Raizes do Brasil
Por: SonSolimar • 4/11/2017 • 5.382 Palavras (22 Páginas) • 439 Visualizações
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A técnica europeia serviu apenas para fazer ainda mais devastadores os métodos rudimentares de que se valia o indígena em suas plantações, fato que causou certa aproximação, fazendo a vida no país parecer ter sido aqui incomparavelmente mais suave, mais acolhedora das dissonâncias sociais, raciais, e morais. Não cabia modificar os rudes processos dos indígenas, ditados pela lei do menor esforço, uma vez que se acomodassem às conveniências da produção em larga escala, porém, o fato de usar o solo sem muita preocupação em cuidá-lo, além do fato da atividade agrícola não ocupar, em Portugal, posição de primeira grandeza, acarretaram numa deterioração do solo com o tempo. Todos queriam extrair do solo excessivos benefícios sem grandes sacrifícios, ou servir-se da terra, não como senhores, mas como usufrutuários.
Sérgio Buarque ainda caracteriza o povo português como um povo mestiço antes mesmo do descobrimento do Brasil, já que a mistura com outras raças tinha começado amplamente na própria metrópole. Já antes de 1500, graças ao trabalho de negros trazidos das possessões ultramarinas, fora possível, no reino, estender a porção do solo cultivado, desbravar matos, dessangrar pântanos e transformar charnecas em lavouras, com o que se abriu passo à fundação de povoados novos. Os benefícios imediatos que de seu trabalho decorriam fizeram com que aumentasse incessantemente a procura desses instrumentos de progresso material, em uma nação onde se menoscabavam cada vez mais os ofícios servis. Além disso, eram encontrados negros na maioria das habitações do reino, estima-se que formava cerca de um quinto da população. Sendo assim, o sentimento de distância entre os dominadores aqui e a massa trabalhadora constituída por homens de cor possuía pequenas proporções. Com essa defesa da ausência de orgulho de raça do português, defendia que o racismo nunca chegou a ser o fator determinante das medidas que visavam reservar a brancos puros o exercício de determinados empregos. Sendo muito mais decisiva a mancha ou desonra tradicionalmente associada aos trabalhos vis a que obriga a escravidão e que não infamava apenas quem praticava, mas igualmente seus descendentes. Também faz parecer que o preconceito com os negros era muito maior do que com os indígenas, sendo a esses atribuídas características como seu gosto acentuado por atividades antes predatórias do que produtiva, ou sua aversão ao esforço disciplinado, que se ajustam de forma bem precisa aos tradicionais padrões de vida das classes nobres. Por esse motivo o indígena era caracterizado na literatura romântica com virtudes de cavaleiros, enquanto os negros como vítimas submissas ou rebeldes.
Da tradição portuguesa, pouca coisa se conservou entre nós que não tivesse sido modificada ou relaxada pelas condições adversas do meio. O que nos faltou para o bom êxito de tantas formas de labor produtivo foi uma capacidade de livre e duradoura associação entre os elementos empreendedores do país.
Em sociedade de origens personalistas como a nossa, é compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais, embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre famílias, entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente. O peculiar da vida brasileira parece ter sido uma acentuação enérgica do afetivo, do irracional, do passional, e uma estagnação ou atrofia correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras, racionalizadoras. Quer dizer, exatamente o contrário do que parece convir a uma população em vias de organizar-se politicamente.
Essa população não tinha como oferecer obstáculos sérios à influência dos negros, não apenas como negros, mas ainda e, sobretudo, como escravos, assim, a “moral das senzalas” veio a imperar na administração, na economia e nas crenças religiosas dos homens do tempo.
Os holandeses possuíam um espírito de empreendimento metódico e coordenado, grande capacidade de trabalho e coesão social, mas que vinham apenas em busca de fortunas impossíveis, sem imaginar criar fortes raízes na terra. Era uma população cosmopolita, instável, de caráter predominantemente urbano que iria, em Recife, estimular, de modo prematuro, a divisão clássica entre o engenho e a cidade, entre o senhor rural e o mascate, divisão que encheria, mais tarde, quase toda a história pernambucana. Essa era a maior diferença entre a colonização holandesa e portuguesa, e era vista ao passo que em todo o resto do Brasil as cidades continuavam simples e pobres dependências dos domínios rurais, a metrópole pernambucana se desenvolvia como centro urbano. Mas esse aspecto da formação de caráter urbano, em contraste com as outras cidades, não se adequou bem aqui. Além disso, os colonos não conseguiram trazer famílias holandesas para povoar, pois não os seduzia uma aventura que tinham boas razões para supor arriscada e duvidosa.
Ao contrário do que sucedeu com os holandeses, o português entrou em contato íntimo e frequente com a população de cor, sendo até fatores da língua mais compatíveis. Ainda aponta que a Igreja Católica (portugueses) possuía uma simpatia muito maior do que os protestantes (holandeses), o que facilitou a comunicação no Brasil colonial. Esses fatores deram resultado a uma mestiçagem que construiu uma nova pátria.
Capitulo 3 – Herança Rural
A herança rural brasileira tem seu princípio ainda nos tempos coloniais e no emprego do uso de mão de obra escrava. A abolição da escravidão atordoou a elite da época que temia a falta de lucro. Essa elite se perpetuou através dos tempos exercendo sua influência na política. Houve, então, no país uma política de crédito com a fundação do Banco do Brasil que possibilitou o crescimento de pequenas fortunas surgindo a partir de um pensamento progressista e não rural que tentava alcançar a tendência de modernidade de países desenvolvidos. Essas fortunas instáveis evidenciaram o saudosismo de certa parcela da população de um Brasil escravocrata e rural de outrora. A tensão ideológica surgida desses contrapontos deixou clara a imaturidade do país para transformações de grandes rupturas que estariam em contradição com as tendências democráticas burguesas de nações mais desenvolvidas socialmente. Essa dificuldade de revolução ou essa tendência às revoluções reacionárias se refletiu em momentos posteriores da História do país.
As relações parentais aristocráticas patriarcais tinham a características de “facções”, pois eram baseadas na lealdade e na honra. A autoridade dos proprietários rurais
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