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Glossário para acompanhar iniciantes em estudo de Licenciatura em História

Por:   •  9/7/2018  •  Resenha  •  6.278 Palavras (26 Páginas)  •  253 Visualizações

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GLOSSÁRIO PARA ACOMPANHAMENTO DE ESTUDOS

1. Narrativa Histórica

a) White

Conforme observou Hayden White, até a Revolução Francesa a historiografia era vista como uma arte retóriconarrativa, sendo sua natureza literária comumente reconhecida entre literatos e historiadores. O historiador era, em última instância, um narrador de acontecimentos dotado de procedimentos retórico-narrativos. No entanto, em decorrência de sua busca pela objetividade e pela verdade – elementos tidos na época como basilares de qualquer ciência –, boa parte da historiografia do século XIX aboliu dos estudos da história o recurso às técnicas ficcionais de representação. Assim, o próprio nascimento da história enquanto disciplina se pautou naquilo que ela não deveria ser – mito, fábula ou poesia –, já que essas estruturas não trariam, dentro da lógica do século XIX, um conhecimento verdadeiro, esse sim o objetivo maior do historiador. (OLIVEIRA, p. 1)

b) Chartier

Toda produção historiográfica, seja ela “tradicional”, estruturalista ou marxista, é regulada por  princípios narrativos, na medida em que os elementos com os quais o historiador trabalha – mentalidades, sociedade, memória coletiva ou eventos pontuais – são como personagens de um enredo. A narrativa é fundamental por ter a capacidade de articular os traços da experiência temporal, isto é, o tempo só se mostra inteligível para o homem na medida em que ele é pensado de modo narrativo. Deste modo, ressalta Chartier, não se trata propriamente de um retorno da narrativa, mas sim de um deslocamento da prática historiográfica para outras estruturas narrativas não consideradas pela história até então, em especial aquelas vinculadas à literatura, além de um distanciamento dos historiadores em relação aos modelos clássicos de narrativa histórica.   (OLIVEIRA, p.2)

c) Peter Burker

Segundo Peter Burke (1992), não obstante história e literatura convergirem em diversos aspectos no que se refere ao estatuto narrativo de ambas, a historiografia não avançará muito, caso se engaje no que o autor chama de “experiências literárias”. O proveito da história em buscar na literatura elementos narrativos não reside em uma simples aceitação de técnicas literárias, mas sim na criação de uma consciência de que as “velhas formas” de se construir o discurso histórico não dão conta das atuais buscas dos pesquisadores. Preocupado em discutir uma forma de narrativa histórica que articule a esfera das estruturas com a dos acontecimentos – Burke acredita que as narrativas históricas pós-estruturalismo comumente se situam entre esses dois pólos –, a literatura pode oferecer técnicas que auxiliem essa articulação. (OLIVEIRA, p. 4)

2. Crise Epistomológica e Novos Paradigmas

Portanto, a epistemologia sofre uma fértil indecisão entre filosofia e ciência, constituindo-se uma atitude reflexiva sobre o conhecimento (avaliação, racionalização e crítica), mas, buscando rigor, procura transferir a discussão filosófica para a objetividade científica. Entretanto, BACHELARD lembra que a ciência propriamente dita tampouco é perfeitamente objetiva, uma vez que o cientista já se compromete com sua pesquisa: a escolha compreende caráter filosófico, sendo óbvio que de cada ato psicológico de conhecimento surjam perturbações ou inércias, obstáculos epistemológicos, preconceitos ou hábitos intelectuais. Segundo ele, o espírito científico se forma contra a natureza, pois combate o fato variado, e, deformando-a, exige purificar e ordenar fenômenos, resistindo - uma ciência imóvel e isolada, desligada das observações iniciais, se mostra como antiphysis. (ROCHA, p. 3, 2001)

A chamada mudança de paradigma nos parece que é devido ao embate inevitável, embora imprevisível, entre uma perspectiva objetiva e subjetiva de todo fazer humano e principalmente científico. Parece-nos que ambos paradigmas são ineficientes para uma ideal compreensão do fenômeno natural-humano e da solução do problema da manutenção de um desenvolvimento tecnológico e cultural que seja sustentável para as demais gerações. A discussão cada vez mais presente em torno da sustentabilidade concorre para um sentido ambíguo que configura a presença humana em sua existência biológica e social no planeta: a de criador e criatura, produtor e consumidor de novos mundos e realidades, jamais satisfeito, sempre carente por novidades.  Em uma época que tende a subordinar o humano ao tecnológico e ao econômico, as mudanças para um paradigma ecológico-educacional sócio-ambiental e interdisciplinar parecem convergir para uma maior sensibilização dos processos sociais ao exigir o protagonismo de todos. Um novo paradigma parece procurar desenvolver uma visão mais integral e integrada do ser humano, composta por suas relações com as várias dimensões que constituem sua natureza: a relação consigo mesmo, com as demais pessoas, com a natureza e até mesmo com o mundo transcendente. Isto faria com que a primitiva união inconsciente com o mundo se faça mais presente do que a alienação reinante das últimas décadas. (ROCHA, p.13, 2001)

3. Interdisciplinaridade na História

Durante o século XIX a história do saber passou pelo impacto da expansão do trabalho científico, foi o momento de definição dos espaços, da dissociação das partes para melhor defini-las. Todas as áreas do conhecimento buscavam o máximo de especialização. No decorrer do tempo, sobretudo, na segunda metade do século XX, tal fragmentação demonstrou fragilidade na busca pela compreensão da realidade, ao passo em que a formação humana em si exigia e exige uma completude frente ao mundo que não se apresenta fragmentado. Abriu-se espaço para a construção de um novo paradigma de ciência, de produção de conhecimento e a elaboração de um novo projeto de educação e de escola, abriu-se espaço para a interdisciplinaridade. O movimento interdisciplinar surgiu na Europa, mais especificamente na França e na Itália em meados da década de 1960, época em que surgiam movimentos estudantis que colocavam em discussão a necessidade de um novo estatuto para a universidade e para a escola (FAZENDA, 1994, p. 18). Objetivava-se superar o pensamento positivista da superespecialização. A prática interdisciplinar superaria o que ficou conhecido como crise da modernidade. (LIMA e AZEVEDO, p. 128, 2013)

4. História e Ficção (Literatura)

Para Santo Agostinho, a ficção, na escrita, é uma construção que pode ser tanto mentirosa quanto uma figuração da verdade. Segundo Isidoro de Sevilha, a ficção seria o verossímil, não o falso.

Conforme este raciocínio, a separação rígida entre ficção e historiografia se torna problemática. Se a escrita ficcional não é necessariamente falsa, pode ser verdadeira ou verossímil, há espaço na história para a ficção e a escrita literária. Um trabalho de história – independente da quantidade ou qualidade das fontes, aliás, por causa delas mesmo – é todo ele uma construção: seleção e recorte de documentos, elaboração das hipóteses e o próprio desenvolvimento da pesquisa. Conforme Lloyd Kramer, a “dimensão fictícia e imaginária de todos os relatos de acontecimentos não significa que eles não tenham realmente acontecido, mas, sim, que [...] [para] descrever os acontecimentos [...] deve levar em conta diferentes formas de imaginação”.31 Dois outros pontos reforçam o traço fictício do trabalho do historiador. Primeiro, a construção do saber histórico é um processo baseado em vestígios e testemunhos, não na “coisa em si”. Segundo, a linguagem que o historiador utiliza é a mesma da ficção literária. A realidade fica, pois, subordinada ao modo como é empregada a linguagem; se controlada pela fonte ou não. (VIEIRA, p. 21-22, 2009)

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