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Proposta de atividade: análise das fotografias como documentos nas aulas de História

Por:   •  6/5/2018  •  2.332 Palavras (10 Páginas)  •  374 Visualizações

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Dessa forma, a serem realizadas em conjunto com os alunos, algumas leituras possíveis em relação à primeira imagem são as seguintes: a fotografia nos mostra uma mulher indígena (que a princípio não podemos determinar à qual etnia pertence), despida de qualquer tipo de vestimenta, provavelmente em sua aldeia. No cenário, podemos identificar a mata atrás da mulher, que carrega ainda uma criança em seu colo, além de portar um grande cesto às costas, o qual suporta com o auxílio de uma faixa presa em sua cabeça, carregando também outros objetos consigo. Podemos revelar aos alunos, então, que se trata de uma mulher Xetá, explorando tudo o que eles já aprenderam sobre a história desse povo.

Partimos, assim, para as observações sobre a segunda imagem: constatamos que se trata também de uma mulher indígena, vestida com roupas comuns às nossas, sentada na calçada em uma cidade, produzindo algum tipo de artesanato e expondo outros objetos já prontos, provavelmente para vendê-los, e acompanhada de duas crianças. Os transeuntes que aparecem no fundo da imagem parecem apressados, não demonstrando se importar ou mesmo notar a presença dos indígenas. Na medida em que esses apontamentos vão sendo feitos, cabe estimular os alunos a pensarem sobre quantas vezes viram esta mesma cena pelas cidades, principalmente nas rodoviárias ou beiras de estrada, destacando que, a população indígena, antes da expansão invasiva dos não índios às suas terras, tinham um modo de vida e muitos traços culturais que hoje não se praticam mais, o que pode ser percebido a partir da destinação atual de sua produção artesanal, que anteriormente designava-se somente à utilidade prática na aldeia, mas que como poderemos verificar nos trechos retirados da reportagem, passam a ser vendidos pela necessidade de complementação de sua renda.

Sendo assim, a vida que se baseava na caça e coleta de seu próprio alimento, hoje não encontra mais espaço para ser vivenciada. Isto porque, a demarcação de terras é sempre questão delicada frente aos interesses dos pecuaristas e agricultores, sobretudo dos proprietários de grandes extensões de terra, ao passo que a necessidade dos indígenas permanece mediada lentamente pela ação do governo. Dessa forma, os índios tiveram que atribuir nova utilidade à produção artesanal, antes destinada ao uso próprio no desempenho de suas atividades cotidianas, mas que agora necessita ser comercializada, desencadeando um trânsito intenso por diversas cidades, em busca de mercado para a venda dos artesanatos, situação esta que trouxe drásticas mudanças na vida dessas populações, lembrando que, ao longo da história, tiveram contato com outras culturas e etnias, através de trocas amistosas ou de forma bélica, mas dentro desses contatos, o encontro com o não índio se mostrou (na maioria das vezes) especialmente perigoso, tanto pela tecnologia quanto pelas lutas que os índios tiveram que travar para sobreviverem às epidemias, guerras, escravidão, aldeamentos e demais esforços que tentavam integrá-los à população nacional. De tais batalhas, poucos indígenas sobreviveram (COHN, 2001). Aliás, um dos exemplos que certamente podem ilustrar este cenário, é a experiência do povo Xetá, representado na primeira figura, que sofreu com o quase extermínio de sua população e, consequentemente, de sua cultura, e dos quais restaram apenas alguns sobreviventes, cujos filhos e netos formam a atual população Xetá residente em nosso estado – estimados entre cem e duzentos indivíduos que ainda anseiam por reunirem-se em uma terra só deles.

Em seguida, considera-se necessário apresentar aos alunos a datação destas imagens, ou seja, em que momento elas ocorreram e foram registradas: a primeira fotografia data da década de 1950, período no qual os Xetá foram contatados oficialmente na Serra dos Dourados, localizada no terceiro planalto do Paraná, por expedições coordenadas pelo pesquisador José Loureiro Fernandes, que informado pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) acerca dos assassinatos e capturas de indígenas que estavam ocorrendo naquela região, convidou cientistas e jornalistas para documentar e divulgar a existência desse povo. Várias viagens foram feitas para a região e, na maioria delas, estava presente Vladimir Kozák, principal responsável pelo registro fotográfico, cinematográfico e sonoro do povo Xetá, e autor da nossa primeira imagem, que está em preto e branco, remetendo talvez às limitações técnicas da época, mas possivelmente também a uma escolha particular de Kozák, uma vez que seus registros fílmicos foram feitos em cores.

A segunda imagem, por outro lado, é bastante recente e data do ano de 2013. De autoria desconhecida, integra o corpo de uma reportagem sobre os perigos aos quais mulheres e crianças indígenas estão expostas ao saírem de suas comunidades para venderem seus artesanatos e conseguirem “fazer algum dinheiro”. A fotografia foi registrada em cores e pode demonstrar, através da maneira como foi enquadrada, a exclusão, o descaso, o abandono e a vulnerabilidade a que estão sujeitas essas pessoas.

- A seguir, efetuar a leitura dos dois textos que deverão contribuir, em conjunto com os dados das imagens, para a reflexão e desenvolvimento das atividades:

Texto 1 – “As injustiças e o despotismo praticados contra os índios dessas terras excederam incomparavelmente o que foi feito na África. Num espaço de 40 anos dois milhões de índios foram destruídos ao longo do litoral e no interior, e também mais de quinhentas aldeias do tamanho de cidades, e ninguém foi punido por isso”.

Relato de Antônio Vieira, padre jesuíta, 1657, (apud, INTERNACIONAL, 2000, p. 11).

Texto 2 – “O fluxo de índios que vêm a Curitiba vender artesanato sempre existiu, mas a rede de assistência social tem observado aumento no número de migrantes temporários. Pelos dados da Fundação de Ação Social (FAS), apenas nas imediações da BR-277, no bairro Orleans, foram identificadas cerca de 30 crianças e 20 mulheres em um mês. Também há indígenas comercializando suas peças na região central e em outros locais de movimento. O ponto de encontro deles é na rodoviária da cidade, onde dormem em situação precária, embaixo de escadas. (...) De acordo com o coordenador técnico da FUNAI em Curitiba, João Luiz Serpa Silvério, a maioria das famílias são da tribo Kaingang e provenientes das cidades de Nova Laranjeiras e Laranjeiras do Sul, na Região Centro-Oeste do estado do Paraná. “Fazemos a conscientização e explicamos sobre os riscos de levar as crianças junto. Mas, como todo brasileiro, o índio tem o direito de ir e vir”, diz. (...) No período de férias

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