Os afectos mal-ditos: o indizível nas sociedades camponesas
Por: Evandro.2016 • 21/5/2018 • 1.047 Palavras (5 Páginas) • 432 Visualizações
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e negada a todo custo nos espaços sociais da comunidade como por exemplo a praça central da cidade de goiabeira onde Paulo Rogers era sempre instruído a negar.
No terceiro capitulo Paulo mostra através de trechos de relatos de suas conversas como funcionam os “esquemas” e seus códigos, onde até mesmo quando se mostrava uma atitude negativa diante das relações homossexuais na verdade o que estava querendo mostrar era uma iniciativa implícita e uma suscetibilidade para o intercurso sexual como, por exemplo, no fragmento III da pág 193, “eu sou casado, pai de três filhos. Todo mundo anda comentando que eu sou “veado”. Tudo mentira! [Michel conversava próximo de mais dois homens casados do vilarejo.] se eu fosse nunca teria me casado! É mentira! Aqui só tem fuxiqueiro! Agora tenho que ir, vou caçar no mato e passar a noite lá. Serafim e eu. Quer ir antropólogo?” (trecho de Michel pai de família convidando o antropólogo para o encontro, em 2002.).
É no último capitulo também que o autor mostra a importância dos rumores, “os fuxicos” das mulheres de bem e como isso interfere no cotidiano daquelas pessoas, a importância da negação sobre essas conversas como forma de manter uma estabilidade na ordem social, ou seja, mesmo quando todos conhecem a verdade dos fatos a negação é uma forma de manter intacta a imagem de cabra macho e pai de família que a sociedade camponesa exige de todos os homens. O espaço físico da praça como ponto de partida para as investidas e para os esquemas, onde os fuxicos são disseminados, a apropriação desse espaço dentro da cidade pelas mais diversas pessoas, com diferentes situações econômicas, diferentes credos e filiações politicas, mas com algo em comum: desejos sexuais que ficam escondidos, colocados em um patamar mal-dito por não se enquadrar com o que se espera do homem casto e castrado instituído por autores que criaram a base do estudo do campesinato.
Paulo Rogers construiu de forma impetuosa uma etnografia que nem mesmo Malinowski ousaria, indo a fundo e se entregando de corpo a observação participativa permeando em seu texto o desejo que ditou o estilo de sua escrita e que estava presente em sua pesquisa, já que geralmente pesquisamos sobre aquilo nos desperta curiosidade isso fica evidente nesta obra de grande importância para o estudo da sexualidade que foi colocada de fora das etnografias sobre o rural até o momento.
Referencia:
Ferreira, Paulo Rogers,1976-Os afectos mal-ditos:o indizível nas sociedades camponesas/Paulo Rogers ferreira.-São Paulo:Aderaldo & Rothschild: Anpocs,2008
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