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As Perspectivas da etnográfica

Por:   •  21/10/2018  •  2.397 Palavras (10 Páginas)  •  236 Visualizações

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3.2 A etnografia e a abordagem qualitativa em sala de aula

Como foi dito anteriormente, a sala de aula também pode ser palco de uma pesquisa etnográfica e, mais precisamente nos últimos tempos, muitos pesquisadores têm optado por esse método de investigação na sala de aula de L2/LE, como é o caso de Cançado (1994) ao pesquisar uma sala de aula de português como língua estrangeira; Miccoli (1997), que investigou as experiências de alguns aprendizes universitários de inglês como língua estrangeira; e Rees (2003), cuja pesquisa foi realizada na sala de aula de literatura americana na universidade.

Dentre os estudos que optam pelas diretrizes da abordagem etnográfica, muitos se classificam como simplesmente etnográficos, e outros procuram deixar claro de que se trata de uma pesquisa do tipo etnográfico, visto que, como enfatiza André (2005, p. 28), “o que se tem feito, pois, é uma adaptação da etnografia à educação, o que me leva a concluir que fazemos estudos do tipo etnográfico e não etnografia no seu sentido estrito”.

Por uma simples questão de nomenclatura, para o presente estudo adotaremos os termos pesquisa ou investigação etnográfica, por acreditarmos que o seu perfil segue os critérios etnográficos de investigação. Sabemos, no entanto, que a etnografia possui na antropologia as suas raízes e que muitas técnicas, tais como a longa permanência do pesquisador no campo, não se mostram, muitas vezes, viáveis para o etnógrafo da educação (André, 2005). De acordo com Erickson (1984), os exemplos trazidos por Malinowski (1976) através de sua experiência etnográfica representam, para a nova geração de etnógrafos, uma espécie de paradigma, que não pode ser esquecido, mas que não se mostra apropriado para uma realização em seu sentido literal. Reafirmando essa questão, Wolcott (1992, p. 38) destaca que

[g]rande parte das pesquisas qualitativas na área da educação revela mais evidências de adaptações do que de adoções, mas nem por isso tais estudos deixam de exibir um vigor híbrido admirável e servem como modelos para os trabalhos pertencentes ao campo original.

Seguindo os direcionamentos anteriormente apontados, conceber, portanto, uma pesquisa etnográfica é, antes de tudo, associá-la à abordagem qualitativa ou interpretativista de pesquisa. Em outros termos, o que caracteriza a investigação qualitativa é a coleta dos dados em seu ambiente natural, constituindo o investigador em seu principal instrumento. Além disso, trata-se de um estudo descritivo, flexível, no qual o pesquisador assume uma postura reflexiva em todos os momentos que revê os dados. Na abordagem qualitativa de análise, é preciso que o investigador esteja atento àqueles elementos que aparentemente parecem insignificantes, mas que são, em sua grande parte, fontes ricas de interpretação. A pesquisa de cunho qualitativo preocupa-se, ainda, mais com o processo do que com os resultados e, acima de tudo, procura produzir explicações sociais que não estejam limitadas ao particular ou idiossincrático, mas que possam ser generalizáveis de alguma forma. Além disso, é também reconhecida como método interpretativo de análise, pois considera as perspectivas dos sujeitos participantes inseridos nos eventos, e não somente a visão do pesquisador. (Erickson, 1981, 1984; Van Lier, 1988; Watson-Gegeo, 1988; Larsen-Freeman e Long, 1991; Nunan, 1992; Wolcott, 1992; Bogdan e Biklen, 1994; Cançado, 1994; Erickson e Linn, 1996; Mason, 1996; André, 2005).

No próximo tópico, abordaremos as premissas que regem a pesquisa etnográfica e, paralelamente a elas, descreveremos nossa investigação.

3.3 Os princípios da pesquisa etnográfica e a descrição do estudo

Tendo em vista as questões já discutidas, o estudo que iremos descrever segue os princípios da pesquisa etnográfica e é, essencialmente, qualitativo, conforme as diretrizes apontadas por Spradley (1980), Van Lier (1988), Spindler e Spindler (1992), Wolcott (1992) e Fetterman (1998).

Segundo os critérios da pesquisa etnográfica, o pesquisador deve desenvolver seu trabalho de campo em um tempo que seja suficiente para a observação de eventos que ocorrem em uma freqüência que seja relativamente elevada, por meio do qual ele possa desenvolver o princípio holístico de investigação (Spradley, 1980; Erickson, 1981, 1984; Van Lier, 1988; Watson-Gegeo, 1988; Johnson, 1992; Spindler e Spindler, 1992; Cançado, 1994; Fetterman, 1998; André, 2005). Em outras palavras, o princípio holístico “examina a sala de aula como um todo: todos os aspectos têm relevância para a análise da interação, tanto os aspectos sociais, como os pessoais, os físicos etc.” (Cançado, 1994, p. 56). Para Watson-Gegeo (1988, p. 577),

[a] etnografia diferencia-se das outras formas de pesquisa qualitativa porque se preocupa em ser holística e na maneira com que trata a cultura, isto é, como parte integrante da análise (não somente como um entre muitos fatores a ser levado em consideração).

Acreditamos que o presente estudo segue tais critérios, pois todo o curso foi observado e seus eventos em contexto natural, a sala de aula, foram registrados em vídeo, além dos diários terem sido respondidos pelos participantes em treze das quatorze aulas gravadas.

Outras diretrizes da pesquisa etnográfica encontram-se, também, neste estudo, a saber, a importância da fundamentação teórica para o direcionamento da investigação e os princípios êmico e ético[4] de análise (Spradley, 1980; Erickson, 1984; Van Lier, 1988; Watson-Gegeo, 1988; Johnson, 1992; Spindler e Spindler, 1992; Cançado, 1994; Fetterman, 1998; André, 2005). Quanto aos embasamentos teóricos, nenhum estudo, etnográfico ou não, pode ser conduzido sem uma teoria ou modelo que o apoie. As teorias mais relevantes sobre o processo ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras são aquelas que, essencialmente, discutem os processos sociais e culturais, as atitudes lingüísticas e as motivações sócio-psicológicas (Johnson, 1992; Fetterman, 1998). Nesse sentido, para essa pesquisa, optamos fundamentalmente pela teoria sociocultural de Vygotsky (2003a; 2003b), o princípio dialógico de Bakhtin (1997, 1998, 2004) e, sobretudo, por seus postulados referentes à importância da interação social, presente nas relações humanas e, de igual modo, indispensável no contexto da sala de aula de L2/LE.

Quanto aos princípios êmico e ético de análise, uma pesquisa etnográfica não se constrói sem o compromisso de compreender os fenômenos sob investigação a partir do ponto de vista de seus participantes

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