Teresópolis: a cristalização da perspectiva modernizadora
Por: Kleber.Oliveira • 11/1/2018 • 3.443 Palavras (14 Páginas) • 555 Visualizações
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Agora, retomar-se-á o próprio documento que se compõe dos relatórios dos dois grupos de profissionais participantes (grupo A e B) que se concentram na reflexão sobre os temas “Concepção científica da pratica do Serviço Social” e “Aplicação da metodologia do Serviço Social”.
Durante o estudo do primeiro tema, o grupo A, inspirado em Lebret, construiu um quadro geral de sete níveis, a partir de necessidades básicas e necessidades sociais, classificando em seguida os fenômenos mais observados na prática do Serviço Social, identificando suas variáveis significativas e localizando as funções profissionais a elas pertinentes. Para melhor entendimento, foi utilizado o seguinte exemplo: a nível biológico, toma-se um fenômeno significativo observado na prática do Serviço Social, o alto índice da natalidade; logo se apontam as variáveis significativas: falta de educação sexual, valores religiosos, padrões culturais, falta de planejamento familiar: em suma, indicam-se as funções possíveis do Serviço Social: participação em programas de educação sexual, substituição de valores e padrões culturais, participação em programas de planejamento familiar, etc.
Tais funções são concebidas em micro e macro atuação e divididas em funções-meios e funções-fins. Durante a elaboração do esquema, o grupo insiste na consideração da globalidade e do inter-relacionamento das necessidades humanas, finalizando com a reiteração da necessidade de uma visão global.
Sobre o mesmo tema, o grupo B construiu um quadro sinótico de fenômenos e variáveis segundo o critério das necessidades e problemas, com dimensões referidas a “níveis de vida” e “sistemas de relações”. Só se distingue do grupo A adjetivamente o procedimento classificatório. Como exemplo, toma-se o nível de vida e determinam-se os problemas: baixos níveis sanitários, carência e má utilização de recursos, dificuldade de acesso aos recursos existentes.
No que tange à ação do Serviço Social, o grupo vai além e supõe três níveis de atuação: (prestação direta de serviços, administração de serviços sociais e planejamento dos serviços) e, em seguida, lista o conjunto de disciplinas sociais que podem subsidiar a intervenção em cada um deles. Diante das situações sociais - problema, o grupo sugere a adoção de procedimentos lógicos, tanto em fases predominantemente de conhecimento como de ação.
Os dois relatórios apresentam pontos em comum: a concepção científica da prática do Serviço Social é assumida como uma intervenção sobre elementos categorizados da empírica social, ordenada a partir de variáveis de constatação imediata e direcionada para generalizar a integração na modernização. A “cientificidade” da prática profissional é colocada aqui derivação tanto da análise formal quanto de procedimentos articulados na ação do assistente social. Em ambos também, a concepção científica da prática do Serviço Social é efetivamente reduzida ao estabelecimento de conexões superficiais entre dados empíricos da vida social e à intervenção metódica sobre eles. Como resultante da “concepção científica”, surge a “pauta interventiva”, podendo ser objeto de acompanhamento por parte de hierarquias institucional-organizacionais.
Sobre o segundo tema, “Aplicação da metodologia do Serviço Social”, o grupo A formulou uma sequência do procedimento metodológico de intervenção do Serviço Social que se compõe de investigação-diagnostico e intervenção, configurando a própria metodologia genérica. Diante do mesmo tema, o grupo B foi mais detalhista e iniciou pela definição da metodologia aplicável ao nível de planejamento, explanando somente depois sobre a aplicável aos níveis de administração em Serviço Social e prestação de serviços diretos. O grupo também elaborou cruzamentos do binômio diagnostico/intervenção com categorias do planejamento utilizáveis no Serviço Social, construindo uma relação entre os processos lógicos da prática profissional e processos administrativos, concluindo com as seguintes operações que configuram a aplicação metodológica no diagnóstico: identificar e descrever; classificar; explicar e compreender; prever tendências; na intervenção: preparação da ação; execução; avaliação.
Destaca-se o aprofundamento realizado pelo grupo B, ao encaminhamento contido na concepção científica da prática da profissão. A relação de continuidade é propriamente orgânica: da concepção científica da prática, tomada como manipulação intelectivamente ordenada, decorre a aplicação da metodologia como modus faciendi da ação.
Pelo ponto de vista da perspectiva modernizadora, a maturação do processo de renovação do Serviço Social alcança nestas formulações o seu ponto mais alto. Enquanto o documento de Araxá dá ênfase na “teorização”, a reflexão em Teresópolis traz à tona a questão da metodologia, permanecendo a noção de desenvolvimento e dissolvendo-se a herança “tradicional”: a busca foi por formas instrumentais capazes de garantir uma eficácia da ação profissional apta a ser reconhecida como tal. Em Araxá, coroa-se uma indicação do sentido sociotécnico do Serviço Social; em Teresópolis cristaliza-se a operacionalidade deste sentido: obtém-se a evicção de qualquer tematização conducente a colocá-lo em questão, consolida-se o seu trato como conjunto sistematizado de procedimentos prático-imediatos suscetíveis de administração tecnoburocrática.
Apesar de todo “progresso” apresentado nas discussões em Teresópolis, este é considerado inequívoco, pois em Araxá buscou-se conferir à profissão indicadores, pautas, dentre outros, no intuito do enquadramento em lógicas operativas. A partir do seminário de Teresópolis, nenhum outro documento brasileiro conhecido do Serviço Social se alcançou um nível similar de discriminação, classificação e categorização de situações sociais-problema e de procedimentos técnicos para enfrentá-las. O que foi cristalizado é a determinação do papel do profissional como o de um real funcionário do desenvolvimento, em detrimento da retórica que o situava como agente deste processo.
Assim, os avanços e esforços completam e resultam no desenvolvimento da perspectiva afirmada em Araxá. O debate teórico-científico ganha uma nova dimensão à medida que é conduzido para o marco do método profissional, reequacionando também o tom do humanismo liberal-abstrato, que se perde na escala em que a ênfase se move dos fins para os meios.
O problema (teórico e ideológico) da relação subdesenvolvimento/desenvolvimento em termos da particularidade
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