Resenha - Raizes do Brasil
Por: kamys17 • 16/3/2018 • 1.587 Palavras (7 Páginas) • 548 Visualizações
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Nas notas do capítulo, o autor trabalhou com a questão da vida intelectual tanto na América espanhola como na portuguesa, mostrando que na primeira ela era mais desenvolvida. Tratou da língua geral de São Paulo, que durante muitos séculos foi a língua dos índios, devido à forte presença da índia como matriarca da família. Falou da aversão às virtudes econômicas, principalmente do comércio. E por fim, da natureza e da arte coloniais.
No quinto capitulo, O Homem Cordial, Sérgio Buarque diz que o Estado não foi uma continuidade da família. Comparou tal confusão com a história de Sófocles, sobre Antígona e seu irmão Creonte, sobre um confronto entre Estado e família. Houve muita dificuldade na transição para o trabalho industrial no Brasil, onde muitos valores rurais e coloniais persistiram. Para o autor, as relações familiares (da família patriarcal, rural e colonial), eram ruins para a formação de homens responsáveis. Até hoje vemos a dificuldade entre os homens detentores de posições públicas conseguirem distinguir entre o público e o privado.
A contribuição brasileira para a civilização foi então, o “homem cordial”, termo já utilizado anteriormente por outros autores, mas para Holanda a cordialidade do brasileiro que, ao contrário do que superficialmente possa parecer, não quer dizer apenas sincero, afetuoso, amigo, para ele trata-se de um homem de "fundo emotivo extremamente rico e transbordante", ou seja, um homem dominado pelo coração.
Em Novos Tempos, o autor flagra na sociedade brasileira do seu tempo um apego muito forte ao recinto doméstico e uma relutância em aceitar a individualidade, além de um grande desejo em alcançar prestígio e dinheiro sem esforço. O bacharelado era muito almejado por representar prestígio na sociedade colonial urbana. O autor fez críticas aos positivistas, e assume a democracia como um “mal-entendido” no Brasil. Ele explica que os grandes movimentos sociais e políticos vieram de cima para baixo, ou seja, não houve participação popular neste processo. Ele critica a literatura, dizendo que o romantismo acabou se tornando um mundo a parte, incapaz de ver a realidade, o que ajudou na construção de uma realidade falsa, livresca.
No capitulo final, Nossa Revolução, o autor vai tratar das revoluções na América, que se distanciam da ideia de revolução convencional. A revolução brasileira é um processo demorado que vem durando três séculos e a Abolição foi um importante marco. As cidades ganharam autonomia em relação ao mundo rural. O café trouxe mudanças na tradição, como a legitimação da cidade. A terra de lavoura deixa então de ser o seu pequeno mundo para se tornar unicamente seu meio de vida, sua fonte de renda e riqueza. O café substituiu a cana, mas não deixou espaço para a economia de subsistência. As cidades ganharam novo sentido com o café, que acabaram solapando a zona rural.
O autor dirá que o Brasil é um país pacífico, brando, onde existe a necessidade de uma espécie de revolução para por fim aos resquícios da história colonial e traçar uma história independente e particular. Sérgio Buarque critica o Brasil que acredita em fórmulas, e fala quais são os principais elementos constituintes de uma democracia. Por fim, o autor atesta que envolto pela “cordialidade”, o brasileiro dificilmente chegaria nessa “revolução”, que seria a salvação para a sociedade brasileira atual. É importante lembrar que o Brasil contemporâneo ao que o autor se refere é o da década de 30. Por isso, nos dias de hoje deve-se ler e analisar a obra com cuidado para que não sejam cometidos anacronismos, dificultando a compreensão da importância que a obra traz para o estudo da história do país.
Concluindo, Raízes do Brasil é um ensaio de grande valor não apenas científico, mas literário, que vai buscar as origens do Brasil em Portugal e no latifúndio escravocrata, ou seja, a chamada família patriarcal rural. O autor usa de um método dialético para exprimir com riqueza as contradições do objeto que está analisando e reconhece, com menos ênfase, que em obras de outros autores, como seu contemporâneo Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, o caráter mestiço da formação social brasileira, produto de ampla miscigenação com o índio e o negro. Ele faz a crítica da colonização portuguesa e da sua natureza aventureira e patriarcal. Em Raízes do Brasil, portanto, temos a sugestão de três elites: a patriarcal rural, a patrimonialista urbana (que se constitui já no Império) e a burguesa paulista de base cafeeira. Sérgio Buarque salienta as limitações da elite dirigente rural e substitui a harmonia pelo “homem cordial”.
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