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ATELIÊ DE CONTOS: OS CONTOS DE FADAS COMO INSTRUMENTO DE SIMBOLIZAÇÃO E SUBJETIVAÇÃO EM CRIANÇAS

Por:   •  10/10/2018  •  Artigo  •  6.723 Palavras (27 Páginas)  •  307 Visualizações

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ATELIÊ DE CONTOS: OS CONTOS DE FADAS COMO INSTRUMENTO DE SIMBOLIZAÇÃO E SUBJETIVAÇÃO EM CRIANÇAS[1]

Bruna Milena Beck Machado[2]

Lutierre Nolasco da Silva[3]

José Vicente Nunes de Alcântara[4]

RESUMO

O trabalho objetiva-se a apresentar os dados e experiência vivenciada durante o estágio básico de grupos, através de uma oficina denominada Ateliê de Contos. O Ateliê buscou trabalhar a subjetividade infantil, as questões inconscientes e a compreensão da criança no que diz respeito a sua existência e sua significação para um mundo externo. Este estudo é fundamentado na teoria psicanalítica e baseou-se no trabalho de Celso Gutfreind (2003) como estratégia metodológica, e tem como referência bibliográfica norteadora A psicanálise dos contos de fadas de Bruno Bettelheim (2001), Fadas no Divã de Diana e Mario Corso (2006).

Palavras-chave: Ateliê de Contos. Subjetividade Infantil. Teoria Psicanalítica.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva-se a apresentar os dados e experiência vivenciada durante o estágio básico de grupos, fundamentado pela teoria psicanalítica, onde a proposta de trabalho consistia em levar aos alunos do terceiro ano do ensino fundamental, contos de fadas clássicos, através de uma oficina denominada Ateliê de Contos.

O Ateliê busca trabalhar a subjetividade infantil, as questões inconscientes e a compreensão da criança no que diz respeito a sua existência e sua significação para um mundo externo, tendo os contos como instrumento, [5]possibilitando para a criança uma atuação dos conflitos que lhe são inconscientes e a preparam para uma atuação de conflitos conscientes quando lhe surgirem na vida adulta.

Desde os primórdios de nossa civilização, os contos de fadas são usados como forma de interação com as crianças, onde a fantasia destes contos é fundamental para o desenvolvimento infantil do sujeito, sendo que estes despertam sentimentos, emoções, medos, desejos e anseios, advindos dos conflitos que fazem parte de seu desenvolvimento psíquico e, também, aprendem (não necessariamente de uma forma consciente) a lidar com esses conflitos e questões subjetivas.

Os contos trazem em seus enredos, de uma forma lúdica, sentimentos comuns a todos (ódio, ciúmes, rejeição, inveja, etc.), que para a criança só são possíveis de serem vivenciados e compreendidos, através da leveza simbólica advindas das emoções transmitidas e fantasias dos contos infantis. A criança, quando em conexão com o conto, explora esses sentimentos geradores de inquietude emocional, transformando-se em personagens dessas histórias, onde sua capacidade da fantasia se desenvolve e a permite atuar como um lobo, um caçador, um príncipe, um herói ou bandido. É quando a criança desenvolve essa capacidade de atuação que o mundo imaginário passa a ser para ela uma maneira de manifestar seus sentimentos que na vida real ela não poderia elaborar devido os enigmas que muitas vezes lhe são apresentados. O fantasiar facilita sua compreensão e desenvolve sua subjetividade.

O conto de fadas é a cartilha onde a criança aprende a ler sua mente na linguagem das imagens, a única linguagem que permite a compreensão antes de conseguirmos a maturidade intelectual. A criança precisa ser exposta a essa linguagem, e deve aprender a prestar atenção a ela, se deseja chegar a dominar sua alma (Bettelheim, 2001, p. 197).

As crianças que tem o privilégio de se desenvolver na infância com a escuta de contos de fadas conseguem elaborar de maneira mais simbólica e dar sentido aos significados de sua existência quando adulto. É dessa maneira que a criança obtém o que se pode ter de melhor dos dois mundos do simbólico e do real e isso é essencial para que possa se transformar em um adulto seguro.

O estágio foi realizado em uma escola municipal de tempo integral (manhã e tarde), localizada na cidade de Santo Ângelo, RS. Trabalhamos com em média dezoito crianças, sendo esses meninos e meninas, com idade entre 8 a 10 anos, alunos do terceiro ano do ensino fundamental. Em sua maioria são crianças em condições sociais desfavoráveis. A turma em questão tem uma imagem muito negativa e considerada por professores, como alunos difíceis de lidar, por conta de sua agressividade e agitação. Essa visão de turma problema é do conhecimento das crianças, motivo que acaba levando-os muitas vezes a brigar entre eles. A agressividade esteve presente em todos nossos encontros com o grupo, dificultando e até inviabilizando muitas das atividades propostas a eles.

São crianças muito sensíveis e criativas, apesar das dificuldades, no geral, conseguimos realizar com eles as tarefas pertinentes ao Ateliê, tarefas que veremos mais adiante neste trabalho. Nosso modo, digamos ‘’diferente’’, de interagir com eles, pois não temos um feeling pedagógico (nem cabia a nos ter), fez com que criássemos junto das crianças do grupo, um setting muito bacana, nos sentimos muito próximos a eles. Instaurou-se no grupo um sentimento de confiança muito forte. Sentiam-se seguros em nos trazer aspectos de suas vidas, compartilhar sentimentos. Expressar carinho e empatia.

ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

Este trabalho decorrente ao estágio básico de grupos, fundamentado na teoria psicanalítica, baseou-se e seguiu a metodologia proposta e trabalhada no Ateliê de Contos, tendo como referência bibliográfica norteadora A psicanálise dos contos de fadas de Bruno Bettelheim (2001), Fadas no Divã de Diana e Mario Corso (2006) e O terapeuta e o lobo de Celso Gutfreind (2003).

O Ateliê objetiva-se a favorecer o desenvolvimento da subjetividade e da capacidade de simbolização da criança, utilizando como suporte os elementos contidos nos contos de fadas, logo, caracteriza-se como um enquadre para a utilização de contos infantis como mediador de intervenções psicológicas (no âmbito terapêutico, psicopedagógico ou como atividade lúdica) criando um espaço para que a criança possa trabalhar na elaboração das ansiedades inerentes aos seus processos de desenvolvimento.

Gutfreind (2003) propôs um modelo de trabalho no qual o autor apresenta uma metodologia própria: inicialmente a história é contada; após um espaço para o desenho; para representação dramática da história e discussão sobre o conto. O autor deixa claro que não existe uma única forma de trabalhar, com isso, nossa proposta de trabalho se deu em três momentos e da seguinte forma: Contar a história oralmente (sem recursos); realização do desenho livre e inquérito do mesmo; brincar livre ou atividade estruturada proposta.

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