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É DO CINEMA AMERICANO

Por:   •  22/12/2018  •  1.611 Palavras (7 Páginas)  •  363 Visualizações

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A narradora que, mesmo reconhecendo-se alcooolizada, relata seus pensamentos agitados e desesperados. O primeiro foco narrativo é a misteriosa perseguição. O segundo está mais voltado para sua saida do carro acidentado e as reflexões sobre o futuro amoroso. No seu desespero, durante a perseguição, ela busca algum suporte espiritual de diversas divindades diferentes: Deus, Buda, N. Sra. Aparecida, Yemanjá e mesmo a duendes. Ela acaba fazendo promessas que provavelmente não iria cumprir por serem inverossímeis.

O tempo utilizado na narrativa é em geral de tempo presente. Durante a perseguição ela faz reflexões sobre o passado e sugere promessas sobre o futuro. Ela confessa suas frustrações amorosas, preocupações ligadas à solidão e à decadência da meia-idade.

A estrutura do texto é muito contínua, com frases curtas, muitas idéias encadeadas num primeiro parágrafo muito longo, sem pular linhas, que acaba gerando uma intensidade maior do texto e com uma certa semelhança à vivida numa perseguição. Esta intensidade do texto gera uma sensação de interesse do leitor e curiosidade sobre esta fuga desesperada. A construção desta tensão culmina com o acidente automobilístico.

O próximo último parágrafo segue a sequência de pensamentos e reflexões ainda ancoradas num desfecho possível, final feliz (happy-end) , muito típica da visão cinematográfica romântica americana.

OUTRA HIPÓTESE INTERPRETATIVA – VISÃO ONÍRICA

Outra hipótese seria considerar um contexto onírico onde tudo é possível, pois neste relato alguns traços beiram o inverossímil tais como: este tipo perseguição em alta velocidade, sobreviver a um capotamento e ainda imaginar encontrar um novo amor num final feliz após este trágico acontecimento.

Após algumas leituras do texto e sabendo do seu enredo completo, podemos interpretar que este relato é fruto do imaginário da narradora, que se reconhecia alcoolizada, e portanto tudo é falso, sendo um sonho, uma alucinação ou um delírio de alguém bêbado.

Ela estaria apenas externando, neste sonho, o desejo de ter uma vida diferente da atual pacata vida solitária, frustrante e decadente da meia idade. No seu sonho sua vida seria uma sequência de acontecimentos emocionantes, perigos, perseguições, lutas e sobrevivência a uma situação de um grave acidente. No final deste seu sonho iria encontrar um salvador idealizado e o grande amor da sua vida. O seu desejo mais profundo é que a sua vida seguisse um roteiro de filme ideal com um lindo final feliz, Happy-end.

Diante desta hipótese podemos ampliar nossa interpretação mais abstrata e permanente e sugerir que existe um obscuro lado psicológico presente em todos nós que, de alguma forma, aspiramos para as nossas vidas: momentos de ação, romance e drama típicos de filmes de cinemas americanos e que sugiram um final feliz, happy-end.

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RELAÇÕES ENTRE ESTE TEXTO E A FORMA CONTO

Este fascinante texto da autora encaixa-se perfeitamente com algumas das idéias apresentadas por Augusto Cortázar no seu texto – "Alguns aspectos do conto".

O texto se apresenta como um imã que atrai e prende o leitor que fica na expectativa sobre o desfecho da narrativa da perseguição automobilística. O tempo e o espaço são condensados no limite das cinco páginas. Este recorte ou fragmento da realidade da narradora assemelha-se a uma fotografia cuja visão da autora fixou um conjunto de imagens reduzidas e que atuam, posteriormente, como uma explosão e que se abrem para uma realidade muito mais ampla.

O texto tem uma semelhança com uma luta de boxe e onde a narrativa nos golpeia e nos vence por knock-out. O leitor pode reconhecer a boa qualidade deste texto que é “incisivo, mordente, sem trégua desde as primeiras frases“, conforme Cortázar relata em seu texto na página 152.

A autora escolheu um tema que relata um acontecimento real ou fictício que possui uma propriedade de irradiação muito maior do que o foi narrado. É material com significação de intensidade e tensão.

A intensidade da ação e a tensão interna da narrativa são construidas lentamente sem utilizar idéias ou situações intermediárias.

Esta objetividade funciona como a semente de uma futura árvore que poderá ser gigantesca, similar a visão metafórica do Cortázar.

O leitor pode guardar este conto na memória e poderá interpretá-lo diferentemente no futuro.

A autora trabalha bem com os instrumentos expressivos, a narradora em primeira pessoa transmite vivacidade, o leitor fica curioso durante a narrativa e ao fim do texto pode especular sobre uma amplitude maior e abstrata destas peripécias, buscando, talvez, uma similaridade com suas próprias experiências.

LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

CANDIDO, Antonio – A personagem do romance, In A personagem de ficção, São Paulo: Perspectiva, 1976.

BENJAMIN, Walter – "O narrador": In: Os pensadores, vol. XLVIII. São Paulo: Abril Cultural, 1975, pp. 63-81 ou In: Obras escolhidas. V.1. Trad. Sergio Paulo Rouanet. S. Paulo, Brasiliense, 1985, pp. 197-221.

CHIAPPINI, Lígia – Foco narrativo. São Paulo, Ática, 1990.

CORTÁZAR, Julio – "Alguns aspectos do conto" e “Do conto breve e seus arredores”. In: Valise de cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1974 (ou In: Valise de cronópio. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2006.

FRIEDMAN, “O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito crítico”. Trad. de Fábio Fonseca de Melo. In: Revista USP. No.53.São Paulo: USP,

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