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O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: reflexões preliminares para interpretação das metamorfoses dos processos de trabalho

Por:   •  12/6/2018  •  4.022 Palavras (17 Páginas)  •  351 Visualizações

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Uma vez consolidado o processo de produção toyotista, não significa apenas uma mudança no paradigma de produção e acumulação do capital, tal processo demarca o que podemos denominar de reestruturação, ou redimensionamento da produção de forma que seja possível aumentar as margens de lucro e acumulação, sendo tal modelo uma “válvula de escape” para crise do capital, causando inúmeras consequências à classe trabalhadora.

Diante do exposto, o presente texto pretende apresentar algumas reflexões a cerca das mutações do processo de produção oriundo da crise do capital, e quais os desafios do assistente social inserido na empresa capitalista privada, e de que forma esse profissional foi/é afetado pelo processo de reestruturação produtiva.

2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E OS SIGNIFICADOS PARA O SERVIÇO SOCIAL

O capitalismo em sua trajetória histórica é marcado por oscilações, momentos de elevação e queda, sendo este movimento elemento fundante da reestruturação produtiva iniciada na década de 1970, período este marcado pelo agravamento da crise, posto que o baixo crescimento da produção e da produtividade, assim como as lutas da classe trabalhadora, pressionava para a queda da taxa de lucro.

Esse cenário de crise culminou na acumulação flexível, resultado da substituição do modelo de produção taylorismo/fordismo para o toyotismo, visando acabar com a rigidez dos processos, com o desperdício, através de novas formas adaptadas inclusive ao desenvolvimento tecnológico alcançado.

Antunes assim caracteriza o taylorismo/fordismo,

Esse padrão produtivo estruturou-se com base no trabalho parcelar e fragmentado, na decomposição das tarefas, que reduzia a ação operária a um conjunto repetitivo de atividades cuja somatória resultava no trabalho coletivo produtor dos veículos. Paralelamente à perda de destreza do labor operário anterior, esse processo de desantropomorfização do trabalho e sua conversão em apêndice da máquina-ferramenta dotavam o capital de maior intensidade na extração do sobretrabalho. A mais-valia, extraída extensivamente, pelo prolongamento da jornada de trabalho e pelo acréscimo de sua dimensão absoluta, intensifica-se de modo prevalecente a sua extração intensiva, dada pela dimensão relativa da mais-valia. A subsunção real do trabalho ao capital, própria da fase da maquinaria, estava consolidada.” (Antunes, 1999, pp.36-37).

O toyotismo, acumulação flexível é um padrão que associa novas tecnologias e novas formas de organização e gestão, fundados em várias experiências dentre as quais a japonesa. Consiste na substituição do taylorismo/fordismo ou associação destes com o modelo japonês, apresenta como traços básicos: a linha de produção flexibilizada, organização do trabalho em células ou ilhas de produção, just in time, kanban, qualidade total, polivalência ou multifuncionalidade, desconcentração do espaço fabril / terceirização, estoque mínimo, produção vinculada à demanda, produção enxuta, gestão participativa, etc. (Antunes, 1995)

Nesse sentido, o que percebe- se é que o modelo de produção ate então vigente - taylorismo/fordismo – já não era suficiente para dar respostas às demandas do grande capital e principalmente a necessidade de consumo da população, sendo necessário uma nova forma de produção. No entanto, cabe salientar que o toyotismo só foi possível devido o desenvolvimento das tecnologias de informação, e a introdução de equipamentos cada vez mais sofisticados que potencializam a produção.

Diante dessa conjuntura, a flexibilização pode ser considerada um fenômeno central neste processo uma vez que, conforme Andrade:

O capitalismo flexível, que emergiu como resposta à crise estrutural do capital e do sistema taylorista/fordista, se afirma pela prática da retirada de capitais do setor produtivo e seu investimento no mercado financeiro, pela associação à informatização, pela enorme redução da mão de obra empregada, que fez aumentar o exército de reserva, além da retirada sistemática de direitos. (ANDRADE, 2008).

Dias (1997) faz uma importante anotação sobre o significado da reestruturação produtiva.

Partimos da premissa segundo a qual todo o processo conhecido como reestruturação produtiva nada mais é do que a permanente necessidade de resposta do Capital as suas crises. Para fazer-lhes frente é absolutamente vital ao Capital – e aos capitalistas – redesenhar não apenas sua estruturação “econômica” mas, e sobretudo, reconstruir permanentemente a relação entre as formas mercantis e o aparato estatal que lhe dá coerência e sustentação. Assim, o momento atual da subsunção real do trabalho ao capital – conhecido ideologicamente como III Revolução Industrial – exige modificação das regras da sociabilidade capitalista, modificação essa necessária para fazer frente à tendência decrescente da taxa de lucro. (Dias, 2005, p.1997)

No âmbito do Estado, as alterações vão resultar na implantação da lógica neoliberal. Segundo Netto e Braz, o neoliberalismo consistiu numa estratégia do grande capital que

[...] fomentou e patrocinou a divulgação maciça do conjunto ideológico que se difundiu sob a designação do neoliberalismo [...]. O que se pode denominar de ideologia neoliberal compreende uma concepção de homem (considerado atomisticamente como possessivo, competitivo e calculista), uma concepção de sociedade (tomada como um agregado fortuito, meio de o indivíduo realizar seus propósitos privados) fundada na idéia da natural e necessária desigualdade entre os homens e uma noção rasteira da liberdade (vista como função da liberdade de mercado). (Netto e Braz 2006, p. 226)

No que tange o mundo do trabalho, agora pautado no modelo toyotista, vai exigir um trabalhador polivalente, que necessitará se especializar cada vez mais para não ficar fora do mercado de trabalho. Este deve ser agora pautado de habilidades, ter a capacidade de realizar múltiplas funções no mesmo cargo. Agora no deparamos com aqueles qualificados que trabalham intelectualmente e os menos qualificados que realizam trabalhos braçais. Além disso, nos deparamos também com as modalidades de trabalho, os formais e informais. A classe trabalhadora, portanto fragmentou-se e tornou- se mais complexa.

Desta forma, do trabalhador espera-se que se torne um colaborador multifuncional, flexível e disponível, isto é:

O redimensionamento do processo de trabalho

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