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Artigo História Antiga, Homem bizantino

Por:   •  1/3/2018  •  9.452 Palavras (38 Páginas)  •  272 Visualizações

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2 O Homem Bizantino

Os bizantinos habitam um território que pelo lado do mar goza da posição mais favorável que se possa imaginar, tanto para as necessidades de defesa, como para a prosperidade dos habitantes. Já no século II A.C. o historiador grego Políbio narrava a privilegiada situação geográfica de Bizâncio, cidade que foi fundada no ano de 657 a.C. por um grupo de colonos proveniente da cidade grega de Mégara. Como já observava Políbio, antes mesmo de Bizâncio se tornar um poderoso império no Mediterrâneo, a cidade erguida entre o Bósforo e o mar Negro apresentava uma próspera economia e uma estratégica posição militar. Tais características foram essenciais para que, no século IV D.C., durante árduos tempos pelo qual passava o Império Romano, Constantinopla fosse elevada à capital oriental do Império. Este feito foi levado a cabo pelo então imperador, Constantino, o Grande (305 - 337) no ano de 330 D.C. Tal como fez Políbio, vários outros autores reconheceram que a geografia do Império Bizantino lhe trouxe inúmeras vantagens militares e mercantis. A meu ver, a localização de Bizâncio entre dois mundos – Ocidente e Oriente - permitiu ao Império não somente manter boas relações políticas e comerciais com outros lugares, mas também assegurou que Bizâncio fosse herdeira da cultura clássica no mundo tardo-antigo e medieval, bem como fosse o principal centro intelectual e irradiador dessa cultura no Mediterrâneo.

De fato, os principais pilares do Império Bizantino demonstram o amálgama de duas importantes civilizações: a helênica e a romana cristã. O uso da língua grega sempre foi superior ao do latim entre os bizantinos, fato que ficou marcado quando por volta do século VI D.C. à língua latina entrou em decadência. A partir desta nova configuração, costuma-se dizer que o Império Bizantino, após o reinado de Justiniano (527-565 D.C.), adotou o grego como língua oficial ou que a língua dos romanos agora era o grego. Não somente a língua grega suplantou a latina, mas os costumes romanos deram lugar aos gregos. O Império Bizantino, que tentou por muitos anos restabelecer os domínios territoriais romanos e salvaguardar ao máximo suas tradições, abandonou seu ancestral latino e assumiu uma forma e um conteúdo cada vez mais helênicos.

Assim é graças a este predomínio da língua grega no Oriente Bizantino que uma comunicação mais intensa com as obras clássicas do passado helênico foi possível, bem como as leituras bizantinas dos pensadores cristãos tiveram um formato próprio, uma vez que o cristianismo muito bebeu do pensamento filosófico grego. Nesse sentido, procurarei entender aqui alguns meios que permitiram a grande erudição da sociedade bizantina (RUNCIMAN, Steven).

A importância dada pelos bizantinos à educação foi um fator que teve, evidentemente, uma forte influência no caráter erudito de determinada parte desta civilização. Com efeito, “uma boa educação era o ideal de todo bizantino” a apaideusia – falta de cultura mental – era considerada um infortúnio tremendo. Nesse sentido, para cultivar o gosto pelos estudos e para garantir que parte dos cidadãos fosse culta, a educação no Império Bizantino era bastante sistemática. Autores que trabalham com a questão da educação em Bizâncio costumam alertar para as inúmeras lacunas existentes na documentação sobre este assunto. Contudo, é possível ter uma boa noção dos métodos aplicados e dos conteúdos estudados pelas crianças e pelos jovens bizantinos. Estes métodos iniciavam-se com a educação dada pelas mães no ambiente familiar a partir da exposição oral de aventuras fantásticas da literatura e narrativas das Sagradas Escrituras. Devemos salientar que a educação já sob a tutela materna comenta que a educação das moças das classes mais abastadas era muito semelhante à de seus irmãos, porém as meninas recebiam instruções em casa por professores particulares, enquanto os meninos frequentavam locais próprios para o ensino. Os conteúdos dessa educação eram sem dúvida baseados nos ensinamentos gregos clássicos e nos cristãos Segundo (CAVALLO, Guglielmo), a educação fora do oikos familiar era dividida em três níveis, que remontam ao ensino na Grécia Clássica: o nível elementar, o da gramática e o da retórica. No primeiro nível, os alunos, com mais ou menos seis anos de idade, aprendiam os nomes e as formas das letras, as sílabas e as palavras mais curtas. Aprendiam também algumas fábulas que deveriam ser memorizadas, como as “Fábulas de Ensopo”. Este nível apresentava métodos pedagógicos simples, mas de extrema importância, pois ensinavam aos alunos as bases da escrita da língua grega.

Ao passarem para o nível da gramática, os estudantes aprendiam a ler e a compreender a literatura da Grécia Clássica, aprendiam também a morfologia dos substantivos e dos verbos e estudavam os vários dialetos em que a literatura estava escrita, bem como palavras de uso estritamente literário (CAVALLO, Guglielmo).

É importante lembrarmos o porquê da ênfase na língua grega escrita e seus diferentes usos. O grego falado pelos bizantinos era bastante distinto do grego clássico, pois os intermitentes contatos com vocábulos latinos, árabes e armênios modificaram profundamente a estrutura da língua, (GIORDANI, Mario Curtis).

Nesse sentido, havia um grande abismo entre a língua popular e a língua dos homens cultos, esta inclusive foi considerada por alguns autores como uma “língua artificial”. Não por acaso, portanto os bizantinos achavam difícil o estudo da poesia grega clássica. Sendo assim, atribuía-se fundamental importância ao estudo inicial da gramática, uma vez que esta embasava o prosseguimento intelectual dos alunos bizantinos. Para suprir a necessidade de tal aprendizado, o professor de gramática podia trabalhar com a Arte da Gramática (technê grammatikê), de Dionísio Trácio do século II A.C. e com os Cânones (Kanones), de Teodósio de Alexandria – c. 500 A.C.- que eram ambos tratados sobre morfologia e etimologia. Além da aprendizagem teórica, os professores davam ênfase em uma aprendizagem mais prática, que consistia em leituras de textos literários e que tinha por objetivo a memorização por parte dos estudantes.

O ensino baseado na oralidade e nas técnicas mnemônicas de retenção dos textos estudados era um dos pilares da educação bizantina, uma vez que a existência de cópias para os alunos dos tratados e dos livros trabalhados pelos professores era muito rara. Inicialmente, portanto, as obras homéricas como Ilíada e Odisseia deveriam embasar os conhecimentos memorizados pelos estudantes, seguidas por passagens da Bíblia.

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