A perspectiva Endogenista e Histórico-Crítica
Por: Carolina234 • 18/6/2018 • 1.843 Palavras (8 Páginas) • 738 Visualizações
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O termo endogenista remete a ideia de que a profissão só é vista a partir de si mesma, dessa forma, não se considera a história da sociedade nem a luta das classes, pois há um enfoque particularista, em que o Serviço Social acontece apenas por uma opção pessoal dos filantropos em se profissionalizar.
2. A PERSPECTIVA HISTÓRICO-CRÍTICA
A perspectiva histórico-crítica, em oposição a endogenista, traz que o Serviço Social é fruto das relações sociais, dos projetos político-econômicos atrelados ao desenvolvimento histórico que se reproduzem de forma material e ideológica, favorecendo o sistema capitalista, em que o Estado assume a responsabilidade pelas respostas à questão social.
Dentro desta tese, o assistente social possui papel político e sua função não se explica por si mesma, mas sim pela posição que ocupa enquanto profissional atuante.
Os principais autores que a defendem são: Marilda Villela Iamamoto, José Paulo Netto, Manuel Manrique Castro, Maria Lúcia Martinelli, Vicente de Paula Faleiros e Mota.
- Marilda Villela Iamamoto (1992) - com sua tese pioneira, procura demonstrar que o Serviço Social tem um papel a cumprir dentro da sociedade capitalista e da economia, participando tanto da reprodução da força de trabalho e das relações sociais quanto da ideologia dominante (relação entre classes), o que possibilita compreender que a profissão é um "produto histórico" e não simplesmente um assistencialismo não relacionado a um contexto social, dependendo assim da dinâmica de relações entre as classes e o Estado, ligadas ao enfrentamento da questão social a partir da implementação das políticas sociais. Para a autora, o profissional do Serviço Social é demandado porque possui, além do caráter técnico-especializado, a capacidade de educar, moralizar e disciplinar, atuando no campo político.
- José Paulo Netto (1992) - entende que a profissionalização do Serviço Social ocorre porque ele se vincula à dinâmica da ordem monopólica e pela ruptura com a continuidade evolutiva das formas de ajuda, ou seja, está atrelado aos processos econômicos, políticos, etc., que ocorrem na ordem burguesa e que tem como pretensão a manutenção desse sistema para assim legitimá-lo perante as necessidades da população e o aumento da acumulação do capital, e somente quando se separa das formas anteriores de ajuda vem a se tornar profissão. Para ele, a questão social dá a base para o surgimento do Serviço Social quando ela se relaciona com o Estado, e não o determina enquanto profissão, sendo o assistente social o executor das políticas sociais.
- Manuel Manrique Castro (1993) - pensa a origem do Serviço Social latino-americano não como sendo uma reprodução do europeu, e sim como um produto histórico advindo das relações sociais e da divisão do trabalho, focando nas forças que competem na sua gênese e não em quem participou dela, para assim compreender a função do Serviço Social perante todas essas relações.
- Maria Lúcia Martinelli (1991) - segue um caminho diferente, entendendo o surgimento do Serviço Social na Europa e Estados Unidos ligado a uma intenção de controlar e dar a ilusão de servir, que parte da burguesia, aliada ao Estado e à Igreja Católica, a partir de um projeto de poder. Ela considera, então, que a profissão nasce com funções políticas determinadas à manutenção da ordem social encoberta de filantropia, e pontua que, para que a burguesia possa enfrentar a questão social para obter o controle desejado por sobre a classe trabalhadora, há duas tarefas distintas que precisam ser realizadas: reorganizar a assistência e propor políticas e implementar medidas legislativas.
- Vicente de Paula Faleiros (1990) - nega que o Serviço Social tenha existido enquanto profissão anteriormente ao século XX na América Latina. Para ele, o não reconhecimento dos problemas provenientes do modo de produção capitalista é o que fundamenta o Serviço Social. Assim, a profissão atua buscando atenuar esses antagonismos.
- Mota (1991) - a partir de determinado momento, a questão social passa a ser assumida também no campo empresarial, em que o capitalista precisa agora dar assistência aos seus funcionários, de modo que, no fim das contas, sua produtividade aumente e sua força de trabalho reduza em valor, o que garante maior lucro à empresa. Dessa forma, o assistente social é solicitado pelos empregadores na intenção de executar políticas assistenciais que visem solucionar questões da vida pessoal do trabalhador, ao mesmo tempo que se percebe que tais problemas partem da relação do trabalhador com a empresa, o que foge da órbita de responsabilidade do assistente social e o faz agir como conciliador e apaziguador de interesses entre empregador e empregado, indo até seu ambiente familiar.
Pode-se concluir que, na perspectiva histórico-crítica, ocorre uma visão totalizante, que vê o nascimento da profissão associado e determinado no contexto capitalista, em que se analisa atores sociais coletivos, fugindo à visão particularista da tese anterior.
Aqui, o marco do surgimento do Serviço Social é o resultado das lutas de classes dentro do capitalismo monopolista, e advém, também, de uma estratégia do capital, a fim de reverter a crise que cresce desde o fim do século XIX.
Nesta perspectiva, então, o Serviço Social surge como uma profissão em que sua função na sociedade está associada à execução das políticas sociais segmentadas (de acordo com cada recorte da realidade que necessitam de respostas pontuais), cujo campo privilegiado de trabalho é o Estado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela observação dos aspectos analisados em ambas as teses (endogenista e histórico-crítica), conclui-se que elas divergem uma da outra pois enquanto a primeira afirma que o Serviço Social provém da profissionalização dos antigos métodos de assistencialismo, a segunda compreende que ocorre, na realidade, uma ruptura em relação a essas formas de ajuda e que só a partir dai ocorre o surgimento da profissão.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MONTANO, Carlos.
A Natureza do Serviço Social
São Paulo: Cortez Editora, 2011.
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