PROJETO DE ESTÁGIO DE LÍNGUA PORTUGUESA – GOSTO DE ÁFRICA
Por: Ednelso245 • 13/12/2018 • 2.359 Palavras (10 Páginas) • 329 Visualizações
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Nós iremos usar como fundamentação teórica o conceito de autoria tal qual exposto pela análise do discurso de filiação francesa através de textos apresentados na disciplina de metodologia do ensino em língua portuguesa. Segundo Tfouni (2001 apud PACÍFICO, 2008), assumir a posição de autor é saber controlar os sentidos e a incoerência de um texto por meio de elementos que promovam a sua coesão. Para tanto, a autora pontua que é necessário ao indivíduo levar em consideração os aspectos dialógicos da linguagem – o leitor, a ideologia e o interdiscurso. Em trabalho sobre os papeis de autor e leitor no jogo discursivo, Pacífico (2008, p. 238) afirma que “(...) toda atividade de linguagem deve pressupor o dialogismo”, elemento este que, segundo Bakhtin (1979, p. 238), é responsável por sustentar todo discurso. Tfouni (1995), afirma ainda que o processo de autoria se relaciona com a noção de sujeito do discurso, em que o autor trabalha no intradiscurso, e o sujeito no interdiscurso, sendo estes dois processos considerados inseparáveis.
Tendo em vista nossa percepção durante as observações, a escola muitas vezes assume que as crianças não consigam ser autoras de seus próprios textos, pois, podem conceituar que são nulas de conhecimentos prévios ou incapazes desse movimento de autoria efetivamente para escrever e construir o pensamento em si e para si. A proposta que nos compreende é de atividades em que todos tenham participação ativa e que possam exercer autoria, inclusive, por meio dos conhecimentos advindos da memória discursiva que cabe a cada aluno. Sempre levando em consideração os diversos sentidos que podem surgir a partir da interpretação, concepção de mundo, ideologias, experiências e fatores internos e externos que o permeiam. Cabe ressaltar que, sob o olhar da análise do discurso que utilizamos, interpretação não significa atribuir um sentido único, os sentidos mudam de acordo com a posição que ocupam aqueles que interpretam. Segundo Orlando (1988) aprender a ser autor é assumir um papel social na relação com a linguagem, inserir-se na cultura e posicionar- se no contexto histórico-social. Assim, tendo por base prática a reflexão e o trabalho com a multiplicidade de sentidos que envolvem os objetos discursivos trabalhados, possibilitando a assunção da autoria. Assim sendo, nossa intencionalidade pedagógica não é a de apenas apresentar textos para as crianças, não queremos que nosso objeto de estudo seja preso as palavras, mas que possam constituir-se com os textos, que os sujeitos e sentidos possam andar juntos (ORLANDI, 2003).
Com o conceito de autoria proposto por Pacífico juntamente com a nossa proposta em trabalhar alguns aspectos culturais Africanos, enaltecendo claramente a lei 10.639 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, que diz:
“Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.”
Entendemos assim que, a escola, enquanto instituição social responsável por assegurar o direito à educação a todo e qualquer cidadão, deve se posicionar politicamente, contra toda e qualquer forma de discriminação. A luta pela superação do racismo e discriminação racial é tarefa de todo e qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou qualquer posição política. Pretendemos, então, proporcionar as crianças momentos de acesso ao discurso polêmico, possibilitando que deixem as posições-sujeito que estão presentes no discurso autoritário e assumam sua posição-autor, provocando momentos de reflexão e crítica para a assunção de sua autoria.
4. Metodologia
Primeiro Momento
Leitura do livro dos contos “Amigos, mas não para sempre” e “O Jabuti de asas” presentes no livro “Contos Africanos para crianças brasileiras” de Rogerio Andrade Barbosa.
Os contos pertencem a literatura oral de Uganda e tratam de temas conhecidos e universais, mas com características plenas de Africanidade. O primeiro relata a eterna luta entre gato e rato e o segundo o porquê de os jabutis terem os cascos rachados. De forma simples, podemos possibilitar que as crianças entendam um pouco mais sobre a pluralidade e diversidade cultural presente em nosso país.
- Leitura do livro: será realizada fora da sala de aula, em um espaço já utilizado nas rodas de conversa, em formato de roda. Partindo da nossa observação de que a maior parte da turma não é alfabetizada totalmente, mas todas as crianças são letradas – pois possuem uma leitura do mundo – primeiramente faremos uma leitura visual do livro, instigando a interpretação dos alunos, a partir das imagens. Em seguida à partilha das impressões, advindas das ilustrações, realizaremos a leitura do texto escrito.
- Conversa sobre livro: Faremos uma discussão questionando se as crianças já conheciam aqueles contos, quais versões conheciam, as impressões que tiveram durante a leitura. De que forma o autor dialoga a disposição do signo e do significante e o porquê. Após, com nosso auxílio, os alunos irão construir um texto coletivo autoral, contando uma nova história, fazendo a versão deles sobre um dos temas escolhido por votação. O texto produzido será afixado à parede da sala de forma que sempre possam visualizar e reler sua criação.
- Materiais: Papel Pardo, Canetinhas e o livro.
Segundo Momento
Textos Poéticos
“Poesia é também imagem e som. As palavras são signos que expressam emoções, sensações, ideias... através de imagens (símbolos, metáforas, alegorias...) e de sonoridade e (rimas,ritmos...). É esse jogo de palavras, o principal fator da atração que as crianças tem pela poesia, transformando em canto ( as cantigas de ninar, cantigas de roda...). Ou pela poesia ouvida ou lida em voz alta, que lhes provoque emoções, sensações, impressões, numa interação lúdica e gratificante”. (NOVAES, 2002, p.222)
Tomando por base a citação de Novaes, acreditamos que trabalhar um texto poético com os alunos pode evocar emoções e lembranças que estimulem
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