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TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA: FENÔMENOS DA CLINICA PSICANALÍTICA

Por:   •  10/10/2018  •  1.795 Palavras (8 Páginas)  •  272 Visualizações

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O analista como alvo da transferência acaba sendo suporte das representações inconscientes, ou seja, suporte da repetição do recalque. A interpretação da transferência, indicando ao analisando essas falsas conexões, visa deslocar a repetição, dando lugar à rememoração. Em conseqüência, tem-se o retorno do recalcado., Lacan diz que a transferência é automatismo de repetição, pois ela está inscrita no registro pulsional como uma necessidade de repetição e não-repetição da necessidade.

Interpretar a transferência é vencer tanto a resistência, imposta pela figura do analista, como o recalcamento, restabelecendo uma ponte entre os significantes e garantindo assim a associação livre. A impossibilidade do analista de realizar esta tarefa consistia no que foi denominado de contra-transferência: o analista não compreende o que o sujeito lhe projeta e esta falta de compreensão incorre na impossibilidade de retornar o objeto projetado pelo analisando, ocorre a incorporação do objeto.

As reações contratransferências aparecem quando o psicanalista esta na margem, a ponto de dar um salto, de realizar um deslocamento brusco e fugaz entre uma realidade psíquica de dominância imaginaria organizada em torno do eu, sobe a égide da referencia fálica, por um lado , e por outro , uma outra realidade psíquica fora do Eu, ao lado do Eu, uma realidade pulsional, de dominância, de Gozo, do objeto a.

O analista só consegue verdadeiramente transformar os derivados inconscientes do seu paciente em uma interpretação ou em uma percepção alucinada com a condição de deixar, abandonar, separar-se do seu Eu, de fazer calar em si as ambiguidades, os enganos e erros do discurso intermediário, para abrir-se enfim à cadeia das palavras verdadeiras.

O analista precisa “fazer silêncio-em-si”, isto é, antes de tudo negar, abolir o si-mesmo, deixar dissolver-se a imagem especular, o i(a). A manifestação contratransferência é uma sobrecarga. “Fazer silêncio-em-si” é uma supressão, um enfraquecimento, um deixar-dissolver a imagem especular i(a). O tempo, o espaço, outrem e toda visada ideal são os componentes constitutivos do Eu que é preciso suprimir, abandonar, durante um momento: o momento de “fazer silêncio-em-si”. Fazer silêncio-em-si significa que, espacialmente, estamos fora de nós, exilados do Eu, ou, para retomar o belo título de um livro recente escrito por uma amiga, somos estranhos a nós mesmos. Com isso precisamos suprimir isso, como se o silêncio-em-si, o lugar do analista, o ponto de mira fosse uma região despovoada de imagem e de ruído, uma região desértica e vazia, como se o “silêncio-em-si” fosse o vazio, ao passo que, pelo contrário, trata-se de um lugar inédito, povoado, rico em produções psíquicas novas e condensador de uma grande carga libidinal, que chamamos, em psicanálise, de

“Gozo” ou “objeto”. É um lugar, um condensador de uma grande carga libidinal, que tem o poder de atrair, de concentrar em torno de si o desenvolvimento da transferência.

Mas não é uma questão de ser. É uma questão de conseguir, com o que se é, situar-se no eixo, situar-se no ângulo ao qual se deve chegar, se possível, para perceber, pensar e tratar os derivados inconscientes do paciente. Não se trata de “o que eu sou”; trata-se de “será que o que eu sou me permite abandonar o meu Eu por um instante, e ir a esse lugar?”. O que está em jogo na análise não é o ser do analista, é o lugar no qual é preciso que ele se instale. Se ele se instala ali, escuta, percebe e causa o tratamento. Devo situar-me num lugar certo, num certo ponto muito preciso, nesse ângulo, para que haja um ponto de fuga no horizonte. De outra forma, ele não aparece. E foi pensando nisso que Nasio (1999), utiliza a expressão “ponto de mira”. Também há uma expressão que mais divertida, mais agradável, e também mais exata: “o ponto para-moi-co”, para lembrar que, se estamos instalados nesse ponto, há uma conotação paranoica, psicótica.

O lugar do analista não é um local à espera de receber um ocupante. Esse lugar se produz quando um analisando diz que um analista faz silêncio-em-si para escutá-lo. Surge quando o paciente fala com certa fala e quando o analista o ouve fazendo silêncio-em-si, situando-se de certa maneira. O analista só pode ouvir e perceber o inconsciente na medida em que, de um modo qualquer, ele já faz parte do inconsciente. é preciso pertencer momentaneamente ao inconsciente para escutar o inconsciente, isto é, para interpretá-lo. É preciso criar o Gozo, fazer parte do Gozo, para perceber o Gozo, isto é, aluciná-lo.

É preciso pertencer momentaneamente ao inconsciente para escutar o inconsciente. “é preciso criar e fazer parte do Gozo para perceber o Gozo.” se há verdadeiramente essa pertinência do analista ao Inconsciente ou ao Gozo, o fato de ter escutado e de ter percebido, o fato de ter ouvido e ter visto são a mesma coisa. Escutar e olhar, nessas condições precisas, nesse momento preciso, são coisas idênticas.

Uma dor e um luto que a contratransferência tenta evitar como o perigo pressentido pelo analista sob a forma de um saber, de uma paixão ou de uma angústia. O luto de perder momentaneamente a imagem especular constitutiva do Eu, isto é, o luto de esquecer o Eu. Lacan e outros autores muitas vezes compararam o desejo do analista, isto é, o lugar do analista, e o luto. O desejo do analista pode estar centrado em torno do luto do Eu. Quero dizer que, quando o analista se instala nesse ponto de mira para-móico, nesse lugar da disponibilidade, da disposição, da posição correta, ele se impõe uma relação diferente com o limite. Não há mais limite dentro/fora, interior/exterior, antes/depois, mas há um outro limite, um limite entre o “nós” e o real. É o “nós” e o enigma do real. Em resumo, “fazer silêncio-em-si” significa que o psicanalista se dobra, aceita, admite verdadeiramente, sinceramente, docilmente, está convencido, não mentalmente, não racionalmente, mas psiquicamente, de que o limite da experiência analítica é realmente um mistério, é realmente um enigma com o qual ele deve contar, se quiser trabalhar como analista.

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