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A CONQUISTA DA AMÉRICA: A DESCOBERTA QUE O EU FAZ DO OUTRO

Por:   •  8/12/2018  •  1.784 Palavras (8 Páginas)  •  368 Visualizações

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Cortez, o segundo personagem do texto, bem diferente de Colombo: ele parte para a franca conquista do continente em busca de metais preciosos. Cortez ao chegar na Cidade do México, fica impressionado com a beleza e o avanço tecnológico, em comparação as cidades espanholas. Entretanto, ele não dá o braço a torcer. Muito esperto, sempre fala da Espanha como se lá fosse superior. Cortez cria uma imagem de si próprio. Tudo para confundir o imperador asteca da época, Montezuma.

Montezuma, o Tlatoani, era o Imperador Asteca quando Cortez desembarcou no continente. Sua função era interpretar as mensagens e os escritos divinos dos deuses e transmiti-los a nação. Considerado líder máximo e a representação da Terra mais próxima dos Deuses.

A principal diferença entre Cortez e Montezuma é sem dúvida a maneira de como ambos interpretam os símbolos e de como espanhóis e astecas se relacionam com o tempo. Astecas interpretam o mundo através de mensagens (TODOROV, 1982) e acreditam que todas as previsões do futuro se realizam e que nada pode as impedir (Chilam Balam, 22). Montezuma e seus semelhantes não separam o que é humano e o que é divino, e a “falta de respostas dos deuses” é um vetor para a perda na guerra: os astecas demoraram a responder contra a conquista espanhola. Cortez reconhece os índios como homens e reconhece essa diferença de leitura do outro. Ele consegue manipular a linguagem do outro e burlar as tentativas do Tlatoani de espionagem. Cortez domina a comunicação inter-humana e usa isso para dominar a comunicação homem-mundo dos índios, recorrendo “a muitos estratagemas para dissimular suas verdades, fontes de informação, para fazer crer que suas informações não provêm do intercâmbio com os homens, e sim do intercâmbio com o sobrenatural” (TODOROV, 1982), ou seja, ele domina os índios também no plano psicológico.

A descoberta entre astecas e espanhóis foi sentida de maneiras diferentes. Para os Astecas, os espanhóis eram tão diferentes que não podiam ser enquadrados nas categorias humanas até então conhecidas por eles. Semelhante a Colombo, porém ao invés de tratarem os espanhóis como animais, os trataram como “o intercâmbio com os deuses” (TODOROV, 1982), isto é, a incapacidade de reconhecer a identidade humana do outro, devido ao grande choque cultural. É fato de que esta impressão não dura muito, porém o suficiente para espanhóis dizimarem e dominarem o Império Asteca.

Os astecas não consideravam a anulação do outro, diferentemente dos espanhóis que trabalhavam com a idéia de aniquilamento, anulação e imposição da cultura do conquistador. Mesmo os povos anteriormente escravizados pelos Astecas que ajudaram Cortez na conquista tiveram algum privilégio.

Cortez tem consciência histórica-política e clareza em seus objetivos. Antes de conquistar, ele quer entender como o outro se comporta, quer compreender a comunicação do adversário. Entra em cena Malinche, uma índia que foi dada de presente aos espanhóis, que falava a língua nahuatl, a língua dos astecas. Malinche teve papel fundamental na compreensão do mundo asteca por Cortez e os espanhóis, pois ela logo aprendeu o espanhol e ensinou o nahuatl aos espanhóis.

La Malinche foi aliada indispensável e será amante de Cortez durante a fase decisiva e que sem ela (ou outra pessoa que desempenhasse o mesmo papel) a conquista do México seria impossível (TODOROV, 1982). Malinche é uma personagem interessante, pois na relação com o outrem ela não apenas se submete, mas compreende e utiliza da ideologia do outro para entender melhor a sua própria cultura, mesmo considerando que a entender serviu para dizimá-la. Dotada de uma incrível plasticidade social, símbolo da mestiçagemdas culturas, prenunciando formação do americano moderno: às vezes bilíngüe, porém inevitavelmente multiculturais. “A Malinche glorifica a mistura em detrimento da pureza (asteca ou espanhola)” (TODOROV, 1982).

Nem todos os espanhóis que desembarcaram na América tinham a intenção de escravizar índios. Um deles era Las Casas, padre, que se opunha ao sistema de opressão sanguinário que os conquistadores tinham submetido os índios. Diferente de Cortez, Las Casas não compreende os índios, ele os ama. Las Casas era contra a dizimação, e por ser cristão, queria preservá-los transformando-os em cristãos.

Las Casas talvez não perceba, porém ele não aceita a identidade do índio. Ele o ama apenas se houver conversão. Cortez pensa que os índios devam ser massacrados para respeitar o dominador. Las Casas pensa que os índios deveriam ser cristianizados para serem dominados. Apesar de aparentemente ter boas intenções, havia uma destruição do indivíduo nativo por meio da retirada de cultura, evangelização e forjamento de uma personalidade cristã. “O primeiro grande tratado de Las Casas consagrado à causa dos índios intitula-se: Da única maneira de atrair todos os povos à verdadeira religião. [...] Essa ‘única maneira’ é evidentemente, a suavidade, a persuasão pacífica; a obra de Las Casas é dirigida contra os conquistadores, que pretendem justificar suas guerras de conquista pelo objetivo almeijado, que é a evangelização” (TODOROV, 1982). Afinal, que amor é esse que não aceita a diferença? Las Casas não reconhecia que forçar indivíduos a sua religião e tratá-la como a única verdade, acabava por serem tão violentos quanto os massacres cometidos pelos conquistadores.

Las Casas tentou executar seu método de colonização algumas vezes em alguns pontos, porém sempre que se via em apuros, recorria ao exército e a práticas de dominação do outro que ele próprio era contra. Além disso, a posição de Las Casas em relação aos negros não era muito clara, pois por muito tempo ele não demonstrou a mesma empatia a qual tinha com índios.

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