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Alfabetização e Letramento: O ensino da língua e o fracasso escolar

Por:   •  6/6/2018  •  8.335 Palavras (34 Páginas)  •  440 Visualizações

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É necessário compreender que os conceitos de alfabetismo variam entre as sociedades, pois os valores, a cultura não são os mesmos. Habilidades de leitura e escrita são variantes dentro de cada cultura. As necessidades das pessoas também são mutáveis em cada momento histórico. Por isso, é impossível e inviável formular um conceito único e universal que defina alfabetismo, uma vez que língua escrita, sociedade e cultura estão interligadas.

Diante destas especificidades das relações entre língua escrita, sociedade e cultura, analisaremos o processo de alfabetização no cenário da educação brasileira, que vem sendo um desafio ao longo de seu contexto histórico. Há muitos anos, não mais que 50% das crianças conseguem sair da fase da alfabetização lendo e escrevendo (SOARES, 2003). Antes do ciclo de alfabetização ser implantado no país, as crianças tinham apenas a 1ª série para adquirirem a competência de ler e escrever, caso não conseguissem, os alunos ficavam retidos, impedidos de avançar para a série seguinte. Após a implantação do ciclo, possibilitando um tempo maior para a alfabetização das crianças a problemática ainda permanece. Muitos alunos chegam ao final do ciclo sem adquirir as competências básicas para avançarem para as séries seguintes.

Estudos buscam respostas que justifiquem o motivo do insucesso do processo de alfabetização. As áreas de Pedagogia, Linguística e Psicologia chegam a diferentes conclusões, mas que não são articuladas. A explicação para o insucesso são inúmeras. Pode estar no próprio aluno (questões de saúde, psicológica ou de linguagem), no contexto cultural (família, ambiente socioculturais), no professor (falta de formação ou incompetência profissional), na falta de material didático para o trabalho e no próprio código escrito (a dificuldade de articulação entre os sistemas fonológico e ortográfico). O que realmente acontece é que a alfabetização é um processo complexo e, para que se entendam as reais causas do insucesso, é preciso que as diferentes linhas de pesquisas citadas se unam para entender sua natureza e construção. (SOARES, 2003)

A alfabetização é um processo complexo e constante, pois não termina apenas quando se adquire a habilidade de ler e escrever. Não se resume em apenas desenvolver a linguagem oral e escrita, codificando (escrevendo) e decodificando (lendo) textos. A codificação e decodificação é apenas uma etapa da alfabetização, mas é necessário chegar a níveis de "compreensão/expressão" da linguagem oral e escrita. Além da compreensão que significa chegar a uma interpretação coerente daquilo que se lê e se escreve. O alfabetizando precisa entender que nem sempre os grafemas correspondem aos fonemas e vice-versa. A escrita não é a representação fiel da fala, pois não escrevemos como falamos. Obedecemos a um código escrito, que não pode ser alterado. Falamos de uma forma e escrevemos de outra. É preciso ainda considerar que, os conceitos de alfabetização variam. As realidades sociais e culturais variam em cada sociedade, a importância e a funções dadas ao processo de alfabetização são diferentes. O que consideramos importante, o valor que damos ao processo de aquisição da língua oral e escrita não é o mesmo em outros grupos sociais. Existem várias visões sobre o processo de alfabetização. Estes estudos apresentam-se separados, não há uma ligação entre as perspectivas que analisam os fatores que influenciam a alfabetização. Entre esses fatores podemos citar: o psicológico, o psicolinguístico e o sociolinguístico.

SOARES (2003) afirma que o fator psicológico estuda o processo de alfabetização, relacionando-o a inteligência (QI), considerando que os problemas associados a não aquisição da habilidade de ler e escrever, estejam diretamente ligados a alguma "disfunção psiconeurológica", como (dislexia, disgrafia, disortografia, disfunção cerebral mínima, etc.). Outro aspecto estudado, mais recente que a visão das "disfunções", é a alfabetização relacionada ao aspecto cognitivo, ou seja, o estágio em que a criança se encontra, influencia na sua compreensão da leitura e da escrita. Os estudos psicolinguísticos se aproximam da visão psicológica cognitiva. Defendem a ideia de que a habilidade de ler e escrever estejam relacionadas à "maturidade linguística" da criança. Segundo este estudo, a criança deve estar preparada para compreender e abstrair os conhecimentos a cerca da leitura e da escrita.

A realidade sociolinguística também influencia o processo de alfabetização, por diversos motivos. O primeiro são as diferenças dialetais. A criança, na maioria das vezes, vai para a escola dominando um dialeto próprio da sua cultura. Este dialeto pode, ou não estar próximo da linguagem que utilizamos convencionalmente, no que se refere a escrita. Neste ponto, voltamos à questão de que o processo de alfabetização é diferente em cada localidade. Outro fator é a diferença social existente. As crianças de classes mais favorecidas têm contato com a linguagem padrão culta, mais próxima do código escrito, diferentemente das crianças de classes menos favorecidas. Em relação à natureza linguística, não é fácil compreender a alfabetização. Falamos de uma maneira e escrevemos de outra. Uma letra pode ter vários sons e um som pode ser representado por várias letras. Para a criança, compreender esta diferença de relação entre fonema-grafema é muito complexo. Transcrever os sons da fala para o sistema ortográfico não é uma tarefa fácil.

Outro problema que afeta a educação brasileira em relação à alfabetização, refere-se ao fracasso escolar das classes populares. Esse fracasso está relacionado à diferença entre as classes sociais. A escola favorece o sistema que separa e segrega a sociedade. Desconsiderando as diferenças socioculturais existentes, valorizam somente a linguagem culta mais próxima do padrão de escrita, ou seja, a linguagem da classe dominante. O dialeto das classes populares é considerado pela escola como errado, ou seja, a explicação para o fracasso escolar não encontra suas justificativas somente nos fatores psicológicos, psicolinguísticos, sociolinguísticos e linguísticos, mas na articulação destes conceitos ligados também aos fatores políticos e sociais presentes na sociedade, que, muitas vezes, encaram o processo de alfabetização apenas como o desenvolvimento da leitura e escrita, carregado de preconceitos, deixando de lado a visão que dá significado e sentido a este processo. Significado, no sentido de articulado com a realidade social do indivíduo, aproveitando sua bagagem cultural e não a extraindo, como se nada que ele soubesse fosse

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