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Uma Visão Libertadora da EJA

Por:   •  24/4/2018  •  7.431 Palavras (30 Páginas)  •  303 Visualizações

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Freire aprendeu a ler no quintal de sua casa com o incentivo do pai e principalmente da mãe, que escrevia palavras e frases que eles costumavam usar cotidianamente, com a utilização de gravetos, um fato que pode ter influenciado em sua proposta de ensinar utilizando palavras significativas.

A renda de seu pai era baixa e na casa onde morava, viviam além de Paulo outros três irmãos, seus pais e sua avó que recebia ajuda financeira de seu outro filho, chamado Clodoválio, que era comerciante bem sucedido. Quando a Bolsa de Nova Iorque (NYSE) quebrou em 1929 causando grande depressão mundial, seu tio Clodoválio foi à falência, impossibilitando a continuidade da ajuda financeira a família.

Joaquim decide então mudar-se para Jaboatão, abriu uma pequena venda e fazendo diversas viagens, a fim de aumentar a variedade de produtos a serem vendidos. Porem como estavam em uma época de crise, quase nada se vendia.

Aos treze anos de idade Paulo Freire perde o pai, e para dar continuidade em seus estudos fez o “primário” em uma escola particular chamada “Escola Eunice Vasconcelos”. Nesta época havia poucas escolas secundárias oficiais em Jaboatão, e as que tinham não possuíam qualidade. Freire fez o primeiro ano do ensino secundário na escola “14 de Julho” que funcionava no bairro São José em Recife, porem ela não possuía licença de funcionamento e ao termino desse ano sua mãe não tinha mais condições de pagar seus estudos, como se descreve o trecho a seguir:

“Eu consegui fazer, Deus sabe como, o primeiro ano de ginásio com 16 anos. Idade com que os meus colegas de geração, cujos pais tinham dinheiro, já estavam entrando na faculdade. Fiz esse primeiro ano de ginásio num desses colégios privados, em Recife; em Jaboatão só hávia escola primária. Mas minha mãe não tinha condições de continuar pagando a mensalidade e, então, foi uma verdadeira maratona para conseguir um colégio que me recebesse com uma bolsade estudos. Finalmente ela encontrou o Colégio Osvaldo Cruz e o dono desse co légio,Aluízio Araújo, que fora antes seminarista, casado com uma senhora extraordinária, a quem eu quero um imenso bem, resolveu atender o pedido de minha mãe.” (In: Revista Ensaio, nº 14, 1985, p. 5.)

Edeltrudes e sua família viviam da pequena pensão que recebia, e de bordados que fazia em enxovais, e como a situação financeira de sua família não estava favorável, começou a fazer viagens a Recife com o intuito de conseguir bolsa de estudos para que Paulo Freire pudesse dar continuidade a seus estudos. Depois de muitas tentativas conseguiu uma oportunidade com o Diretor do Colégio Osvaldo Cruz, Doutor Aluizio, homem de bom coração, que não negava estudo as pessoas que lhe pediam.

No final de seus dezesseis anos Paulo Freire foi estudar no Colégio Osvaldo Cruz, onde terminou seus estudos e tornou-se professor, lecionando nesse mesmo colégio. Formou-se em Direito em Recife, porém não continua com a carreira de advogado. Casou-se em 1944 com a professora primária Elza Maria Costa, com a qual teve 5 filhos.

Em 1947 foi convidado para trabalhar no SESI, criado na ditadura de Vargas, começando como assistente e logo depois passando a Diretor de Educação e Cultura. É através deste trabalho que Paulo Freire começa a ter contato com o povo, escutando-o e formulando sua Teoria de Conhecimento.

Em julho de 1958, foi convocado por Juscelino Kubitscheck o II Congresso Nacional de Educação de Jovens e Adultos, com o intuito de avaliar como estava ocorrendo o processo de educação de jovens e adultos. Diversos relatórios foram lidos contendo informações desanimadoras que mencionavam o cansaço dos alunos, a falta de preparação dos professores, e o desinteresse dos alfabetizandos.

Paulo Freire com seu pequeno relatório nas mãos diz as palavras descritas no pequeno trecho que se segue:

“A Educação de Jovens e Adultos deve fundamentar-se na consciência da realidade cotidiana. Não no conhecer letras, palavrasou frases..., o pro- cesso de alfabetização não pode se dar sobre, nem para o educando, ele tem que se dar com o educando. Há que se estimular nele a colaboração, a decisão, a participação e a responsabilidade social e política. Não, oaluno deve conhecer-se enquanto sujeito e conhecer os problemas que o aflige no dia-adia.Portanto, o aluno deve programar em parte o que num período ele quer aprender. E aprender não se aprende. Não é uma educação bancária. Não se aprende tentando depositar numa cabeça vazia uma porção de conhe- cimento. Conhecer é um ato que é apren-di-do existencialmente, na exis- tência, no cotidiano, pelo conhecimento local.” (In: Paulo Freire: sua vida, sua obra, p.10)

Com essas palavras Paulo Freire demonstrou consideração e apreço pelo povo, apontando uma proposta diferente da que se utilizava. Para Moura (2005) marcava-se dessa forma o início de um novo período na educação de adultos. Aquele que se caracteriza pela intensa busca de maior preocupação metodológica e de inovações importantes nesse campo; pelo destaque da reflexão sobre o social no pensamento pedagógico brasileiro e pelos esforços realizados pelos mais diversos grupos, em favor da educação da população adulta para a participação na vida política do país. No entanto, nada se fez para que medidas concretas acontecessem em favor de uma nova lógica para a educação de adultos.

De 1961 a 1964 Paulo Freire participou de uma expedição pelo Brasil, a convite do diretor nacional do SESI, onde pôde divulgar seu trabalho e conhecer Anísio Teixeira, que tornou-se Secretário da Educação da Bahia. Nesse período Freire foi convidado pelo governador Miguel Arraes para se tornar Membro do Conselho Estadual da Educação.

Entre janeiro e março de 1963 na cidade de Angicos, Rio Grande do Norte, Paulo Freire realiza um de seus feitos mais marcantes, alfabetizando 300 trabalhadores rurais em 45 dias, sendo convidado a coordenar o Programa Nacional de Alfabetização que pretendia alfabetizar cerca de cinco milhões de adultos de culturas diferentes.

O Programa coordenado por Paulo Freire foi interrompido e suspenso pelo golpe militar deflagrado em 31de março de 1964. Acusado de subversão, foi preso, permanecendo 72 dias recluso. Em setembro do mesmo ano, Freire sai do país rumo a Bolívia e depois para o Chile, onde continua seu trabalho em prol dos menos favorecidos trabalhando no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Foi neste período que escreveu Pedagogia do Oprimido.

Permaneceu em terras chilenas até abril de 1969, quando foi convidado para lecionar na Universidade de Harvard (EUA),

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