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A Linguagem, Escola e Pedagogia Social

Por:   •  24/12/2018  •  2.371 Palavras (10 Páginas)  •  413 Visualizações

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Essa fase se desenvolveu com sucesso pois houveram mudanças também nos sujeitos do meio escolar. O aprendiz agora se torna responsável pela sua rotina, pelo material que a escola lhe concebe e pelo seu próprio desenvolvimento acadêmico.

Essa nova característica se torna negativa ao refletirmos que a autonomia dada aos alunos influenciou na culpabilização por parte deles de seus próprios insucessos, e supostos fracassos, desvalorizando culturas que estejam fora do padrão elitizado (escolarmente não rentáveis). Ou seja, todo conteúdo elaborado por outrem é tido como verdade, o material escolar se torna o ícone e todo conhecimento fora desde, se torna motivo de um desvio acadêmico.

O que ainda é pesquisado pelos cientistas, na escola se torna uma verdade suprema. A hiper valorização do viés científico afeta drasticamente o horizonte das salas de aula cerceando cada vez mais, historicamente, o aprendiz e sua bagagem de conhecimento e de vivências.

A forma de controle estava dada, os caminhos e as ferramentas para o conhecimento também. O papel do professor passa a ser um papel técnico, e o aluno, responsável pelo seu sucesso ou insucesso, independente do que recebera como verdade em sua sala de aula. A sobrecarga de culpa, de inferiorização pelo seu rendimento escolar, e a preocupação pelo sucesso, são consequência de todo este movimento até aqui traçado.

A “ideologia da incompetência” (GERALDI, P. 89) faz desaparecer todas as mudanças do sistema da educação e da sociedade, e coloca em evidência a responsabilidade que o indivíduo tem sob o seu êxito acadêmico. De forma mais simplificada ainda, essa ideologia que se construiu, consegue anular a culpabilização da estrutura social que se criou em volta da educação e coloca o aprendiz como o cerne do problema.

Estruturalmente, as camadas populares que possuem acesso à escola são aqueles que possuem também o maior índice de “fracasso” escolar. O acesso tem se tornado maior ao longo dos anos, mas a sua qualidade não tem sido garantida. Dessa forma, a hegemonia instaurada gera um processo de exclusão cada vez mais frequente e geral entre todos os segmentos da educação.

2 A linguagem e a escola

No livro “Linguagem e Escola: uma perspectiva social” Magda Soares analisa as relações entre linguagem e escola, visando contribuir para a compreensão do problema da educação das camadas populares no Brasil. Dados os últimos problemas expostos, a diversificação do público dentro da escola tem como carência a falta de um ensino para todos, que respeite individualidades, realidades e principalmente a linguagem de todos.

A escola que existe é antes contra o povo que para o povo, isso porque a evasão ainda é desmedida até mesmo nas grandes capitais, os alunos das camadas populares sentem a rejeição que se esconde pelas ideologias do dom e da deficiência cultural ainda tão presentes, disseminadas e internalizadas no ambiente educacional, ideologias estas que acabam por culpar a vítima pelo seu fracasso escolar reafirmando a “ideologia da incompetência”.

A linguagem desempenha um papel fundamental, pois todo o processo educativo se desenrola através da linguagem. Se os alunos usam um código linguístico diferente do usado pelos professores, o resultado só poderá ser a falência do papel da escola: o diálogo e a produção de conhecimentos não se constituirão devido ao embate de padrões cristalizados da verdade estrutural imposta.

Entre a teoria de deficiência linguística e teoria das diferenças linguísticas há uma grande diferença que é exposta da seguinte forma:

“Pode-se dizer que a ideologia da deficiência cultural tem sua origem e seu mais importante argumento no conceito de “déficit linguístico”; chegou-se mesmo a sugerir a existência de uma “teoria da deficiência linguística ” , que explicaria o fracasso escolar das cama das populares. Por outro lado, a ideologia das diferenças culturais tem seu principal suporte em estudos de Sociolinguística sobre a linguagem das camadas populares, que a pesquisa mostra ser diferente da linguagem socialmente prestigiada, mas não inferior nem deficiente ', são esses estudos que constituem o principal fundamento da contestação da ideologia da deficiência cultural e linguística.” (SOARES, 2011,p. 45)

No ambiente escolar, a linguagem e a cultura dos estudantes vindos das classes dominantes são transformados em capital, isto é, em valor no mercado cultural. Pensando por um outro lado, os alunos oriundos das classes populares tem uma linguagem considerada não-legítima e é esse o ponto crucial de suas dificuldades, já que a escola é o local em que se corrobora constantemente a defesa por uma cultura dominante e não a igualdade. Ou seja, enquanto os aprendizes das classes elitizadas transformam sua linguagem familiar e quotidiana em um “capital linguístico escolarmente rentável”, aqueles vindos das classes mais desfavorecidas economicamente estão em situação de vulnerabilidade, seja ela linguística, ou moral psíquica.

3 Pedagogia Social e as novas possiblidades de ensino

A pedagogia social entra nesse debate facilmente ao nos darmos conta de que ela trabalha com o vulnerável já que é dele que estamos falando. As questões das necessidades materiais acentuadas e não supridas estão sempre em pauta, mas também, e não menos importante, entramos na questão da necessidade afetiva, da demanda constante de ressignificações, e da posição que o educador ocupa nesse viés: ele não se faz superior, mas sim se coloca em posição horizontal e circular.

A superioridade na linguagem, os danos morais, enfim, todas as consequências negativas da estrutura escolar que se modificou ao longo do tempo e foram apresentadas até o momento, se configuram como motivo para o agir do educador social.

Além de analisar o espaço que se dá a educação e dar sentido a ele de forma dinâmica, livre e coberto de possiblidades, a pedagogia social também foca nos que ali estão imersos como indivíduos com vivências individualizadas, respeitando-os em suas diferenças, agregando-lhes conhecimentos sem podar suas experiências e saberes externos a escola.

Após essas novas possibilidades em que a pedagogia se enquadra se abre uma outra para quem transmite o conhecimento: a autoanálise como educador. Ao procurarmos sempre uma resposta pelo melhor caminho, pela melhor verdade, dentro desta perspectiva, entende-se de fato que não há somente uma resposta - somos sempre cercados de novas vias, de novas encruzilhadas.

Entender

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