OS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO INTER DIALETAL
Por: kamys17 • 25/12/2018 • 1.681 Palavras (7 Páginas) • 525 Visualizações
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“Outra estratégia de convergência nas entrevistas foi o emprego do que Duncan (1974:166) denominou canais de retorno (“ back channels”), que são usados pelo ouvinte para demonstrar atenção e envolvimento na conversa. Podem ocorrer como um simples meneio de cabeça, na forma de uma interjeição (“um, rum”; “é”), ou de uma complementação de sentença [...] de breves pedidos de esclarecimento ou, ainda, de reformulação do pensamento anteriormente expresso pelo outro. Nas entrevistas, eram usados para manifestar concordância e funcionavam como um reforço positivo que encorajava o entrevistado e mantinha o fluxo da conversa.”(p. 15)
“Os esforços de convergência de ambas as partes não puderam evitar, contudo, muitos problemas de compreensão. Esses problemas decorrem em parte da insegurança lingüística do informante e, num círculo vicioso, podem contribuir para aumentá-la.” (p. 15)
“Nem todos os informantes manifestavam, abertamente, embaraço ou insegurança diante dos ocasionais desacertos na comunicação com o entrevistador. As mulheres, principalmente as mais velhas, eram as que mais frequentemente externavam essas atitudes. Não se referiam, porém, a diferenças de natureza lingüística; atribuíam seus problemas de incompreensão a falhas de memória ou a deficiência de suas ‘cabeças’.” (p. 15)
“Em todos os depoimentos pode-se perceber claramente a posição de desvantagem dos informantes tanto do ponto de vista social como da organização dialógica. Entretanto, os esforços de convergência dos entrevistadores tornam a situação mais cômoda para os entrevistados. Diante disso, é possível concluir que essa situação de desvantagem agrave-se quando o migrante se defronta, numa interação assimétrica, com um interlocutor que não estela disposto a convergir a linguagem, ou que nem sequer tenha consciência de diferenças dialetais.” (p. 16, 17)
“Toda comunicação verbal efetiva exige que os falantes compartilhem regras de interpretação, que fazem parte de sua competência comunicativa (cf. Hymes, 1972). Algumas dessas regras são produto de sua competência lingüística, i.e, seu conhecimento de fonologia segmental e supra-segmental, da gramática e da semântica da língua. Outro conjunto de regras está relacionado ao conhecimento do mundo que os interlocutores têm em comum, e que funciona como um quadro de referência.” (p. 17)
“A maioria dos problemas de comunicação durante as entrevistas parecem derivar de diferenças dialetais nos níveis fonológico, gramatical e semântico.” (p. 17)
“O lance nº 5 é, aparentemente, uma violação do Princípio Griceano de Cooperação [...], mais especificamente do postulado: seja relevante.” (p. 18)
“Os casos de incompreensão nas entrevistas foram, para efeito metodológico, divididos em cinco grupos. No primeiro a origem do problema parece residir na aplicação de regras fonológicas, algumas das quais são características no dialeto do informante. No segundo grupo, a dificuldade está possivelmente relacionada a regras morfológicas ou sintáticas. Os demais reúnem diversos tipos de incompreensão no nível do léxico da língua e implicam regras semântico-pragmáticas.” (p. 18 e 19)
“Outra fonte de problemas de compreensão nas entrevistas é encontrada no emprego pelo entrevistador de variantes sintáticas que, aparentemente, inexistem no repertório do informante.” (p. 20)
“A ordem dos constituintes na sentença parece ser também fator relevante no processamento das informações. Perini (1980) observa que a inserção de um constituinte transportado, e.g. um advérbio, um aposto, pode representar uma dificuldade extra na compreensão da mensagem. [...] as repetições não contíguas, que ocorrem depois da inserção do constituinte transportado, promovem uma recodificação, minimizando o efeito da limitação perceptual decorrente da alteração da ordem. Podemos interpretar, portanto, esse tipo de repetição como mais uma estratégia de convergência usada pelo falante num esforço de acomodação.” (p. 21)
“A maior parte das ocorrências de problemas de comunicação no corpus, contudo, está associada à compreensão de itens lexicais. Muitas vezes o entrevistador usou determinada palavra característica de um registro mais formal da língua e desconhecida do informante. A estratégia seguida foi, então, [...] a de mudar o registro, substituindo-se a palavra problemática por um sinônimo mais comum ou uma perífrase vazada em linguagem coloquial.” (p. 21)
“O lance no 2 constitui realmente um pedido de clarificação. Muito frequentemente o falante usa
o recurso do operador disjuntivo “ou” para construir sua pergunta, oferecendo a primeira alternativa e encerrando o lance com entonação não-terminal.” (p. 22)
“É interessante observar que no lance no 6 a informante procura usar a palavra “próximos”, recém-decodificada, porém hesita, e a substitui por outra mais familiar.” (p. 23)
“No pedido de clarificação, o informante quase nunca se vale explicitamente de expressões metalinguísticas do tipo: “o que quer dizer?”, “o que significa?”.” (p. 24)
“Muitas vezes o informante resolve o impasse respondendo à pergunta de maneira afirmativa, mesmo sem tê-la compreendido.” (p. 24)
“No repertório do informante, o sentido de “sucesso” parece estar restrito a êxito na vida artística. Pela grande incidência de problemas com a pergunta, é possível que este sentido esteja generalizado no dialeto.” (p. 25)
" Este episódio representa um momento de grande dificuldade de comunicação não obstante os esforços de acomodação de ambas as partes. No lance n.2, a informante pede clarificação, identificando explicitamente o item lexical problemático. No n.3, a entrevistadora recorre á sinonímia e á perífrase, arriscando mesmo o emprego da palavra " influência" que, na variedade dos informantes, é usada como sinônimo de " vontade", " inclinação", " disposição". (p. 26/27)
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