O Pensamento em Hegel
Por: Evandro.2016 • 4/8/2018 • 4.998 Palavras (20 Páginas) • 328 Visualizações
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Nesta segunda obra, Hegel dedicou-se profundamente a uma análise do significado da alienação, concebida como “uma experiência no plano da história em geral” (HRYNIEWICZ, 2002:417). Ademais, ele compreendeu que a alienação se dá no tipo de relação entre o humano e o divino, no tipo de relação que o homem estabelece com Deus. Assim, ele apontou três formas principais pelas quais o homem se relaciona com Deus: grega, judaica e cristã.
A primeira forma é propriamente do mundo grego, onde havia uma relação harmoniosa entre o divino e o humano, ou seja, Deus e Homem eram a mesma coisa. Portanto, segundo Hegel, na religião grega não havia separação entre Deus e os homens, e a consequência dessa relação era a felicidade.
A segunda forma de relação era tipicamente judaica, marcada pela cisão entre o divino e o humano, cuja consequência foi uma vida triste. Assim, a religião judaica serviu de ponte de separação entre o homem e Deus. Há cisão entre o finito e o infinito. Para Hegel, os judeus portavam-se como escravos diante do além.
Finalmente, a terceira forma de relação foi manifestada no Cristianismo, marcada pela reconciliação entre o particular e o universal, cuja consequência consiste na experiência do amor, o qual é regido pelo princípio racional. Importa realçar que Hegel se referia ao verdadeiro cristianismo, o qual estava centrado sobre o princípio do amor, e não aquele herdeiro do judaísmo, marcado pelo legalismo moralista.
Hegel é da ideia de que, enquanto princípio filosófico, a alienação toma a forma de movimento dialéctico, em que da sua decorrência nunca se estabelece uma situação de pacificação definitiva entre alienante e alienado.
Conforme estamos a ver, desta análise minuciosa dos três tipos de religião, Hegel fornece bases para o futuro desenvolvimento do seu sistema. As três formas de manifestação religiosa corresponderão aos três momentos da dialéctica ou do movimento do espírito; ou seja: a religião grega é a tese; religião judaica, antítese; a religião cristã, síntese. A preocupação central de Hegel é buscar a harmonia entre a tese e a antítese, que é papel reservado para a síntese.
- A Dialéctica Hegeliana
A dialéctica constitui o fundamento do pensamento hegeliano. A realidade, para Hegel, é perfeita racionalidade; uma racionalidade não estática, mas dinâmica, em constante desenvolvimento. O único método adequado para o estudo de uma realidade em perpétuo devir – em permanente vir-a-ser – é o método da lógica especulativa ou dialéctica.
De acordo com HRYNIEWICZ (2002:418), Hegel entendeu a dialéctica não como um procedimento do pensamento externo, mas sim uma lei necessária e interna, tanto ao pensamento quanto à realidade. O tratamento de qualquer questão, se quiser ser filosófico e colher a verdade, não pode ser senão dialéctico.
O método dialéctico compõe-se de três momentos, a saber: tese, antítese e síntese. A ‘tese’ constitui o momento do ‘ser em si’; ela põe, afirma uma parte da realidade, negando de forma implícita uma outra parte da realidade, pois toda afirmação inclui uma negação.
A ‘antítese’ é o momento do ‘ser outro’ ou ‘ser fora de si’. Ela contrapõe, afirmando-a, a parte da realidade implicitamente negada pela tese. Hegelianamente falando, o papel da negação consiste em manifestar o que foi obscurecido pela tese, libertar a realidade dos limites da estaticidade e mostrar a sua riqueza interior.
A ‘síntese’, por fim, constitui o momento do ‘ser em si e para si’, momento da conciliação entre a tese e a antítese, em um todo único, o qual anula as imperfeições dos momentos anteriores, mas conserva a positividade deles.
A dialéctica hegeliana, a qual se dá através da tríade: tese, antítese e síntese, está ligada sobretudo à ideia de progresso ou desenvolvimento; não de um progresso ilimitado, mas concreto, através do qual tende ao real, superando as abstracções das contradições. Dialéctica significa superação e conservação. A síntese dialéctica não significa a simples negação, mas a conservação de algumas características daquilo que foi superado. Hegel apresenta a distinção entre a negação externa e negação interna.
“A negação externa é a que se dá entre duas realidades distintas entre si, onde uma não depende da outra: a realidade da casa não depende da realidade do pássaro. A negação interna é aquela na qual duas realidades são interdependentes ou uma depende de outra: a realidade do escravo depende da realidade do senhor ou vice-versa e a realidade da casa depende da realidade do tijolo ou da madeira” (idem).
Outrossim, para se referir ao processo de superação, Hegel empregou o conceito ‘contradição’. Esta, segundo Hegel, reside lá onde há possibilidade de duas realidades entrarem em ‘conflito’, dando origem ao processo dialéctico. E é lá onde a tese encontra a possibilidade de ser negada e superada. Ao passo que o termo ‘oposição’ se dá entre duas realidades internamente distintas. Entre a casa e o pássaro há oposição, enquanto entre o senhor e o escravo há contradição. Ou seja: a realidade da casa não depende da realidade do pássaro; mas a realidade do senhor e a do escravo dependem uma da outra, porque não há senhor sem escravo, nem escravo sem senhor.
De tudo o ficou dito a respeito da dialéctica hegeliana, importa referir que tal constitui o método da pesquisa científica do espírito. Ela constituiu, também, o processo e o movimento da vida do espírito. Toda a filosofia de Hegel não passa do movimento do espírito.
- A Concepção Hegeliana do Espírito como Infinito
Segundo HEGEL apud REALE & ANTISERI (2005:102) “O espírito se auto-gera, gerando ao mesmo tempo sua própria determinação, e superando-a plenamente”. Segundo ele, o espírito é infinito que sempre actua e se realiza como contínua colocação do finito e, concomitantemente, como superação do próprio finito.
O espírito, enquanto movimento, produz paulatinamente os conteúdos determinados e negativos. Na perspectiva hegeliana, o movimento do espírito constitui o movimento de auto reflectir-se ou de reflectir-se em si mesmo. Trata-se, pois, do sentido de circularidade em que princípio e fim coincidem de forma dinâmica.
Nessa reflexão circular, Hegel apresenta três momentos distintos: “ser em si”; “ser outro” ou “ser fora de si”; “retorno a si” ou “ser em si e para si”. A ser assim, o movimento ou o processo auto-produtivo
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