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LIVRO NÃO SE APEGA, NÃO

Por:   •  24/4/2018  •  3.770 Palavras (16 Páginas)  •  267 Visualizações

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enquanto se destruía para manter um relacionamento de pé.

Isabela explica de onde vem essa fragilidade que as moças têm, essa fé inabalável e inocente que nos faz acreditar que já nascemos sabendo amar. O fato de crescermos ouvindo histórias de príncipes e princesas contribuem diretamente para que o nosso coração esteja de portas abertas e com um tapete de boas-vindas.

Em A literatura e formação do homem, Antonio Cândido diz que a fantasia quase nunca é pura, ela sempre se origina a partir de algo. A singeleza que as garotas têm e que a personagem de Isabela também espera encontrar nos garotos está relacionada às histórias ficcionais, em sua maioria contos de fadas que ouvimos quando criança e gera em nós a construção de nossa personalidade e comportamento numa realidade completamente distinta da que idealizamos. As histórias, os contos fixam-se em nossas memórias que nem percebemos e por isso apresentamos algumas reações inesperadas que na perspectiva de um ser adulto, maduro e experiente não condiz com a nossa realidade.

A autora Maria Tatar em sua obra Contos de fadas aborda um pouco sobre o que Cândido fala em respeito da ligação das histórias em nossa mente. Muitas vezes somos bombardeados e nem nos damos conta. Os contos de fadas têm o poder de manter as histórias arquivadas através da nossa imaginação coletiva e quando algumas situações vêm à tona é como se já soubéssemos ou já tivéssemos passado por aquilo antes.

Tatar também traz a ideia de que os contos de fadas ajudam a moldar nossa vida. Eles chegam a ser tão importantes que são considerados sagrados por alguns. A autora Isabela com certeza os tem como sacros. Eu os tenho. As pessoas que tiveram a oportunidade de experimentar as delícias do mundo irreal, mas que ao mesmo tempo se fez tão real e secreto ainda que só existindo na mente, as consideram sagradas. Principalmente as moças.

Meninas normalmente fantasiam as coisas, criam facilmente uma visão que os meninos com certeza se questionariam se eles estariam falando do mesmo assunto caso fossem capazes de ler as suas mentes. É o mundo fabuloso e doce das garotas versus o mundo aventureiro e destemido dos garotos. Talvez por isso, somos consideradas frágeis. Já crescemos acreditando que há príncipes que irão nos proteger de qualquer gigante ou ogro que nos apareça no caminho, mas quando a gente cresce, se dá conta de que os próprios gigantes e ogros são aqueles que um dia achamos que eram os nossos príncipes.

Isabela não faz rodeios e diretamente diz que esse conto de fadas que nos agarramos não existe, nunca existiu e está fora de moda. É como se a gente estivesse sonhando e de repente chegasse alguém e jogasse um balde de água fria dizendo: “Ei! Acorda que não é por aí que a banda toca.” E o pior é que ela está certa. A super dosagem do amor que tomamos nos traz consequências desesperadoras e tudo o que nos sobra é o ombro de um amigo (a), o colo da mãe ou as vezes quando não se tem nada disso só sobra o travesseiro mesmo. Depois que a gente cai em si, a gente chora. Chora muito. Mas não é porque o perdemos (até porque isso seria motivo de alegria, de alívio). O choro é porque a gente não acredita e nem aceita que a nossa inocência e pureza foram arrancadas de nós por quem deveria cultivá-la. Lágrimas mais tarde e a gente finalmente entende que a vida segue e quando olhamos pra trás percebemos a virtude de cair uma menina e se reerguer uma mulher que desconhecia a força que tinha.

Expectativa é algo que nos atrapalha bastante em nossos relacionamentos. Esperamos tanto algo de alguém ou de alguma coisa e quando não há o retorno esperado nos decepcionamos. Passamos a vida esperando que as pessoas ajam como o esperado ou que as coisas sejam exatamente como planejamos, só que infelizmente (ou felizmente em algumas situações) não é assim que a vida é. A gente é assim. É involuntário. Só não podemos desistir, tem que aprender a rir da própria desgraça e encontrar felicidade até nas decepções segundo Isabela. E é exatamente neste ponto que entra o desapego.

É importante saber que desapego não é desamor, embora as pessoas que conseguem desapegar são vistas como insensíveis e frias. Há muito “pré-conceito” por trás desta palavra. No livro encontramos um exemplo perfeito que muitos jovens inexperientes usam para justificar uma superação ao dizer que “pega e não se apega” e sai todos os dias para baladas, se relaciona sem compromisso frequentemente com pessoas que as vezes nem conhece entre outros absurdos. Isso se chama desespero. A pessoa não admite que não superou coisa nenhuma, mas superficialmente insiste em querer provar para todos que está tudo bem quando na verdade não precisa provar nada para ninguém e o que está fazendo é justamente o contrário rendendo-se à vulgaridade e o descontrole. Não dá para viver apegado ao passado, caso contrário iremos revivê-lo todos os dias. Substituir o vazio do coração com qualquer um que aprece não vai resolver nada, mas o oposto. Isabela diz que “fugir do sofrimento é adiar o inadiável. É fugir do próprio reflexo no espelho. Quem foge do sofrimento não o supera. Retém. E o nosso coração é pequeno para abrigar mágoas.” Por isso, em alguns casos uma terapia seria a solução mais adequada. Inclusive, há terapias que são feitas através do uso de contos de fadas.

No curso das últimas décadas, os psicólogos infantis recorreram a contos de fadas como poderosos veículos terapêuticos para ajudar crianças e adultos a resolver seus problemas meditando sobre os dramas nele encenados. Cada texto se torna um instrumento facilitador, permitindo aos leitores enfrentar seus medos e desembaraçar-se de sentimentos hostis e desejos danosos. Ingressando no mundo da fantasia e da imaginação, crianças e adultos garantem para si um espaço seguro em que os medos podem ser confrontados, dominados e banidos. (TATAR, 2004)

Tatar ainda na obra Contos de fadas afirma que o próprio meio que um dia fez sonhar e de tanto sonhar tropeçar em fantasias, é também capaz de ajudar a se reestabelecer.

Desapegar não é uma tarefa fácil, mas é necessário. Não adianta nada correr atrás de alguém que não deu certo conosco, nem tentar reconquistar algo que perdemos uma vez que isso não nos faz bem. A verdade gritante para viver uma vida desapegada é ser feliz sem aquilo ou aquele alguém. Antes que chegue em nossa vida, já temos que ser completos em nós mesmos. Este é o segredo. Na obra de Isabela, encontramos alguns itens essenciais para manter o equilíbrio de uma vida plena sem depender de nada e de ninguém, são eles: amor-próprio, autoconfiança, honestidade, realização pessoal e felicidade. Uma virtude influencia diretamente

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