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Resenha do livro "A Vida que ninguém vê"

Por:   •  24/1/2018  •  1.362 Palavras (6 Páginas)  •  555 Visualizações

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não o dinheiro, mas uma oportunidade. Afinal, é mais fácil ignorar, fingir que não é com você. Pois bem, não é mais necessário fingir. Camila já não existe mais, e só o que dela restou é seu bordão. Esse não foi submergido.

Outro ponto que merece ressalto é a crônica “Enterro de Pobre”. O texto conta a história de vida (que é cada vez mais, um pouquinho de morte) de Antônio, pai de cinco filhos, dois deles internados e um morto sem ter tido a oportunidade de abrir os olhos, ainda mal formados. A esposa também se encontra em estado de saúde debilitado devido ao parto forçado da última criança. O filho de Antônio morreu sem nome, sem uma história, desprovido do direito mínimo de identidade. Mas mesmo assim, pequeno e efêmero, já representava a sina de toda a sua família. “Esse é o caminho do pobre”. Foram as palavras proferidas por Antônio no enterro de seu filho. Nascer, sobreviver e morrer um pouco a cada dia, o fluido vital sendo expirado junto ao gás carbônico. Eliane tem, nessa história, a missão dura de descrever a realidade árdua e dramática de muitos brasileiros. Realidade essa, que mais uma vez é evitada, silenciada, transformada no invisível. Morte de pobre não é fato digno de nota. Acontece todo dia, já se tornou acontecimento corriqueiro. Brum tem então de enxergar além da névoa, por detrás do túmulo raso, e enfim encontrar o que rege e segura a existência desse povo sofrido: adiar diariamente o destino que pertence a todos nós, mas para Antônio, bate à porta a cada instante. Lutar para fazer dessa vida algo mais apresentável, digno do nome que recebe: Vida. Mesmo que a sina esteja escrita e desenvolvida: “enterro de pobre é triste menos pela morte e mais pela vida”.

A cada página revelando um novo ponto de vista acerca da existência, A Vida que Ninguém vê faz juz ao título que recebe, arremessando histórias que costumamos ignorar. O mundo descansa na zona de conforto, não se permitindo enxergar o que desaba em frente a seus olhos. Como na crônica “O Cativeiro”, em que o macaco ao ver-se livre, preferiu caminhar até o bar e beber uma. Afinal, assim como os humanos fazem, era mais fácil e prático seguir como manda o script. Ao fim dessa história, Eliane Brum convida o leitor a experimentar sair de sua caverna e dar o passo rumo ao conhecimento total de como a vida funciona. Poucos são os que irão adiantar-se e resolver o enigma primordial ao qual é convocado. A maior parte irá preferir seguir conforme manda a música, vivendo as mesmas histórias todos os dias e evitando surpresas e histórias que o façam sentir-se menor. O eterno devaneio programado que assiste a sociedade.

“A revelação dessa visita subversiva ao zoológico é que, no cativeiro, os animais se humanizam. O cárcere lhes arrancam a vida, o desejo e a busca. E mais e mais vão se parecendo com os homens que os procuram com a certeza de um álibi. Perigosa é a pergunta. O que aconteceria se você encontrasse a chave do cadeado invisível da sua vida? O que aconteceria se você saltasse sobre o fosso da sua rotina? O que aconteceria se você desse o passo da elefanta? Bem, talvez seja melhor caminhar até o balcão e beber uma.” – Pág. 56 e 57

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