A revolução da fotografia em Walter Benjamin
Por: Sara • 19/10/2018 • 2.958 Palavras (12 Páginas) • 480 Visualizações
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O aqui e agora corresponde a presença física e o local de origem que garantem a originalidade dessa obra, e também estão ligado à introdução da obra na tradição, aos materiais utilizados, suas durabilidades e sua comprovação histórica. Uma forma melhor de explicar o significado de aura e aqui e agora pode-se utilizar A noite estrelada de Vicent Van Gogh, criada em 1890, aos 37 anos, enquanto esteve em um asilo em Saint-Rémy-de-Provence, o aqui e agora se baseia em quando o quadro em si foi criado, quais materiais foram utilizados e seu momento histórico, apenas no aqui e agora possui essa existência única, e somente nele, que se estende à história da obra. O aqui e agora não engloba apenas as transformações que ela sofreu, com a passagem do tempo em sua estrutura física, mas também como as relações de propriedade em que ela ingressou. A aura surge para resumir todas as características, todo seu valor temporal:
O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo o que ela contém de originariamente transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico. Como esse testemunho repousa sobre essa duração, no caso da reprodução, em que o primeiro elemento escapa aos homens, o segundo - o testemunho histórico da coisa - encontra-se igualmente abalado. Não em dose maior, por certo, mas o que é assim abalado é a própria autoria da coisa (BENJAMIN. pag. 225).
Mas podemos ver que enquanto a reprodução manual sempre será considerada uma falsificação a reprodução técnica não ocorre o mesmo e há dois motivos para isso, o primeiro é que a reprodução técnica é mais independente que a reprodução manual, pois a reprodução técnica pode mostrar aspecto que não podem ser vistos a visão natural, um exemplo disso são as lentes de aumento que podem capturar texturas ou imagens que o homem jamais conseguiria ver ao olho nu, em segundo lugar podemos dizer que a reprodução consegue colocar a cópia em lugares que a obra original jamais poderia estar, um exemplo disso é tirar a foto da Basílica de São Pedro no Vaticano e levar essa imagem para o Brasil conseguindo levar a obra original para mais perto do espectador.
Assim, para Benjamin a época da reprodutibilidade técnica a obra de arte irá claramente atingir a aura, pois esse processo de reprodução possuirá a capacidade de destruir o caráter único da obra e sua tradução, e para ele no capitalismo a existência serial destruirá a existência única e o cinema terá o poder de gerar essas contradições:
Quando Abel Gance, em 1927, gritava com entusiasmo: “Shakespeare, Rembrandt, Beethoven farão cinema [...] Todas as lendas, todas as mitologias e todos os mitos, todos os fundadores de religiões e as próprias religiões... esperam ressurreição luminosa, e os heróis batem em nossas portas pedindo para entrar”, sem querer nos convidava para uma liquidação geral. (BENJAMIN. pag. 13).
O Declínio da Aura
Antes de chegar ao declínio da aura é importante esclarecer que houve três momentos importantes antes desse acontecimento: o surgimento da aura nas antigas fotografias, o declínio da aura e consequentemente a criação de auras artificiais. As primeiras fotografias ainda possuíam aura onde pode ser entendida como um halo misterioso, um encontro proveitoso entre o homem e a técnica, as primeiras fotografias tinham como características captar o mistério que se encontrava nos rostos, seria um tipo de energia que surgia através do procedimento técnico e manual e a aura da fotografia seriam os elementos resultantes do ponto em comum ente o objeto e a técnica, e o ritual de contemplação desse rosto será extremamente semelhante ao da pintura:
Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar em todas as frentes, diante do valor de exposição. Mas o valor de culto não se entrega sem oferecer resistência. Sua última trincheira é o rosto humano. Não é por acaso que o retrato era o principal tema das primeiras fotografias. O refúgio derradeiro do valor de culto foi o culto da saudade, consagrada aos amores ausentes ou defuntos. A aura acena pela última vez na expressão fugaz de um rosto, nas antigas fotos. (...) Porém, quando o homem se retira da fotografia, o valor de exposição supera pela primeira vez o valor de culto (BENJAMIN, 1994, p. 174).
Logo, veio à tona o seu declínio, pois para ele começa a existir uma banalização na utilização da fotografia, o que fica claro, para Benjamin, o desaparecimento da aura durante a reprodução técnica, acontece pela apropriação de obras de arte com as copias, que para ele as novas formas de reprodução em grande massa, como por exemplo, o cinema, acaba comprometendo a obra já que esta perde seu valor de único e autêntico e assim resultaria em uma ruptura da arte com a sua função ritualística e transformando sua práxis fundamental: a política.
Todo esse processo de desenvolvimento acelerado da técnica e a reprodução em massa da obra de arte faz com que surja um desinteresse do público, onde Benjamin denomina de "valor ao culto", e ele se encarrega de apresentar o um precursor dessa transição, o fotografo francês Eugène Atget, que usou suas lentes para tirar as primeiras fotos que não eram retratos e sim espaços urbanos vazios, Eugène Atget, será o primeiro a ignorar a fotografia de retratos que estava ligados diretamente com a aura. O que Atget faz segundo Benjamin é levar a fotografia para longe do valor ao culto.
O Surgimento do Cinema
Logo após a explosão da fotografia, surgiu o cinema que era visto como uma evolução, porém no cinema não havia nenhum vestígio de aura, mas mesmo assim Benjamin não deixa de considera-lo como uma arte.
Nunca antes as obras de arte foram tecnicamente reprodutíveis em escala tão elevada e em extensão tão ampla como hoje. No cinema temos uma forma, cujo caráter de arte, pela primeira vez, é determinado de parte a parte por sua reprodutibilidade. (BENJAMIN. Pag. 49).
Esses requisitos essenciais para manter a autenticidade da obra, para que ela possa ser considerada uma verdadeira obra de arte, é colocada de lado com o surgimento do cinema, pois para ele o mais artístico no cinema não se tratava das imagens estarem em movimento, mas sim a arte no processo de montagem.
A obra de arte surge aqui somente em razão da montagem. De uma montagem, na qual cada componente individual é a reprodução de um acontecimento, que não é em si mesmo uma obra de arte, nem resulta em uma obra de arte pela fotografia. (BENJAMIN. Pag. 59).
Mas não é apenas o declínio da aura que acontece a
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