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OS ANTECEDENTES DO CONFLITO

Por:   •  24/10/2018  •  2.058 Palavras (9 Páginas)  •  283 Visualizações

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de terras a serviço dos grandes pecuaristas e das companhias particulares de colonização atingiram grupos expressivos de pequenos sitiantes e posseiros caboclo. Nos primeiros anos do século XX, a questão dos limites entre os estados ficou mais afiada. Depois de tentativas inúteis, Santa Catarina movera uma ação judiciária contra o estado vizinho - Paraná, para que este fosse obrigado a respeitar os limites considerados legais a entregar os territórios pertinentes a Santa Catarina. O superior Tribunal Federal em 1904 condenou o Paraná, mas os seus representantes recorreram à sentença e em 1909 confirmou a sentença anterior. Esse fato provocou uma agitação entre os dois estados, porque a região que disputavam na época eram duas frentes extrativas de erva-mate. Em1910, o Superior Tribunal Federal rejeitou os embargos do Paraná e confirmou a sentença de 1904 e 1909. A sentença estabelecia os limites entre os dois estados nos rios Negro e Iguaçu.

1.1 - A Brazil Railway

Um elemento que também contribuiu muito para a instabilidade social da região do Contestado foi à introdução da ferrovia. A construção da linha entre União da Vitória e Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul, concluído em 1913, motivou uma série de problemas para região, que resultou na expulsão de inúmeras famílias posseiras que ocupavam a região, como a diminuição do poder dos coronéis. Essa nova realidade provocou uma reordenação das relações sociais gerando um clima de tensão e produzindo uma sensação de estranhamento e de desorientação entre a população. . A Brazil Railway era a empresa concessionária responsável pela exploração da linha por 90 anos, que era formada pelo magnata norte-americano Percival Farquhar com a contribuição de capitais ingleses e franceses, que além de juros em caso de prejuízo, recebia como doação por parte do governo federal um trecho de até 15 quilômetros de terras de cada margem da linha.

O antigo caminho das tropas foi se extinguindo, levando à queda econômica trilhas inteiras recheadas de vendas, locais de pouso e descanso, principalmente no interior dos municípios de Lages, campos Novos, Curitibanos e Canoinhas. As regiões distantes da linha férrea passaram a sofre com os custos altos do transporte. O trecho da ferrovia em território Catarinense passava pela margem do rio peixe, abrindo estas terras para a exploração de madeiras e para a ocupação estrangeira da promovida pela empresa South Brazil Lumber and Colonization auxiliar da Brazil Railway, estabelecida justamente para exploração das terras marginais e adquiridas na concessão, com isso ficou conhecida como a maior madeireira da América do Sul.

È difícil fixar a origem da mão-de-obra empregada na construção da ferrovia, segundo Paulo Pinheiro Machado afirma que:

Como conseqüência da sua pesquisa, podemos recusar a informação, levantada por diversos autores, de que boa parte dos trabalhadores que constituíram a linha de ferro eram indivíduos (desempregados e criminosos) enviados de outras regiões do país. Pelo contrário, os dados disponíveis apontam para o emprego maciço de habitantes da região entre “turneiros”, e não há, entre as lideranças rebeldes, pessoas que tenham sido deportadas de outras regiões para trabalhar nestas obras.

(MACHADO, 2004, p: 338)

Machado cita que as maioria dos trabalhadores são da região, mas que também veio pessoas de outras regiões do Brasil, só que em proporções menores, até porque nos dois primeiro anos foram empregados cerca de 8 a 10 mil trabalhadores para construção da ferrovia. O desemprego, que ocorreu no final do primeiro trecho da ferrovia é realmente ruim, principalmente para os moradores da região que contavam com esta forma alternativa de renda, que compensava a decadência do caminho das tropas.

No entanto acontecimentos que ocorreram antes da Guerra do Contestado, fizeram com que a região ficasse revoltada com a situação que estavam passando e, além disso, a região já tinha uma tradição rebelde que estava consolidada na participação dos serranos nas revoluções Farroupilha e Federalista, com tudo isso a região ficou terreno fácil para o aparecimento de messias.

2. O Messianismo na Região do Contestado

No interior de Santa Catarina entre as populações caboclas, nas regiões de fazendas de gados e de agricultura de subsistência se estendeu um movimento messiânico dentre 1910 e 1914. Longe do litoral, se mostrava zona fértil no aparecimento de profetas e messias desde meados do século XIX, mas que tiveram apenas pequena repercussão local. Eram chamados de monges embora não pertencesse a nenhuma congregação religiosa; leigos tinham resolvido dedicar a sua vida à religiosa.

2.1 João Maria

João Maria se destacou entre os monges que apareceram na região do Contestado, por causa, da sua persistência de sua pregação, pelo sucesso que obteve, pela grande área que sua fama cobriu, que até hoje é reverenciado como um santo.

Em uma pesquisa detalhada que o autor Oswaldo Cabral fez sobre a figura de João Maria, afirma que existiram pelo menos dois homens distintos, que exerceram essa função. Um deles, João Maria Agostini, de origem italiana, que evitava concentração de fieis em torno de si, vivia em constante peregrinação, dormia geralmente de baixo das árvores, não comia carne, só frutas e verduras, a sua presença registrada em Sorocaba em 1844, onde viveu alguns anos como eremita no morro lado da fábrica de ferro que havia no Rio Grande do Sul no final da década de 1940, onde fundou uma capela, em Campestre, próximo a santa Maria, uma capela dedicada ao culto de santo Antão ( ou santo Antônio Abade) . Em outra região, no morro do Botucaraí, levantou cruzeiro e mostrou à população uma colina de “água santa”. Em 1850, registros mostram passagem de João Maria de Agostinho por Lapa, no Paraná. O costume João Maria era convencer a população de que deveriam erguer cruzes em determinadas localidades, utilizar as águas especiais curativas, aos sábados não comer carne e ter uma vida de respeito e penitência.

O importante observar que ele tinha uma relação bastante próxima com a estrutura oficial da Igreja Católica. Em alguns momentos na capela da Fábrica de ferro de Ipanema, em Sorocaba, depois da missa feita pelo padre Antônio Dias de Arruda, João Maria falava aos assistentes e tendo uma grande aceitação.

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