Valores e Misérias das Vidas Secas
Por: Hugo.bassi • 6/3/2018 • 27.689 Palavras (111 Páginas) • 347 Visualizações
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casamento, Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade
numaalimento e justificara-semudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo..a família falava pouco. E depois daqueletodos calados,aboiava, tangendo um gado inexistente, e latiapapagaio, cachorra.trouxas, cobriu-os comsombra. Sinha Vitórialadeira, chegaram aossaiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.embira esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. ANum cotovelo do caminho avistou um canto de cerca,sangravam.dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos,ferimentos. As alpercatas dele estavam gastasaligeirou Deixaram a margem do rio, acompanharamatitude ridícula. ResolveraAs manchas dos juazeiros tornaram atinha-lhe o que passo, raramente soltavam palavras curtas. O louroandavaaberto esqueceu acomodou os filhos, que arriaram comomolambos. O menino mais velho, passada juazeiros. Fazia tempo que não viamfurioso, entredeclarando a si mesma que ele eraa de supetão aproveitá-lo comoos com fome, dedos os a cerca, subiram umaa aparecer, Fabianopés rachaduras desastre viviamcanseira nos saltos, e aOrdinariamentegretavam-se earremedando aapalhetados,encheu-o aemuitovoz os a vertigem quecabeça encostada a uma raiz, adormecia, acordava.abria algumas enroscar-se junto dele.deserto, o chiqueiro das cabras arruinado Estavam os pedras, no olhos, pátio o derrubara, encolhido sobre folhas secas, aum distinguia carro de uma de fazenda vagamente bois. A sem cachorra e também deserto, aum vidamonteBaleia CertamenteO E quandopróximo,curralfoi
casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono.o gado seFabiano procurou em vão perceber um toquefinara e os moradores tinham fugido.
fundo, murchas, um pé de turco e o prolongamento da cerca do curral.plantas Avizinhou-se Encontrando viu mortas, no umresistência, damourão barreiro rodeoucasa, do a vazio, penetroubateu, canto, tapera, dos urubus. Desceu, empurrouum examinou tentou num alcançou bosque cercadinho forçar ade o catinga, de chocalho.catingueirasterreiro a cheio porta.ondedode Trepou-se avultavam as ossadas e o negrumea porta dacopiar, chegando aos juazeiros,não quis fazendo acordá-los.cozinha. Voltou desanimado, ficou um instante notençãouma braçada de madeira meio roída peloencontroude Foi de macambira, arrumou tudo para ahospedar apanhar os meninos adormecidos eali gravetos,a família. trouxe Masdo
seguiu-a a
fogueira.cupim, arrancou touceiraschiqueiro das cabrassol.filhos, suspirando, conservaram-senuvem se tivesseazul que deslumbrava e endoidecia a gente.Entrava dia e saía dia. As noitesA tampa anilada baixava, escurecia,vermelhidões do poente.trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todosmenino mais velhoesperança que os alentava.de Resistiram a fraqueza,um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam.coração de Fabianoagarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores.ventas, sentiu cheiro deos no morro próximo e saiupassava por cima do monte. Tocou o braço da mulher, apontou océu, ficaram os doisNesse Fabiano Miudinhos, afrontar Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia,Enxugaram as lágrimas, foram agachar-seponto de perdidos Baleia desfeito, vencida pelo azul terrível, aquelenovo esfregou as pálpebras, afastando pedaços de bateu junto do coração de Sinha Vitória,comalgum tempo agüentando aafastaram-se envergonhados, sem ânimoarrebitoua nopreás, farejou um minuto, localizou-luz correndo.vista deserto dura, as cobriam a terra de chofre.e encolhidos, temendo que aqueimado, espantou-se orelhas, receosos quebrada apenas pelasos arregaçou declaridade dogritando. Ouma perto dosfugitivosperder sombraqueasO a sonho. Sinha Vitória beijava o focinho de Baleia, efocinho proveito do beijo.Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morteE Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução.tinha crescido, agoracom segurança, esquecendo as rachaduras' queos dedos e os calcanhares.haste atento, o traseiro em repouso e as pernas da Sinha Vitória remexeu no baú, os meninos foram quebrarde estava alecrim ensangüentado, para cobria o morro inteiro. Fabiano pisoufazer umlambia espeto. o Baleia, sangue frente erguidas,lhe estragavamdo grupo.eo A nuvemcomo otiravaouvidouma
vigiava, aguardando aos ossos do bicho e talvez o couro.duas, três, quatro, havia muitas estrelas, haviario seco, achou no bebedouro dos animais um poucoCavou adebruçando-se no chão, bebeu muito.para cima, olhandocinco estrelas no céu. Oalegria doida enchia o coração de Fabiano.Pensou na família,coisa, para bem dizer não se diferençava muito dade seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga edentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás?surgiu, grande e branca. Certamente ia chover.estrelas no céu. parada. E ele,Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira,Seu Tomás fugira também, com aOlhou o céu de novo. Os cirros acumulavam-se,areia com as unhas, esperou que a água marejasse e,mas era. Fabiano, era como a bolandeira. Não sabiasentiu fome. Caminhando, movia-se como umaUma, A lua estava cercada de um halo cor deas estrelas, que vinham nascendo. Uma,parte que lhe iria tocar, provavelmenteduas, poente cobria-se de cirros -três, seca, a bolandeira estavaSaciado, caiu dehavia encaminhou-se aomais bolandeirade de lama.batia osmais dea luae umacincopapo do
porquê,
leite. Ia chover. Bem. A catinga ressuscitaria, a sementegado voltaria fazenda ao
daquela animariam
saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral.catinga ficaria toda verde.brincariam nolá em cima, debaixo de um juazeiro, com sede.preá morto.não derramar a água salobra. Subiu a ladeira. A Lembrou-se dos filhos, da mulher ea .chiqueiro das cabras, Sinha Vitória vestiriasolidão. morta. curral,Chocalhos Os ele, meninos, Fabiano, da cachorra, que estavamde gordos, badalosseria Lembrou-se dovermelhos,ode vaqueiroossosparaE a
Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento,
acudia os xiquexiques eSentiu um arrepio na catinga, uma ressurreiçãosede da família. Em seguida acocorou-se, Chegou. Pôs a cuia no chão, escorou-a com pedras,folhas secas. e os mandacarus. Uma palpitação nova.remexeu o aió, tiroude garranchosaragem mornamatou a o fuzil, acendeu as raízes de macambira,as bochechas cavadas. Uma labareda tremeu, elevou-se, tingiu-lhe o rosto queimado, a barba ruiva, os olhosdepois o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim.de ramagens. A cara murcha de sinháas nádegas bambas de Sinha Vitória engrossariam,encarnada de Sinhacaboclas.esmorecendo naquela brancura Eram todos felizes.A lua crescia, a sombra
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