolas de canto), estabilizada, mesmo nas freqüências mais agudas. A extensão de freqüências é ampla, de cerca de duas oitavas e meia.
Ressonância e Projeção de Voz
A ressonância, na voz falada, é geralmente média, em condições naturais do trato vocal, sem uso particular de alguma cavidade de e sem a necessidade de grande projeção vocal. A intensidade habitual situa-se ao redor de 64 dB para conversação, mantendo-se relativamente constante durante o discurso; a faixa de variações fica ao redor de 10 dB da intensidade habitual. Quando é necessária projeção vocal, geralmente inspira-se mais profundamente, abre-se mais a boca e utilizam-se sons mais agudos e mais longos. O uso de um foco de ressonância grande pode ser facilmente observado em regiões específicas do país, fazendo parte do próprio regionalismo do falante e sendo perfeitamente aceito dentro do grupo ao qual este falante pertence.
Na voz cantada, a ressonância é geralmente alta, dita "na máscara" ou de cabeça, o que indica que o foco de ressonância concentra-se na parte superior do trato vocal. A intensidade quase nunca é constante, e no canto lírico, podemos observar variações controladas e rápidas de um pianíssimo a um fortíssimo, em um limite que pode ir de 45 dB a 110 dB.O exemplo apresentado na Fig. 12-1 mostra a excelência desse controle de intensidade em uma emissão que começa pianíssimo e cresce rapidamente. A projeção vocal no canto lírico, que quase nunca é amplificado eletricamente, é uma necessidade constante. A emissão deve ser audível, mesmo na emissão em pianíssimo e, para tanto, a inspiração é sempre maior do que na fala, a boca tende a estar sempre bem aberta, procurando-se reduzir ao máximo os obstáculos à saída do som.
Um aspecto particular da ressonância e projeção da voz no canto lírico é o formante do cantor, que, conforme explicado anteriormente, é uma característica do canto lírico que confere audibilidade sobre ruído. Esse é talvez o aspecto indireto do canto lírico mais facilmente reconhecido pelo ouvinte, principalmente quando associado ao vibrato. Em alguns estilos musicais populares, especialmente no sertanejo brasileiro e no country norte-americano,observamos um foco de ressonância nasal específico, facilmente identificável auditivamente, além de vibrato. Este ajuste ressonantal é considerado inerente e fundamental para o canto dentro destes estilos musicais.
Qualidade Vocal
A qualidade vocal na voz falada pode ser neutra ou com pequenos desvios que não chegam a ser considerados sinais de disfonia. A qualidade vocal é extremamente sensível ao interlocutor, à natureza do discurso e aos aspectos emocionais da situação, podendo ficar momentaneamente trêmula ou sussurrada, especialmente diante de emoções. Vozes desviadas com certo grau de rouquidão, soprosidade, aspereza ou nasalidade, são geralmente aceitas na maior parte das profissões. Profissionais da voz falada ou mesmo da voz cantada popular podem ter desvios expressivos de suas qualidades vocais, apresentando tipos de vozes até mesmo considerados disfônicos, mas com grande aceitação pelo público e sucesso comercial. Cantores líricos têm um modelo de perfeição vocal que rejeita tais desvios; a qualidade vocal é mais estável e sofre menos influência de fatores externos à realidade musical.
O canto coral representa uma situação intermediária na qual a qualidade da emissão depende basicamente do estilo musical e do repertório; características pessoais são geralmente deixadas em segundo plano em favor de uma sonoridade única de grupo, porém os desvios na voz tendem a ser percebidos principalmente no naipe. que pode tomar-se desequilibrado.
Vibrato
A
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