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Uma Análise das obras de Jean de La Fontaine

Por:   •  22/12/2018  •  2.193 Palavras (9 Páginas)  •  415 Visualizações

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No que ficou conhecido como a “Querela dos Antigos e Modernos”, numa discussão que exaltava a modernidade vivida pelos franceses e partidários dos Antigos, La Fontaine, Boileau, Racine e outros, buscavam demonstrar superioridade da língua e da cultura francesa em relação aos “antigos” latinos e deixava claro que as suas escrituras estavam longe de ser apenas literatura para as crianças, pois sua intenção se voltava na moral que, como dito por Coelho, “era útil para o espírito”[8]. Numa época marcada pelo confronto entre o Racionalismo e o Imaginário[9] e por uma afirmação da língua, cultura e literatura francesa sobre a herança clássica que se preservava e se imitava até aquele momento. Esse aforismo presente na escrita de La Fontaine é o que, posteriormente se caracterizou, juntamente com outros pensadores e críticos, como os Moralistas Franceses.

NIETZSCHE E OS MORALISTAS FRANCESES

Nietzsche se encontra altamente ligado com alguns pensadores franceses do século XVII e XVIII: os assim chamados moralistas franceses, tendo em vista que cada um desses pensadores possuía uma forma distinta de pensar o homem e o mundo, e uma forma peculiar de escrita, expressando suas sentenças e aforismos. Como descritos por Wagner França, esses moralistas são considerados os “primeiros psicólogos” ou “psicólogos franceses”, como são comumente chamados[10]. Essa maneira como os moralistas entendem os homens é um dos fatores que atraíram Nietzsche, como o próprio afirma: “No fundo, é a um pequeno número de velhos franceses que estou sempre a regressar: creio só na cultura francesa”[11].

Segundo França, “Os moralistas estudam o homem por ele mesmo; é aquele que se põe a margem da sociedade para se tornar espectador dos outros e dele mesmo, e assim podendo pintar os seus retratos”[12]. Era comum no século XVII fazer a descrição dos atos de uma pessoa ou da sociedade através de pinturas, escritas ou simplesmente na prosa. E num contexto ainda de repressão e censura à liberdade de expressão, alguns escritores, como La Fontaine, usavam a metalinguagem e a ironia para se expressar e difundir as suas críticas.

Dessa forma, através das influências desses moralistas, Nietzsche transforma o seu modo de pensar, assim como seus escritos que antes se devam na forma de um discurso contínuo, como nas obras: O Nascimento da Tragédia; A Filosofia da Idade trágica dos Gregos e nas Considerações Extemporâneas. Só a partir das influências de tais leituras ele muda sua maneira de escrever, assumindo sua mais famosa forma de escrita; o aforismo[13]. Claramente visível na forma como escreve sua obra Humano, Demasiado humano, inclusive pelo título.

Como afirmado por Nietzsche, no contato com tais escritores franceses, “estamos mais próximos da Antiguidade do que com qualquer [...] outros povos”[14]. Ele aproxima os moralistas dos antigos gregos (pré-socráticos) por serem bem compreendidos, haja vista que o seu pensamento e o foco possuíam as mesmas características, destacando La Rochefoucauld, no qual mais se identificou.

Junto aos moralistas franceses, La Fontaine possuía as características que Nietzsche tanto admirava, sobre tudo no tocante moral, que quase duzentos anos depois resultará o pensamento Nietzschiano, pois ambos, de certa forma, possuem uma concepção que remete a uma moral instintiva e também abrange a questão psicológica existente em Nietzsche, bem como a refinada capacidade de percepção dos elementos por trás de nossos atos.

LA FONTAINE E A FILOSOFIA DA HISTÓRIA DE VOLTAIRE

Como grafado no Dicionário da Língua Portuguesa, “Enciclopédia é um conjunto de todo conhecimento universalizado”[15]. Na enciclopédia se expõe em ordem, seguindo uma lógica metódica, o conjunto dos conhecimentos universais ou específicos de um campo do saber, agrupados em temas ou dispostos em ordem alfabética.

Por não se possuir registro de outra obra com a mesma finalidade, é então considerada como a primeira enciclopédia, a Enciclopédia Francesa do século XVIII que se iniciou em 1751 e foi ultimada em 1780, com mais de 35 volumes, fruto dos esforços do intelecto humano em todos os gêneros e em todos os séculos. Diderot foi o idealizador da Enciclopédia (Encyclopédie ou Dictionnaire Raísonné des Sciences, des Arts et des Métiers), que reuniu 150 colaboradores, que passaram a ser chamados de “enciclopedistas”, dentre eles D’Alembert, Rousseau, Montesquieu, Turgot e Voltaire[16].

O verbete história, A filosofia da História[17], da Enciclopédia de d’Alembert, verbete cujo autor é Voltaire trás a afirmação de que “toda história é recente” e está relacionada ao momento, no processo de aperfeiçoamento das capacidades humanas, em que a escrita é desenvolvida: um determinado povo passa a ter história, apenas quando se torna capaz de escrever os seus relatos. Ele expõe que ao passar dos séculos e pela falta de um registro historiográfico, os fatos que são relatados através das gerações, passam a perder veracidade, por fim se aproximando das fábulas, que são relatos impregnados por elementos ilusórios, e como exemplo ele cita a origem de povos egípcios e fenícios que, pela falta de documentação, há falta de credibilidade na oralidade de sua gênese, inclusive “os romanos, tão sério como eram, mesmo assim envolveram de fábulas a história dos seus primeiros séculos”[18].

Como descrito por ele:

Os relatos são de pais aos filhos, transmitidos em seguida de uma geração a outra; em sua origem, eles são no máximo prováveis, quando não entram em choque com o senso comum, e perde um grau de probabilidade a cada geração. Com o tempo a fábula cresce e a verdade se perde: vem daí que todas as origens dos povos são absurdas[19].

Ele trás em suas primeiras linhas uma definição de história que distingue dois tipos de relatos: “o relato dos fatos dados como verdadeiros é história, o relato dos fatos dados como falsos é fábula”. A dicotomia entre a história e a veracidade, a fábula e a falsidade, conta ainda, com o par: utilidade e inutilidade. Tendo esse tratamento crítico dado por Voltaire, no Ensaio sobre os costumes, “aos relatos bíblicos é o mesmo dado à fábula: considerar ambos como relatos históricos é um equívoco, pois não passam de mitologia, fantasias e falsidades elaboradas pelo ignorante e pelo fanático”[20].

Esses apontamentos deixam claro que a concepção de história pensada por Voltaire, e a maioria dos seus contemporâneos, era de que a História como ciência deveria estar totalmente

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