Artigo Científico - O Pagador de Promessas

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2 MODERNISMO EM O PAGADOR DE PROMESSAS

A escola literária Modernismo relata sobre o rompimento do tradicionalismo, a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural do país. Na literatura, a escola rompeu com a então arcaica forma de escrita e enfatizou a descrição do cotidiano em suas obras. Tais características ficam claras na obra O Pagador de Promessas, que retrata com fidelidade o local onde ocorre a trama, a ação e o cotidiano das personagens.

O Pagador de Promessas informa sobre o chamado “sentimento de unidade nacional nordestino” e a realidade brasileira, que é uma das características marcantes do modernismo: nacionalismo crítico e consciência da realidade. Economia na linguagem, liberdade de expressão e valorização da vida cotidiana, são características do modernismo que também estão presentes na literatura de Dias Gomes.

A literatura abordada mantém a atualidade da força simbólica de suas cenas e é um retrato de riqueza cultural brasileira que, quando mostrada em toda sua plenitude, surpreende o mundo e não encontra dificuldades para conquistar seu lugar entre os clássicos de todos os tempos. Seu autor, Dias Gomes, é o dramaturgo brasileiro mais traduzido e encenado em outros países, o que se deve à sua genialidade em mesclar o retrato da cultura brasileira marginalizada.

3 CINEMA E TV: LEITURA DE IMAGENS EM O PAGADOR DE PROMESSAS

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Figura 1 – filme de 1962, escrito e dirigido por Anselmo Duarte.

A imagem representa as personagens Zé-do-Burro e Minha Tia, interpretados respectivamente, por Leonardo Villar e Maria Conceição, no filme brasileiro que ganhou a Palma de Ouro, em Cannes. Na cena, vê-se o caráter ecumênico presente em O Pagador de Promessas, no momento em que Zé-do-Burro chega à igreja com a cruz nas costas, mas o padre não o permite entrar no local e um grupo de baianas adeptas ao candomblé tenta ajudá-lo.[pic 2]

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Figura 2 – minissérie de 1988, produzida por Tizuka Yamazaki

A figura acima retratada mostra o momento em que Zé-do-Burro finalmente consegue levar sua cruz até o altar da igreja, porém de maneira trágica. Zé foi baleado, morto e posto sobre sua cruz, sobre a qual foi levado ao altar da igreja pelo grupo de capoeiristas, também adepto ao candomblé, que havia se simpatizado pela causa do rapaz.

4 TEMÁTICAS PRINCIPAIS: PRECONCEITO, SINCRETISMO E INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Em O Pagador de Promessas, é clara a presença do preconceito para com o homem do campo. Zé-do-Burro sofre com esse problema durante toda a narrativa, pois trajava roupas velhas e sujas, além de possuir baixo intelecto. Pode-se comprovar isso em trechos das falas do personagem Bonitão, nas quais ele,

aproveitando-se da ingenuidade de Zé-do-Burro, engana-o para poder ficar a sós com Rosa, mulher do pagador da promessa.

O preconceito contra mulheres, a relação de posse e exploração física se dão por algumas ações de Bonitão, o que se pode comprovar pelo seguinte trecho: “[...] Mulheres como você não precisam saber coisa alguma, a não ser o que a natureza ensinou...” (GOMES, p.29). Bonitão é o principal exemplo de como o domínio do homem sobre a mulher é retratado em O Pagador de Promessas, especialmente na relação do personagem com Marli.

A presença do preconceito contra as mulheres em O Pagador de Promessas esclarece ainda mais a visão contemporânea de Dias Gomes nos seus escritos. A temática retratada ainda é um problema não solucionado, pois ainda se vê frequentemente, mulheres sendo tratadas como objeto de desejo do homem. Finda-se que, embora escrita no século XX, a obra pode ser considerada como crítica aos ideais machistas e preconceituosos fundamentados na sociedade brasileira atual.

O sincretismo religioso é caracterizado pela congregação de duas ou mais crenças, identificando um elo comum entre elas, como ocorre com o candomblé e a religião católica, no Brasil. Portanto, a promessa de Zé-do-Burro é, mesmo que ingenuamente, fruto do sincretismo, pois esse, após algumas tentativas, dirigiu-se a um terreiro de candomblé, onde havia uma imagem de Santa Bárbara, à qual ele intencionou a obrigação.

Em O Pagador de Promessas, o sincretismo religioso perpassa as relações de Zé-do-Burro, ingenuamente, Minha Tia e o grupo de capoeiristas. Durante toda a narrativa, esses personagens associam o nome da santa católica ao de Iansã, orixá que representa Santa Bárbara, no candomblé. Através do seguinte trecho se pode comprovar isso: “[...] E eu me lembrei então que Iansã é Santa Bárbara [...]” (GOMES, p. 47). É possível

A intolerância religiosa propaga-se no livro através do padre, do sacristão e da beata, que repudiam veementemente, o fato de Zé-do-Burro ter feito a promessa em um terreiro de candomblé. Segundo o sacerdote, o terreiro de candomblé é um antro de feitiçaria e a associação de santos católicos a orixás da religião africana, é uma tentativa demoníaca de corroer as bases do catolicismo, assim acusa o padre de Zé-do-Burro ser um das trevas.

A principal consequência provocada pela intolerância foi a morte de Zé-do-Burro que, devido á intransigência dos membros da igreja, foi obrigado a permanecer na rua, submetendo-se a humilhações. A condição imposta a Zé-do-Burro o fez perder a paciência e ameaçar quem o pressionava com uma faca que tinha no bolso, causando assim, um alvoroço na multidão que ali estava, e posteriormente, sua morte com um tiro no peito.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É pertinente salientar que os objetivos desse artigo foram: compreender a importância da escola literária Modernismo, suas características fundamentais, e como esta influenciou na escrita de Dias Gomes. As principais características do Modernismo estão visivelmente presentes em O Pagador de Promessas, pois o livro retrata, de maneira regionalista nordestina, as vida e fala dos personagens.

Aliado ás ideias modernistas, os escritos de Dias Gomes influenciaram em diversos meios artísticos