Quem Conta Encanta: A Magia dos Contos de Fadas na Creche
Por: YdecRupolo • 28/5/2018 • 5.387 Palavras (22 Páginas) • 440 Visualizações
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Os enredos literários das histórias podem servir ao indivíduo desde a mais tenra idade ao oferecer bases culturais que ajudem na compreensão de aspectos sociais (mundo adulto) e pessoais (sentimentos e desejos), atuando diretamente com o consciente e o inconsciente infantil, e destacando que o trabalho realizado com as histórias narradas ou lidas promove a apreensão de aprendizagens relacionadas à linguagem oral e escrita.
A proposta em si definida pelos professores da instituição é buscar fundamentação teórica para a realização da atividade permanente de contação e leitura de Contos de Fadas, direcionando o foco de estudos para a compreensão do papel histórico e social dessas narrativas na educação e formação das crianças.
DESENVOLVIMENTO
1 – Adequação dos Contos de Fadas ao Universo Literário Infantil
A necessidade de narrar acontecimentos não é fato recente, desde os primórdios da humanidade o homem percebeu sua importância, a fim de expressar situações que ainda não compreendia e melhor lidar com seus medos e anseios de forma simples. Para Fonseca (2012):
E ainda é assim, narramos para não termos medo da violência, dos desafios, dos mistérios, dos ciclos de desenvolvimento da vida, das partidas dos novos encontros, do envelhecimento, do parto, do nascimento, do casamento, do rompimento, das descobertas, do que fazemos com as descobertas, do que destruímos com as descobertas. Narramos para compreender a vida, para guardar na memória, para deixar gravado, para nos entendermos mais e melhor, para sonhar, para nos mantermos vivos para vir a ser.
Foi assim que os Contos de Fadas surgiram: da necessidade do homem de compreender a si e aos outros, de entender o mundo e a existência.
Para Dornelles (2014), a origem dos Contos de Fadas não tem uma época seguramente definida. Criar, narrar e ouvir contos fazia parte das atividades diárias dos povos da antiguidade, tais histórias tinham grande influência sobre o imaginário popular. Esse costume era transferido de pai para filho, que tinham o hábito de contar as histórias nos períodos de descanso em meio à lavoura, nos quintais, às refeições.
Os Contos de Fadas originais eram narrativas permeadas por metáforas, fantasias e simbolismos, e traduziam de forma bem realista os acontecimentos de uma época que era marcada por uma existência sofredora, com problemas que assolavam e maltratavam a sociedade como a carência de conceitos básicos de serviços de higiene e saúde que garantissem a sobrevivência e o bem estar de todos, e as atitudes do homem medieval, com suas angústias, vivências, conflitos, alegrias e sentimentos, como também a forma como a sociedade acreditava no poder do sobrenatural e a partir dele procurava explicações que amenizassem o sofrimento pelo qual as pessoas passavam.
Inicialmente os enredos dos contos mais populares não tinham a preocupação de amenizar a realidade, pois no contexto social da época o sentimento de infância era negligenciado. Conforme destaca Dornelles, “A ausência do reconhecimento social da infância fez com que a literatura não considerasse o público infantil. Meninos e meninas tinham acesso apenas aos textos orais e escritos dirigidos aos adultos”.
Foi durante o século XVII, que os contos orais mais tradicionais passaram a ser modificados pelas mães e cuidadores das crianças, que começaram a recitar as histórias de acordo com a compreensão infantil, mas sem deixar que os personagens perdessem suas características fundamentais. Até então não havia reconhecimento da infância, as crianças eram tidas como adultos em miniatura e participavam da vida social de forma intensa, principalmente no trabalho e nas festividades. Essa mudança começou a ocorrer devido às alterações no comportamento social, quando o olhar da sociedade começou a se voltar pra infância como uma fase primordial do desenvolvimento humano e com a preocupação na educação dos filhos. Segundo Ariès (1981):
O primeiro sentimento da infância – caracterizado pela “paparicação” – surgiu no meio familiar, na companhia das criancinhas pequenas. O segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior a família: dos eclesiásticos ou dos homens da lei, raros até o século XVI, e de um maior número de moralistas no século XVII, preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes. Esses moralistas haviam-se tornado sensíveis ao fenômeno outrora negligenciado da infância, mas recusavam-se a considerar as crianças como brinquedos encantadores, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus que era preciso ao mesmo tempo preservar e disciplinar. Esse sentimento, por sua vez, passou para a vida familiar. (p.104)
Percebe-se que aos poucos, a partir da busca pela definição de um conceito de infância e sua desvinculação da fase adulta, houve uma preocupação com os contextos das histórias oferecidas e destinadas as crianças, principalmente com os contos, que foram ganhando espaço no universo infantil, e enriqueceram os gêneros literários, sempre com a função de educar e instruir. Foi assim que as histórias maravilhosas foram adaptadas das versões de mitos e contos fantásticos para divertir e precaver as crianças de possíveis perigos de forma prazerosa, intensa e muitas vezes aterrorizante.
As novas versões das histórias ganharam a empatia da sociedade, não apenas das crianças como também dos adultos, trouxeram novas expectativas aos seus ouvintes agregando formas de lidar com medos e anseios pessoais e/ou sociais e a possibilidade de triunfar como era dado aos heróis, princesas, reis e rainhas. A possibilidade de brincar e modificar a realidade através do fantástico atraía e encantava os espectadores, pois os medos que as personagens enfrentavam eram reais, passando a ser considerados como universais.
Num ambiente tão rico em mitos, crenças e fantasias, as narrativas orais marcadas por descrições violentas e amedrontadoras ganharam adaptações por intermédio da escrita, as quais as infundiram o caráter lúdico amenizando tramas um tanto quanto desoladoras ao universo inexperiente e inocente da infância.
Abramovich (1989) destaca alguns autores que foram consagrados nesse período com as adaptações dos contos. Os mais conhecidos são: Charles Perrault (1628 – 1703) que adaptou contos como “A Bela Adormecida” e “Chapeuzinho Vermelho”; La Fontaine (1621-1695) escreveu algumas fábulas como “A Cigarra e a Formiga”; os irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), publicaram a “A Bela e a Fera”, “João e Maria”,
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