A Ficção Brasileira contemporânea
Por: Hugo.bassi • 24/12/2018 • 2.242 Palavras (9 Páginas) • 456 Visualizações
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Então, o traço que melhor caracteriza a literatura da última década é o convívio entre a continuação de elementos específicos que teriam emergido nas décadas anteriores, como a sobrevivência do realismo regionalista. Temos a definição de Mainardi, que classifica a literatura regionalista como uma das vacas sagradas da literatura brasileira e que precisa ser liquidada sem piedade; A contribuição deste teórico sem dúvida foi mais provocativa do que substancial. A ficção de 90, é marcado pela intensificação do hibridismo literário que gera formas narrativas análogas as dos meios audiovisuais e digitais.
É notório também, o recurso ao pastiche e aos clichês dos gêneros considerados menores, como os melodramas, as pornografias e os romances policiais. Voltando ao Rubem Fonseca, vemos que o mesmo não foi apenas um exemplo e um modelo, mas, em alguns casos, o mentor direto e o possibilitador de suas obras. Assim, vemos que a distância irônica entre a violência dos fatos e o tom cético do narrador, no relato econômico da ação, criando um efeito de humor que continua sendo a marca registrada de Fonseca, que cria uma posição estoica diante da barbárie, uma mistura de aceitação da realidade, na sua grotesca crueldade, e uma atitude de humor conformada com a existência humana.
Abrindo um parêntese comparatório, temos Patricia de Melo, com obras cuja originalidade estava intimamente ligada à nova realidade da violência e à maneira flagrante de expô-la. A diferença fundamenta entre Patricia e Rubem, é que em Patricia, em nenhum momento o tema da violência parece impor um limite expressivo, sem se aproximar da fronteira da ética. A questão de mercado, passou a ser um viés após a briga inicial pelos direitos autorais ocorrido com Carlos Drummond. Passou-se a perceber que a literatura era uma produção de mercadoria em circulação.
Também surgem os escritores com vocação comercial, e que conseguem certo sucesso dentro de gêneros tradicionalmente populares. Ninguém conseguiu a popularidade de Jorge Amado. Só que nenhum setor da economia brasileira sofreu tanto quanto o mercado de livros.
Temos ainda a classificação, de um novo realismo. Mas para o entendermos, precisamos conhecer o realismo e verificar suas novas tendências, como o surrealismo, o realismo fantástico, o realismo regional, o realismo mágico, new-realism e hiper-realismo, demonstrando as diferenças que estabeleciam com o realismo histórico do século XIX. O realismo do passado pregava a verossimilhança descritiva e objetividade narrativa. Já o novo realismo, apregoava a vontade explícito de retratar a realidade atual da sociedade brasileira.
Então, sabe-se que não se trata de um realismo tradicional e ingênuo em busca da ilusão de realidade, nem de um realismo representativo. Estes novos realistas, desejam provocar efeitos de realidade por outros meios. Está intrínseco a relação da literatura e da arte com o palpável social e cultural do que emerge. Isso é característica de um tipo de realismo que conjuga as ambições de ser referencial, sem obrigação de ser representativo, engajado. Este realismo, tem como desejo o aspecto performático e transformador da linguagem e da expressão artística, motivado por um questionamento de possibilidades representativas num contexto cultural de mídia.
A procura por novas formas de experiências estéticas se une à necessidade do compromisso de testemunhar e denunciar os aspectos inumanos da realidade brasileira contemporânea. Na visão do mercado editorial, a demanda desta realidade se reflete claramente na onda de biografias históricas, onde as obras chegam a contribuir para a morte de um personagem principal pelas mãos de um companheiro de crime. Além disso, os livros de autoajuda e dos gêneros jornalísticos, possuem uma grande popularidade. Bonassi consegue metabolizar o estilo cortante das notícias de jornal, transcrições de cenas de filmes e televisão, anúncios de sexo, fragmentos e rubricas de roteiro, entre outros procedimentos, experimentando claramente com a introdução.
Bonassi trabalha com primazia suas obras cinematográficas. Mirisola, outro autor revelação da geração de 90, consegue retratar a banalidade sem nunca se excluir dela, nem recusá-la, e sem aceitar qualquer desconto no deboche.
André Sant’Anna não se parece com nada que vem sendo produzido por sua geração. Ele parece surgir diretamente da apropriação da linguagem da cultura de massa, incorporando ao máximo frases de efeito, com um domínio exuberante e espetacular da sintaxe, e de toda a arquitetura narrativa de contação de histórias. A realidade do novo realismo nos remete a proteção contra o real em sua manifestação mais concretiva, indicando e apontando para o real. Na criação de uma realidade cotidiana esteotipada e vulgar, sujeita à reprodução acelerada dos objetos de consumo, a literatura tenta injetar um mínimo nível de diferença.
O foco da realidade urbana da geração de 90, trouxe da geração de 70, a sua ficção. Jorge Amado consegue preservar a popularidade da realidade regional por meio século. Luiz Ruffato, vencedor do prêmio Casas de La América, mantém o compromisso com a realidade, procurando formas de realidade literária ou uma presentificação não representativa dessa mesma realidade. O país possui uma questão tradicional da literatura: o conflito entre o país rural e o pais urbano. Milton Hatoum, consolida uma vertente na narrativa brasileira, que seria um regionalismo sem exageros folclóricos, com o interesse culturalista na diversidade brasileira, substituindo uma temática nacional. Temos também o memorialismo familiar retratado nas histórias de emigrantes elaborado pelo intermédio de Márcio Souza.
Neste mesmo impulso, temos uma atenção renovada dos traços identificatórios nacionais, multiculturais, étnicas e de gênero que pudessem ser verificados e analisados não apenas como sintomas de conteúdo, mas como formações discursivas. Temos em Milton Hatoum uma aproximação à herança literária latino-americana, com vontade de construir uma boa narrativa, sem abrir mão das estruturas complexas e pelo perspectivismo que multiplica olhares e vozes, enriquecendo a possibilidade de leitura.
É importante aprofundar a potência diferencial de outra experiência narrativa que se consolida na década de 90, é a preferência pelos minicontos e outras formas mínimas de escrita que se valem do instantâneo e da visualização repentina, num tipo de revelação cuja realidade um impacto de presença maior. A prosa contemporânea parece desenvolver novos formatos, que colocam o leitor diante de uma imagem narrativa. O miniconto é um gênero que
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