A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NAS SÉRIES INICIAIS
Por: Salezio.Francisco • 1/4/2018 • 4.996 Palavras (20 Páginas) • 540 Visualizações
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A imaginação não pode ser considerada como singular, tendo em vista que ela é
composta por um mundo alimentado por sonhos, devaneios e símbolos. Estes vão dar a ênfase que a imaginação precisa para sair de um estágio real e buscar para um mundo irreal.
Sonhos, devaneios e símbolos
Dessa forma, podemos definir sonho como idealização, desejo intenso, ansiar por
algo e ficar a espera. Essa seria a definição de sonho segundo a língua portuguesa, mas também podemos dizer que é um estágio da imaginação enquanto dormimos.
Conforme Bachelard (1988), o devaneio suscita, por meio das imagens poéticas,
uma consciência elaborada que vai diretamente ao coração, à alma, é o ser natural em contato com o irreal, pois é a partir do que o narrador fala que o ouvinte se dá conta da repercussão/ressonância Pode-se dizer que este processo é o que faz com que o devaneio seja inspirado é através das solidões de um poeta que voltamos muitas vezes a nossa infância. No devaneio retomamos contato com possibilidades que o destino não soube utilizar.
Nesse sentido, podemos dizer que o devaneio é a porta de entrada para o mundo
da imaginação. A criança mais do que o adulto necessita do devaneio, dos sonhos, da imaginação, que vão ao encontro das angústias, da solidão, das tristezas e das alegrias de cada indivíduo.
Quanto aos símbolos Chevalier (1998) acha possível defini-los de várias
maneiras; porém o que se pode destacar como fato é que os símbolos são eminentes em cada indivíduo, em um dado contexto social e individual. Todavia não se pode delegar o mesmo significado para símbolo e para signo, pois o primeiro transcende o significado indo além da imagem ou do sinal. O simbólico é a valorização tanto de algo material como espiritual ou psíquico.
Todos esses elementos (sonhos, devaneios e símbolos) fazem parte do imaginário
das pessoas. Ao nos reportamos à criança, é preciso refletirmos como esses elementos são trabalhados no espaço escolar, haja vista que é na escola onde a criança se depara com uma diversidade maior de pessoas. Sabemos que no encontro com o multiculturalismo nos tornamos mais críticos em relação a nós mesmos e mais compreensivos em relação ao outro.
O Imaginário Infantil e a Escola
Os sonhos, as fantasias e os devaneios de uma criança passam a ser tratados pela
escola de maneira mais objetiva e sistematizada, de forma que se tornem histórias ou textos realistas. Por mais que as instituições digam que se deve deixar a criança ter imaginação e criatividade, ainda assim os professores trabalham de forma a conter, dominar e até dosar determinados sentimentos para que a criança seja levada para um estágio adulto. Isso resulta em perda gradativa de criatividade, tornando as crianças meros projetos de adultos, ou seja, uma pessoa aceitável dentro dos parâmetros considerados corretos pelo mundo adulto. Crianças cuja criatividade foi desestimulada ou “matada” tornam-se adultos com pouco dinamismo para gerar novas descobertas e com muita insegurança. Muitas vezes, em cursos de graduação, vemos a maioria dos adultos com dificuldades para expressar uma opinião, ou para falar sobre seus ideais ou projetos.
A escola ainda tem uma formação tradicional quanto ao ensino sistematizado pois
as instituições sempre têm como base o livro didático como verdade absoluta que deve ser seguido como um manual. São raras às vezes em que os professores saem da política correta do livro.
Segundo Duborgel (2003) a arte de escrever na escola é regida por uma concepção
positivista, que tem como base o livro, para orientar as mensagens informativas e de didática.
Na contramão dessa tendência, ressaltamos que a imaginação infantil deve ser
nutrida com elementos que deem a possibilidade para ela em coletivo criar fantasias e, assim, ampliar o seu mundo interior. A criança de tenra idade deve admirar-se, maravilhar-se, fantasiar, criar suas próprias histórias com personagens, símbolos que farão ou não parte do seu mundo exterior.
Imaginário e Contação de Histórias
A contação de histórias, nas séries iniciais do ensino fundamental, é para nós algo
fundamental, que deve ser incentivado por todas as escolas de formação docente e por todos os cursos de licenciatura. Inicialmente, não consideramos que a contação de histórias seja apenas algo pronto oferecido aos alunos pelo professor, mas um espaço de escuta; onde aluno e professor saboreiam a história trazida por cada um, tornando um momento de aprendizado mútuo, de troca de experiências psíquicas e imaginárias. Conforme Bachelard (1988, p. 112113) afirma:
[...] quantas avós não tomam o seu neto por um tolinho! Mas a criança que nascer esperta atiça a mania de contar , as sempitermas repetições da velhice contadora de histórias. Não é com essas fabulas fósseis, esses fosséis de fábulas, que vive a imaginação da criança. É nas suas próprias fábulas. É no seu próprio devaneio que a criança encontra suas fábulas, fábulas que ela não conta a ninguém. Então fábula é a própria vida [...].
Nesse sentido, tanto as famílias como a escola devem deixar que as próprias
crianças desenvolvam sua imaginação, pois acreditamos que pais e professores devem ser os interlocutores das novas descobertas. Eis o grande desafio: pois nem pais nem professores estão acostumados a ouvir o que uma criança tem a dizer.
As histórias contadas e ouvidas são um alimento para o imaginário de cada
criança e de cada professor envolvido na atividade.
A criança, principalmente nas fases iniciais de educação, ao mesmo tempo em que
está descobrindo o mundo exterior pelas atividades de confrontação com o outro, também vê que tem limitações. Ao mesmo tempo em que ela descobre essas limitações, acaba fazendo um duplo sentido dos seus sentimentos interiores: sente-se “travada”,
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