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O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

Por:   •  24/10/2018  •  1.836 Palavras (8 Páginas)  •  402 Visualizações

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processo de industrialização pesada se inicia no Brasil nos anos de 1950, no governo de JK. O estado passa a ter uma maior intervenção regulando as interações econômicas, favorecendo as empresas privadas, e a entrada do capital internacional. Como explica a citação que segue:

[...] o parque industrial brasileiro cresceu de modo significativo, especialmente no setor automobilístico. Esse crescimento baseou-se numa deliberada política de concessão de extremas facilidades para o capital estrangeiro, no que diz respeito à sua instalação no país e também a remessa de lucros. As principais consequências disso, segundo Possas (1988), foram de um lado, o aumento sem precedentes da presença de corporações internacionais no país e, de outro, o fato dessa presença aparecer nitidamente como condicionante indispensável para a expansão da econômica do período. (SANTOS, 2012, p. 146)

Porém, Santos (2012) salienta que só é possível analisar a relação capital e trabalho no pós 64, pois, a industrialização pesada estabelece algumas características ao regime de trabalho no Brasil. Nesse período será possível analisar o desemprego como principal expressão da “questão social”. E é nesse contexto que aumentam as demandas de intervenção pelos assistentes sociais.

À proporção que a demanda por assistentes sociais aumenta, faz-se necessária uma renovação: da própria prática profissional; na formação profissional - a reforma em 1968 muda a universidade, e determina que o curso de Serviço Social deva se inserir no espaço universitário que desenvolviam, além do ensino, pesquisa e extensão, a fim de dialogar com outras ciências sociais e não aceitando mais faculdades isoladas -; a organização da categoria passa a ser mais fortalecida; se exige assistentes sociais nas instituições que se modificaram nesse contexto.

Não só as organizações profissionais como também o movimento estudantil nessa época teve um papel muito importante. Nos referenciais teóricos, culturais e ideológicos, houve incorporações de outras ciências e outras linhas teóricas - entre elas a fenomenologia -, porém não alterou necessariamente o assistente social para uma visão crítica. Nos termos de Netto, se por um lado houve uma reatualização do conservadorismo, com perspectiva de fortalecê-lo alterando apenas os elementos, por outro lado, será também questionado numa intenção de ruptura.

Nessa época o serviço social estava focalizado no serviço social de casos individuais e no serviço social de grupo. Entretanto já estava sendo inserida uma nova técnica de abordagem, o desenvolvimento de comunidade. O profissional em questão passou por algumas dificuldades para se habituar a esses novos desafios, pois, essa conjuntura exigia uma visão teórica e metodológica para problemáticas macrossociais, diferentemente da prática comum do assistente social. Porém, essa nova abordagem foi significativa para que o assistente social percebesse - em face da demanda massiva da questão social-, que os métodos de intervenção até aquele momento eram tradicionalistas e conservadores, e se questionaram se realmente estavam contribuindo para a superação do subdesenvolvimento. Como pontua Netto (2005, p.09):

[...] Para além dos condicionalismos que, em todo o mundo, eram próprios dos anos de 1960, entre nós, latino-americanos, esta questão era formulada sob condições muito determinadas: a inserção de nossos países na nova divisão internacional do trabalho que então emergia; o colapso em nossos países, dos pactos políticos que vinham do pós-guerra; o surgimento de novos sujeitos políticos; o impacto da Revolução Cubana; o anêmico reformismo tipo Aliança para o Progresso. Neste marco, assistentes sociais inquietos e dispostos a renovação, indagaram-se sobre o papel da profissão em face de expressões concretamente situadas da “questão social”, sobre a adequação dos procedimentos profissionais tradicionais em face das nossas realidades regionais e nacionais, sobre a eficácia das ações profissionais, sobre a pertinência de seus fundamentos pretensamente teóricos e sobre o relacionamento da profissão com os novos protagonistas que surgiam na cena político-social.

Essa nova percepção do serviço social foi fortalecida pela união de alguns assistentes sociais, que tinham ideais diversificados: por um lado investia num “aggiornamento” do Serviço Social e almejava reatualizar o Serviço Social tradicional; e por outro, buscava uma ruptura com o passado profissional e elaborar o Serviço Social voltado para a América Latina. Entretanto, a união formada em face ao movimento de reconceituação do Serviço Social latino-americano foi interrompida pela ditadura implantada no continente.

[...] primeiro no Brasil e, em seguida, em todo Cone do sul (espaço privilegiado de irradiações e propostas renovadoras), as ditaduras patrocinadas pelos Estados Unidos e a serviço das oligarquias derrotaram todas as alternativas democráticas, reformistas e revolucionárias. Em meados dos anos de 1970, a renovação profissional materializada na reconceituação viu-se congelada: seu processo não decorreu por mais de uma década. E seu ocaso não deveu a qualquer esgotamento ou exaurimento imanente; antes, foi produto da brutal repressão que então se abateu sobre o pensamento crítico latino-americano –não por acaso, muitos dos protagonistas da Reconceituação experimentaram o cárcere, a tortura, a clandestinidade, o exílio e alguns engrossaram as listas dos “desaparecidos” nas ditaduras. (NETTO, 2005, p. 10).

Esse movimento trouxe para os assistentes sociais a identificação político-ideológica da existência de duas classes sociais antagônicas – dominantes e dominados -, questionando, portanto, a neutralidade, que historicamente tinha orientado a profissão. Esta nova concepção abriu na categoria um leque de possibilidades de articulação profissional, dando início ao debate coletivo sobre a dimensão política da profissão. A participação política e social do assistente social fez-se de suma importância para que houvesse uma mudança na sociedade e também no sistema de dominação.

4. Conquistas e equívocos do Movimento

Como qualquer movimento, a Reconceituação traz consigo seus “prós e contras” que desde então, integram-se na dinâmica profissional de nossos países. Netto (2005) pontua algumas das principais conquistas do movimento de reconceituação: uma articulação da profissão a nível latino americano, realizada de forma autônoma, sem a tutela dos Estados Unidos; a interlocução das ciências sociais, baseada na crítica ao tradicionalismo, incorporando-se ao marxismo; a instituição

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