UMA COMPREENSÃO ACERCA DA EXISTÊNCIA, REFLETIDA NA VIDA DE PASCAL E KIERKEGAARD
Por: Lidieisa • 15/3/2018 • 10.031 Palavras (41 Páginas) • 373 Visualizações
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
introdução
Como Pascal e Kierkegaard foram os pensadores em suas épocas que mais se aprofundaram da questão do ser, se parte da obra de ambos para poder hoje se falar de existencialismo enquanto movimento filosófico, indo de encontro à sua essência teórica. Mesmo que Pascal não se enquadre no termo existencialista, este contribuiu de forma incisiva no tema. O que se observa em ambos, são características presentes no caminho percorrido. Como em Kierkegaard o ponto de partida se configura em um ser humano sedento da Graça Divina e coagido constantemente pelo sentimento de angústia e tal sentimento lhe impede de seguir uma vida, comum à outros indivíduos, também em Pascal a figura divina é uma constante o que reforça a necessidade de um eixo, o Deus cristão, sob o qual a contemplação do ser transcorre.
Não menos defensor de sua fé, Kierkegaard se mostra áspero contra uma igreja que mais parece, zombar de Deus, ou coloca a Sua importância em segundo plano. As formalidades vazias, referidas quanto à prática da religião luterana na Dinamarca lhe são desprezíveis e nocivas à própria fé. Torna-se ele um crítico dos pastores que perpetuavam tal charlatanice, assim como toda a sociedade de Copenhague – e a Dinamarca como um todo – estava se deixando levar pela hipocrisia de acreditar no praticismo dos conceitos sistemáticos e abandonando definitivamente a essência do conhecimento que reside no ser e sua fé no Divino.
Porém, Deus, não protagoniza a obra de ambos, mesmo exercendo grande importância e necessidade de estar vinculado à reflexão, tem-se por objeto, o ser individual, a questão em comum. Questão essa que torna o ser miserável e nessa miséria revela-se a grandiosidade em Pascal, é estritamente individual geradora da angústia necessária em Kierkegaard.
Ao transcorrer a vida de ambos os filósofos se percebe a inclinação para a contemplação. Desde o início ambos têm uma vida dedicada ao conhecimento, e sem dúvida, ascética. Esta fé presente a todo o momento, como que um sustentáculo ao qual se apoia a ética religiosa, toma uma acepção apologética em Pascal. Seu ataque aos jesuítas em defesa da moral religiosa extremada, pregada pelos jansenitas, é sinal de certa intolerância frente à “falsa” moral religiosa, na sua visão, tornando ainda mais absoluto o que a fé significa para ele.
Em ambos os filósofos se sinaliza a marca do sofrimento humano no caminho a perfazer até alcançar a compreensão do ser. O individual é fundamental na concepção de ser, que não chega senão pela admissão de sua fragilidade que o levará a instabilidade consigo mesmo. Mas é exatamente esta instabilidade provocada por si próprio, que o faz chegar a compressão do seu eu.
Tendo salientado as alocuções supracitadas, a presente pesquisa objetiva uma compreensão sistemática, sobre o tema da existência tendo por base a obra de Blaise Pascal e Søren Aabye Kierkegaard, ao mesmo tempo em que se propõe a fazer uma relação do tema com o trajeto individual de cada filósofo para chegar à uma filosofia da existência. Trata-se especificamente dos aspectos precedidos em Pascal e radicados em Kierkegaard que levaram à formulação de teorias resultantes na filosofia da existência como movimento filosófico.
Tendo em vista a correspondência, não em conceitos, mas quanto ao objeto de estudo, ou seja, o ser existente, faz-se uma projeção entre o existencialismo e as teorias de Pascal para que este possa contribuir com o tema proposto.
Em termos gerais, a perspectiva é encontrar diferentes aspectos em cada filósofo, o que cada um tem a dizer sobre a existência. Pelo motivo de muito já se ter estudado sobre a existência humana na filosofia, mas com poucas perspectivas de resposta, essa pesquisa vem contribuir para que haja, não uma conclusão, mas uma aproximação ao mínimo satisfatória e reforçar a importância da reflexão na vida do indivíduo acerca da sua existência.
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Pascal: entre a grandeza e a miséria da condição humana
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A vida de Pascal e os sinais à filosofia da existência
Pascal foi um cristão dedicado, nasceu em Clermont-Ferrand, França em 19 de junho de 1623. Era filho de Étienne Pascal, presidente da Corte de Apelação, e de Antoniette Bejon. Perdeu a sua mãe com três anos de idade, seu Pai tratou da sua educação por ser o único filho do sexo masculino. Achou melhor não colocá-lo sob os cuidados de professores, ele mesmo tratou da educação do jovem Pascal, tinha como prioridade desenvolver o uso ponderado do seu conhecimento. Segundo os escritos de sua irmã, Gilberte Périer, Pascal desde cedo apresentava o dom para o conhecimento, seja pelas respostas bem dadas ou pela profundidade das questões que ele mesmo levantava, sobre qualquer assunto, fato ou objeto.
Em 1631, a família de Pascal se muda para Paris, o que contribui e muito para que ele pudesse entrar em contato com um mundo mais amplo, cultural e intelectualmente, porém seu pai continua dando conta de sua instrução inicial. As línguas principiaram em sua vida um espírito intelectual, Pascal só aprendeu latim aos doze anos, pelo pai é claro, mas nesse tempo aprendeu também todas as regras de gramática em diversos idiomas. Tão cedo já dominava o conhecimento de diversos idiomas, que logo já podia estabelecer facilmente uma lógica de regras gramaticais, por mais complexas que fossem.
Outra área, não menos observada por Étienne na educação de seu filho, eram as ciências naturais, mais propriamente as leis da natureza e técnicas humanas. E isso fazia despertar em Pascal ainda maior apreço pelo conhecimento, possuia insasiável curiosidade, e ficava tão perplexo diante dos fatos cotidianos que ainda menino, se indagava sobre tais e não se contentava com explicações superficiais. Sua genealidade era tão precoce, que aos onze anos escreveu um pequeno tratado sobre sons, que se pode considerar extraordinário para alguém dessa idade. Logo percebeu que sua inclinação era para os números, e é claro, tornou-se um grande matemático, um dos mais notáveis de sua época, e com certeza, um dos maiores de todos os tempos.
Desde pequeno, mostrou-se apaixonado por formas geométricas as quais dominava com plena precisão e imprecionante capacidade de compreensão, tanta que até seu pai se estarrecia a cada nova descoberta que o filho fazia sózinho.
Para
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