Platão diálogos: Protágoras – Górgias - Fedão
Por: SonSolimar • 19/4/2018 • 1.575 Palavras (7 Páginas) • 278 Visualizações
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Sócrates discorda, fazendo uma nova analogia a um homem doente que, visando curar sua enfermidade, se submete a remédios e tratamentos, mesmo desagradáveis, tendo em vista curar-se de sua enfermidade. O mesmo se daria para a alma de homem, que adoeceria com o cometimento de alguma injustiça. Nesse caso, o mais feliz seria aquele homem que não cometesse qualquer ato injusto. Em segundo, teríamos o homem que, tendo cometido ato injusto, foi julgado e punido, e sua enfermidade na alma tratada e curada. Por fim, o mais infeliz seria aquele que após cometer injustiça, não seria castigado de qualquer maneira, e seria forçado a conviver com sua alma doente. Portanto, para o filósofo, caso o poder tenha sido adquirido através de meios injustos, é preferível ser punido a fugir ileso. Com isso termina o 2º ato.
No terceiro ato, Cálicles toma a palavra e começa a discussão com Sócrates, onde o anfitrião critica o modo de debate do filósofo, afirmando que não existem semelhanças entre as Leis da Natureza e as Leis da Cidade, e que Sócrates faz uso de uma ou de outra quando lhe convém. Ele também questiona a utilidade da filosofia, onde afirma que com a idade de Sócrates, existem coisas mais importantes para se preocupar do que se perguntar o porquê das coisas.
Para Cálicles, o governante de uma cidade é naturalmente mais poderoso que os demais cidadãos, uma vez que já nasceu para pertencer a elite e deter maior poder. Sócrates refuta esse argumento, afirmando que por mais poderoso que o governante seja no sentido individual, a verdadeira força encontra-se nos cidadãos, que unidos possuem muito mais poder do que qualquer outro humano individualmente, independente se for o mais poderoso rei.
É importante notar que Cálicles, diferente de Polo e Górgias, é muito mais hostil com Sócrates. Isso fica claro com seus insultos e com seu insaciável desejo de contrapor o filósofo a todo custo. Cálicles faz uma verdadeira zombação do modo como Sócrates guia o discurso, do seu jeito de vida, de suas ideologias. Para ele, mais importante do que chegar à verdade é provar que seu adversário está errado, nem que para isso tenha que diminuí-lo e permanecer na ignorância.
Sócrates leva a discussão a outro ponto, quando indaga se os poderosos também se auto-governam, além de governarem os outros. Cálicles coloca um contraponto, afirmando que o hábil é aquele que possui desejos e os satifaz, levando a um novo debate, onde discute-se o hedonismo ou a temperança como a melhor forma de viver. Sócrates argumenta que certos prazeres não visam o bem-estar da alma, mas apenas satisfação de prazeres injustos e egoístas, afirmando que o bom e o agradável são distintos, e dá como exemplo que muitos prazeres só são usufruídos em situação de dor e desconforto, tal como beber água quando se está com sede.
Mais uma vez, Sócrates ganha a discussão, concluindo que deve-se sempre fazer o agradável em vista do bem, e não o bem em vista do agradável. Cálicles, no entanto, recusa-se a admitir sua derrota, e argumenta para que Sócrates pare de ter em vista apenas o justo, visto que pode vir a sofrer nas mãos de cidadãos mal-intencionados. O filósofo afirma que tem plena noção dessa possibilidade, e não se espantaria caso fosse condenado à morte, visto considerar-se um dos poucos atenienses que se dedica verdadeiramente à arte da política, e ser o único a realmente praticá-la. Afirma também que a morte não deve ser temida, salvo pelos insensatos e injustos. Por fim, termina o discurso contando a seu adversário uma fábula sobre o Tártaro e a Ilha dos Bem-Aventurados, lugar para onde vão, respectivamente, os injustos e os justos
Conclusão:
É perceptível que a temática do diálogo se discorre em volta da retórica. Toda essa “briga de galo” em tono de Sócrates permite a Platão estabelecer o confronto entre dois usos opostos da linguagem – Como instrumento de poder e como instrumento de verdade. Toda essa temática nos submete a enaltecer diversos questionamentos: Princípios de atuação dos homens de Estado, natureza e função da propaganda política, crise dos valores tradicionais, ideal de realização humana.
Uma passagem peculiar é a discursão com Polo, que nos remete a alusão do paradoxo em que a cena pública política sem insere. Tem mais poder aquele que é mais poderoso? Praticar injustiça e viver uma vida infeliz ou sofrer essa injustiça e ter uma alma limpa? Essas considerações nos remetem a percepção de realidade e todo o conflito em volto do que é ético ou moral, do que é certo ou errado. O cenário público estaria fadado à alusão de que ser injusto e fugir ileso é a utopia?
Em que se acomoda a justiça? Os ideais de igualdade entre fortes e fracos seriam respeitados? Ou toda questão proposta, até aqui, não seria dessa revolta dos fracos contra os fortes que surge a lei? Seria os mais poderoso o mais
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