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FIGURAÇÕES DE LIBERDADE: A RESISTÊNCIA NO CINEMA NA CIDADE DE RIO BRANCO (1971-1981)

Por:   •  9/10/2018  •  6.338 Palavras (26 Páginas)  •  369 Visualizações

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Na década de 60 e 70 era muito comum as pessoas virem para o futebol, foi o período que começaram a chegar os circos pra cidade [...] Era muito comum a chegada do ‘Faquires’, artistas de ruas; aqui para o Acre quando tinha uma quadra de esportes em frente à esplanada do Palácio, que ficavam deitados em cima de vidro, ou então ficavam enterrados debaixo da terra tantos dias, ou aqueles ciclistas que ficavam dias e dias sem sair de cima das bicicletas pilotando naquela quadra. Era comum a banda de música ficar tocando na praça aqui em frente do Palácio e as famílias depois da missa descer e subir a ladeira ali de frente à Casa Natal, onde tinha muitos pés de Benjamins. Quando a banda tocava e as pessoas ficavam passeando até as 9 horas da noite. Era comum sair da missa e ir ao zoológico que era detrás do Palácio do governo, ali por detrás onde tem aquela praça de frente ao Memorial dos Autonomistas hoje em dia [2].

Outra forma de diversão existente em Rio Branco era o futebol, que indiferente ao concurso de Miss Acre, arrastava multidões ao Estádio e ocupava páginas inteiras de destaque no jornal O Rio Branco: “Leão Azul miou fino para Galo muito Machão”[3]. Ou ainda: “Decisão empolga o Estado: Independência a um passo do título-74”[4].

Logo, o futebol era uma das grandes atrações culturais, que mexiam com as pessoas e, como já dito, arrastava e emocionava inúmeros torcedores.

Na década de 60 quando comecei a ir pro estádio, eu gostava muito de futebol, porque eu assisti um jogo do Rio Branco e vi um jogador com tanta paixão pelo time, chorando porque o time havia perdido, no caso o Rio Branco, a partir daquele dia eu passei a torcer pelo Rio Branco. Havia também alguns outros times que vinham de fora, que eram as grandes sensações. Agora a época que mais frequentei o campo de futebol foi na década de 70. Nós tínhamos excelentes jogadores [...] Tinha um jogador oriundo de Manaus chamado Socó[5] e ele era de uma eletricidade no campo que me chamava muito atenção a habilidade daquele jogador[6].

Claro que não podemos deixar de destacar os cinemas que aqui existiam: o Cine Rio Branco; o Cine Acre e o Cine Teatro Recreio. O cinema trazia um imaginário novo à população acreana. Para Costa Júnior (2010), o cinema trazia imagens de uma outra realidade, que por muitas vezes eram incorporadas pelas pessoas que assistiam aos filmes, como, por exemplo, os filmes de kung fu, western etc., que faziam parte das brincadeiras das crianças, além de outros modelos de vida que o cinema trazia aos acreanos, muitas vezes, no modo de se vestir, de se falar etc.

A vida cultural do povo de Rio Branco era evidenciada também com os festivais de músicas, os shows de calouros, as radionovelas da RDA e a irradiação de músicas, muitas vezes dedicadas a alguém, através de seus programas, o cinema, peças teatrais etc. conforme afirma Costa Júnior (2010):

A década de 1970, em Rio Branco-Acre é um período bastante rico no tocante a movimentos culturais, pois nesta mesma época o movimento cultural na cidade ganhava novos tons, sons e cores [...] [foi] marcada pela ‘explosão’ dos movimentos culturais, como teatro, [artes plásticas], música, literatura e cinema[7].

A cidade também vivia um estado de ansiedade e euforia, com as promessas dos governantes, em seus discursos políticos carregados de interesses, desejos e poder nos meios de comunicação do Estado, e algumas de suas realizações, que prometiam trazer o “progresso”. Como era noticiado no jornal O Rio Branco: “Jorge Kalume realizou sonho de quase meio século”, e continua:

Inauguração da Ponte, participação da cidade e do interior; de autoridades como o ministro Costa Cavalcanti representando o presidente Médici; clérigos como Dom Giocondo Maria Grotti, que benzeu as instalações da ponte; e jornalistas. Às 17 horas o governador acionou a chave do sistema de eletrificação da ponte, seguindo-se espetáculos e fogos de artifícios[8].

Três anos depois ficaria pronta a nova ponte, conhecida como a “ponte de concreto”. Além da chegada da televisão no Acre, como se via nos noticiários jornalísticos: “TV Acre presença efetiva” [9]. Em outra manchete o jornal O Rio Branco volta a destacar a novidade que prometia mudar o ritmo da cidade:

Televisão parou ontem a cidade: Bem iluminada e totalmente asfaltada a rua Cel. Silvestre Gomes Coelho, onde está a situação e o equipamento transmissor [...] É grande o trânsito de veículos e curiosos para ver de perto a pioneira TV Acre – canal 4 [...] A cidade já sentiu a mudança operada com a presença da TV, como viu-se ontem à noite, durante a checagem dos testes de imagem: cessou totalmente o movimento nas ruas, com todos em suas casas ou nas dos vizinhos, vendo filmes e novelas. Os cinemas ficaram vazios e os próprios comícios eleitorais sentiram a ausência do público. Hoje, a grande vítima será o futebol. Lojas como a Roraima esgotaram os aparelhos de TV (Philco 22 polegadas, CR$ 2.200,00 em média) [...] [10].

Enfim, a cidade vivia uma grande movimentação sociocultural, com vários entretenimentos, diversões, promessas de “progresso” e “desenvolvimento” enraizadas nos discursos oficiais dos chefes políticos e a euforia do porvir.

O município de Rio Branco, capital do Acre, era um dos sete municípios existentes no Acre na década de 1970, conforme observamos no mapa político do Estado.

[pic 1]

Figura 1: Mapa do Estado do Acre. Divisão político-administrativa em 1970 [Fonte IBGE].

A capital acreana, na década de 1970, possuía aproximadamente 84 mil habitantes, de acordo com os dados censitários do IBGE[11]. Entretanto o seu maior contingente populacional era composto pelos habitantes da zona rural que representavam um número aproximado de 48. 500 habitantes, enquanto os habitantes da zona urbana representavam aproximadamente 36.000 habitantes[12].

Essa disparidade é notada mais nitidamente na população total do estado, o qual contava com 214.038 habitantes, sendo a maior parte desses habitantes da zona rural, com um total de 154.768, contra apenas 59.270 habitantes da zona urbana[13], mostrando, assim, a importância do rádio, esse meio de comunicação de massa capaz de atingir os lugares mais distantes e servir como veículo de comunicação para essas pessoas “distantes” dos centros urbanos, e também na irradiação de discursos populares e discursos oficiais.

É somente na década de 1980, como aponta o recenseamento do ano em questão, que teremos na zona urbana de Rio Branco

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