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Gregório de Matos

Por:   •  21/3/2018  •  6.220 Palavras (25 Páginas)  •  223 Visualizações

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Logo na primeira aparição de Gregório de Matos no capítulo, podemos ver a insatisfação do poeta quanto à sociedade do século XVII, não só dela como também quanto às autoridades no poder. Como vimos no contexto histórico-cultural, muitos foram os fatores que influenciaram nas atitudes do povo brasileiro enquanto colônia de Portugal e, Ana Miranda relata essa degradação da sociedade através do Gregório de Matos personagem:

MIRANDA,(1990,33)

Ah, aquela desgraçada cidade, notável desventura de um povo néscio e se deu. Gregório de

Matos foi informado sobre a morte do alcaide. Sofria ao ver os maus modos de obrar da

governança, porém reconhecia que não apenas ao governantes, mas a toda a cidade, o demo

se expunha. Não era difícil assinalar os vícios em que alguns moradores se depravavam.

Nesse trecho justificamos a razão do poeta ser chamado de boca do inferno. “Ele promove, abjura, exalta, justa ou injustamente, com discursos maledicentes por encomenda ou por vontade própria”. Tais pensamentos contraditórios revelam o quanto o poeta não encontrava seu lugar em meio à sociedade. Talentoso e audaz, Gregório de Matos deixava claro nos poemas seus pensamentos mais ignóbeis, pois “a difamação era o teu deus.”

Conforme MIRANDA,(1990,33)

Como poeta de inesgotável fonte satírica não poupava ao governo, à falsa nobreza da terra e

nem mesmo ao clero. Não lhe escaparam os padres corruptos, os reinóis e degredados, os

mulatos e emboabas, os “caramurus”, os arrivistas e novos-ricos, toda uma burguesia

improvisada e inautêntica, exploradora da colônia. Perigoso e mordaz, apelidaram-no de “O

Boca do Inferno”.

Gregório de Matos e Guerra também ficou conhecido pela sua irreverência e, principalmente pela promiscuidade. O poeta brasileiro casou-se duas vezes, porém não permaneceu muito tempo no matrimônio. O primeiro casamento se deu ainda quando estava em Portugal e algum tempo depois ficou viúvo e com uma filha e o segundo casamento foi com Maria de Povos, mulher viúva e de poucos bens, a quem Gregório de Matos ofereceu uma vida pródiga, gastando o dinheiro que ainda lhe sobrara após a partida de Portugal. A felicidade não durou muito, em razão da escassez de dinheiro e de seu comportamento promiscuo, acabou abandonando-a com um filho. Então, separado e desempregado, por não querer mais desempenhar os cargos eclesiásticos que Dom Gaspar Barata o atribuiu, o poeta passou a viver desregradamente, entregue à boêmia e tendo a sátira e a maledicência como refúgio. Tal promiscuidade, Ana Miranda não deixou de transferir a Gregório de Matos personagem: “Com um graveto, escreveu na areia: ... pretas carregadas com roupas, de que formam as barrelas. Não são as mais belas, mas hão de ser por força as mais lavadas. Eu, namoro desta e aqueloutra, de um a lavar me rende o torcer doutra.” (MIRANDA, 1990, p. 83).

Nesse capítulo, há também um a das muitas referências ao poeta espanhol Luís de Gongoray Argote: “Gregório de Matos parou de anotar. Como dissera Gongora y Argote, era preciso decidir verdade contra estados, contra verdades [...]” (MIRANDA, 1990, p. 34). O poeta Gregório de Matos e Guerra viveu em Portugal durante 30 anos, antes de retornar ao Brasil. Nesse período, Portugal vivia uma época delicada quanto à sua identidade, pois a coroa portuguesa era ocupada pela Espanha, e por isso todo o pais estava sob influências espanholas. Durante sua estadia no território português, o poeta cultivou grande afeição pelas obras de Gôngora.

Então, Ana Miranda retrata uma das aspirações de Gregório de Matos, influenciado pela longa estadia em Portugal, a fim de salientar ainda mais a fidelidade com a biografia. O poeta não só admirava Gôngora, como também muitos de seus sonetos, seguem a metrificação e o ritmo encontrado nos poemas do escritor espanhol, pois a projeção gongórica em Gregório de Matos pode ser observada na estrutura dos poemas” e, muitas vezes, no aproveitamento de versos inteiros. MIRANDA,(1990,41)

O regresso de Gregório de Matos Guerra ao Brasil é um fato ainda não comprovado, contudo a hipótese mais coerente é que após o poeta desacatar ordens do rei, pois em Portugal exerceu vários cargos públicos entre eles juiz criminal e curador, ele retornou à pátria, aos 47 anos, malquisto pelas autoridades portuguesas. Em o Boca do Inferno Miranda relata a inimizade de Gregório de Matos aos homens do poder. “O doutor Gregório de Matos também não está nas graças do governador”, visto que o fato de não poupar ninguém em seus versos, condenou o poeta e ser perseguido pelo administrador vigente no Brasil em 1682, Antônio de Sousa Meneses, ou mais conhecido com o “Braço de Prata”. Está claro “que o seu tom desabusado lhe haveria de causar contratempos, desgostos e perseguições, como causou, mas também lhe garantiu um renome que o transforma em caso único em nossa poesia barroca”.

Outra das muitas influências no estilo de escrever de Gregório de Matos Guerra fica claro no trecho: “Um pequeno folheto publicado com os sermões de Antônio Vieira, muitos anos atrás, em castelhano, chegou em minhas mãos [...]. Aquele livro mudara a vida de Gregório de Matos” (MIRANDA, 1990, p. 84).

Padre Antônio Vieira foi um escritor religioso respeitado do século XVII, famoso pelos seus discursos inteligentes que protestavam a escravidão e a perseguição aos índios. Na literatura, seus sermões têm grande valor no movimento barroco, assim como Gregório de Matos Guerra, que o teve como grande fonte de inspiração. Ainda nesse capítulo, Ana Miranda descreve uma conversa entre os personagens Gregório de Matos e Anica de Melo, uma das meretrizes que o poeta se envolvia, contudo a escritora desenvolveu esse diálogo baseando-se na biografia do poeta brasileiro, que descreveremos minuciosamente com o propósito de garantir a compreensão do leitor sobre até que ponto o romance não se distancia da realidade.

Gregório de Matos nasceu em 20 de dezembro de 1636 na cidade de Salvador na Bahia. Foram seus pais Gregório de Matos, tesoureiro do Juiz de Órfãos e senhor de engenho em Portugal, e Maria de Guerra, respeitável matrona. No trecho, a seguir podemos comparar o quanto Ana Miranda foi fiel a biografia do poeta baiano:

Gregório

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