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Pré-Projeto Mestrado MSPP

Por:   •  19/4/2018  •  2.888 Palavras (12 Páginas)  •  276 Visualizações

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A segunda onda do movimento teve início nos Estados Unidos, na segunda metade da década de 1960, e se espalhou para diversos países entre 1968 e 1977, tendo como suas principais causas o fim da discriminação, a valorização do trabalho da mulher, o direito ao prazer, a luta contra a violência sexual, e as questões de igualdade de gênero.

Entre o final da década de 1970 e início da de 1980, época de forte crise econômica, incerteza social e realinhamento político, o feminismo perdeu força. Apenas a partir da década de 1990 o movimento voltou a ganhar relevância social, dando origem a sua terceira onda. Na terceira onda iniciou-se a discussão de paradigmas estabelecidos na onda anterior, transformando o feminismo em discussão micropolítica e desafiando o modelo construído até então. A crítica feita a segunda onda é de que a ênfase era nas experiências das mulheres brancas de classe média-alta, e que este discurso universal é excludente, uma vez que opressões atingem as mulheres de modos diferentes. A discussão de gênero deveria então acontecer com recorte de classe e raça, levando em consideração as especificidades de cada grupo de mulher. A desconstrução de gênero é também central à maior parte da ideologia da terceira onda.

O feminismo e o movimento feminista transformaram a autonomia e os direitos civis da mulher, e tiveram, através dos anos, grande impacto no empoderamento feminino, e na evolução da participação da mulher na sociedade e na economia. A inserção da mulher na economia e na geração de renda fez com que fossem criados produtos voltados especialmente para este público, e que padrões estéticos e referências de beleza ganhassem força. O capitalismo e a cultura de massa desenvolveram então uma relação simbiótica com o feminismo, alimentando e empoderando através do consumo, e sendo alimentado por ele.

Através dessa relação de consumo, as mulheres, então mais empoderadas por ele, são capazes de resistir politica e socialmente à opressão de gênero. Essa simbiose pode, no entanto, ser inútil ou até mesmo oposta à luta feminista: As demandas criadas pelas mulheres, e pelo o feminismo, reproduzem as opressões que sustentam o capitalismo, neutralizando e naturalizando os poderes sociais e econômicos que mantém a dominação masculina, uma vez que o capitalismo apropria-se destas demandas feministas para reforçar suas práticas e se legitimar, fazendo com que seja particularmente difícil resistir às estratégias do sistema de neutralizar os argumentos voltados contra ele, já que ele proporciona também libertação e empoderamento.

A relação do feminismo e do capitalismo vai muito além da criação de poder econômico para e pela as mulheres, uma vez que esta estrutura capitalista e patriarcal também está relacionada com a dominação masculina e a com a opressão de gênero, com a exploração das relações familiares e com a distribuição desigual dos papéis, criando e mantendo os diversos privilégios masculinos e instrumentalizando diferenças históricas e sociais para manter vantagens estruturais, como por exemplo o pagamento de salários menores as mulheres em relação aos homens (FRASER, 2009).

Tendo em vista o papel do capitalismo e do neoliberalismo econômico na hierarquia de gênero, diversas questões podem ser levantadas, como o quão profundamente o patriarcado está associado ao capitalismo? Em quais termos a luta feminista pode andar separadamente da luta e resistência anticapitalista? Quais dessas imposições feitas às mulheres e a outras minorias são essenciais e inerentes ao capitalismo?

Paralelamente a este modelo de consumo neoliberal, a partir dos anos 2000 surge um novo perfil de consumo em nossa sociedade, alimentado pelo surgimento e fortalecimento de movimentos sociais, e da maior organização destes grupos.

Ao invés dos processos de massificação e homogeneização, característicos do modo de produção capitalista, surgem agora as estratégias da diversificação, com a bandeira da nova lógica das sociedades de consumo.

O recorte social permitido pela terceira onda do feminismo fez com que as diversidades de grupos diferentes de mulheres ganhassem voz, e o acesso a tecnologia permitiu que estes grupos se organizassem mais facilmente. Mulheres de todo o mundo estão consumindo conteúdo e se conectando, cada vez mais e cada vez mais cedo.

Nos últimos anos a internet e as redes sociais se estabeleceram como ferramenta imprescindível para as lutas sociais contemporâneas, e têm se mostrado um importante suporte para a organização de mobilizações, discussões políticas e divulgações de causas. Essa forma de ativismo online é conhecida como ciberativismo, e tem sido amplamente utilizada por diversos indivíduos e movimentos sociais com o objetivo de colocar em pauta algum assunto, gerar discussões ou mobilizar um grupo.

O ciberativismo também reduz os custos da comunicação e permite a quebra do monopólio da emissão de informações, divulgando informações alternativas sobre qualquer assunto (RIGITANO, 2003). O movimento feminista é um dos maiores e melhores exemplos de movimento social que utiliza do ciberativismo, o que explica o crescimento de 10 vezes no número de buscas pelo termo “feminismo” no Google, que passou no Brasil de 8.100 em janeiro de 2014 para 90.500 em outubro de 2015, passando de 8.100 para 90.500 buscas, segundo a Agência Brasil.

Para Maria Glória Gohn, a cibercultura e o ciberativismo tem alterado as formas de mobilização social de várias maneiras, tanto no que diz respeito a ação coletiva dos movimentos, que também é impulsionada pelas novas formas de comunicação e informação, quanto no que tange a forma de comunicação individual entre jovens manifestantes (GOHN, 2014). Ainda para ela, “saber se comunicar on-line ganha status de ferramenta principal para articular as ações coletivas (...) e dominar códigos das novas tecnologias e participar das redes sociais passou a fazer parte do perfil desse ativista”. (GOHN, 2014).

O desenvolvimento da internet tem alterado não apenas a forma de articulação dos protestos e movimentos sociais, como a própria concepção da democracia. “A Internet não permite somente comunicar mais, melhor e mais rápido; ela alarga formidavelmente o espaço público e transforma a própria natureza da democracia” (CARDON, 2012).

Em resposta a esse movimento, muitas marcas, veículos de comunicação e projetos e movimentos sociais se apropiam cada vez mais da identidade de microgrupos, e do consumo mais lento, artesanal e consciente. Outra resposta a apropriação do empoderamento pelo capitalismo é o não-consumo de determinadas

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