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"I don't dance": os indícios homoeróticos em High School Musical 2

Por:   •  1/10/2018  •  1.989 Palavras (8 Páginas)  •  560 Visualizações

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Por outro lado, essa cena também pode ser interpretada por um ponto de vista homoerótico, como sendo uma discussão entre os dois personagens sobre aceitação e entrega: Chad como alguém que tem vergonha de se assumir e Ryan como um rapaz que se aceita e que quer ajudar o outro a sair dessa vida reprimida. A cena se desenvolve num jogo de beisebol, o que ajuda a reforçar a imagem de Chad como o homem heterossexual em seu habitat natural: junto com os outros rapazes praticando esporte, o mais distante possível da imagem feminina, figuradamente e também fisicamente, visto que as personagens de Gabriela e Taylor, que antes também estavam presentes, agora se encontram fora do campo, atrás da grade que os cercam.

Então o jogo começa também dando início à música, e o que se vê são os dois rapazes finalmente sorrindo um para o outro — o que, por uma análise coletiva, é entendido como deboche, mas para um espectador mais atento e por uma análise individualista a partir dos indícios deixados por toda a cena, esse deboche na verdade pode ser entendido como flerte —, indicando a tensão sexual que permanecerá durante todo o número musical e também após ele, numa cena que será mencionada mais adiante. O entrosamento entre ambos acontece de forma gradual conforme a música é cantada, mostrando que ao menos naquele momento um pode confiar no outro — ou seja, pode se entregar ao outro.

A princípio, parece uma ideia um tanto absurda este tipo de análise para uma cena de um filme voltado para o público infanto-juvenil, entretanto, ao prestar atenção na letra da música, fica claro que há, sim, uma tensão sexual presente em toda a situação entre os dois. Chad repete incansavelmente que não dança, enquanto Ryan continua a insistir que um não exclui o outro, ou seja, dançar bem não faz com que ele deixe de jogar bem. Os dois atos, de dançar e de jogar beisebol, podem ser interpretados como análogos às ideias de feminino e masculino, o que seria uma alusão a uma possível bissexualidade de Chad, com a qual ele não se sente confortável.

Além disso, também há outros versos que possuem outra conotação. Ao fazer um paralelo com “Missa do galo”, de Machado de Assis, nota-se o uso de certas palavras que também podem ser interpretadas de outro modo, porém em momentos fora de um contexto sexual, posicionadas estrategicamente com o intuito de montar uma cena com bastante tensão entre os personagens Conceição e Senhor Nogueira, tais como “[...] eu meti‐me na sala da frente [...]” (p. 12) e “Já disse que ela era boa, muito boa.” (p. 13), o segundo exemplo apostando no jogo de palavras entre “boa mulher” e “mulher boa”. No número musical de “High School Musical 2”, por sua vez, há a ocorrência de versos como “Lean back, tuck it in, take a chance”, verso cantado por Ryan, que no contexto da música pode ser traduzido como “Incline-se, acerte bem no meio, arrisque-se”, mas também há a possibilidade interpretar o trecho “tuck it in” como “enfie”, e também “I’ll show you how I swing”, cantado por Chad, que no contexto da música, traduz-se como “Vou te mostrar como eu rebato”, ao mesmo tempo em que swing também é uma gíria usada para se referir a orientação sexual, ou seja, Chad continua a afirmar que só se atrai por garotas.

Mas o argumento de Chad é rebatido durante a música pois enquanto ele — que é o macho alfa — afirma que não dança, já está dançando, o que pode significar a negação de seu verdadeiro eu caindo por terra e dando espaço para a aceitação de si mesmo e a entrega ao outro (Ryan), que finalmente está conseguindo fazer com que esse homem extremamente masculino e sexualmente reprimido pare de se prender a estereótipos de gênero. Esse momento também fica claro em um trecho da música que pode ser interpretado como Chad admitindo que se sente sexualmente reprimido, em que as vozes de ambos se intercalam, quando Ryan canta que o outro nunca saberá se dança bem se ele nunca tentar, enquanto Chad afirma que há algo que sempre o impede de levar isso à frente: “You'll never know / Oh! I know / If you never try / There’s just one little thing / That stops me every time.” (Você nunca saberá / Ah, eu sei / Se você nunca tentar / Só que há uma pequena coisa / Que sempre me trava).

No final da música, ainda há um momento que Chad diz “[...] não estou dizendo que vou dançar, mas se eu for dançar, o que quer que eu faça?” que pode ser lido como se o rapaz que antes não se aceitava e também negava a sua sexualidade agora entendesse a existência da possibilidade de se interessar pelas duas coisas: a dança e o esporte — ou, as mulheres e os homens.

Após o número musical protagonizado pelos dois rapazes agora felizes, sem escárnio e sem bullying, o filme corta para outra cena em que Troy termina um jogo com seus novos amigos e liga para Chad, porém, o personagem que antes girava em torno de Troy, agora o ignora para que possa brilhar independentemente, e então novamente há um corte de volta para a cena dele e Ryan após o jogo (e a dança), em que um se veste com as roupas do outro. Dessa vez não há tanta necessidade de ir mais a fundo na leitura da cena, afinal, no cinema, esse é um recurso utilizado para deixar subentendido que houve relação sexual.

Mas há um Porém, e o interessante da teoria é que sempre há um Porém. E dessa vez, esse Porém está na individualidade da análise que é feita. Na modernidade, o leitor deixa de ser um sujeito contemplativo e passa a ser um sujeito crítico e mais perceptivo. Portanto, nessa subjetividade presente na análise, faz diferença quem está lendo, quem é que está fazendo a análise dos indícios. Um leitor pode possuir uma visão de um texto literário ao mesmo tempo que outro pode fazer uma leitura completamente diferente do mesmo texto, e isso é problemático porque se baseia em dedução, em suposição. A leitura do número musical analisado anteriormente está embasada nas experiências de jovens LGBT — como eu — que enxergam nessa cena algo que reflete suas próprias vivências, e, no âmbito da crítica e da literatura,

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