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Os Vazanteiros e o Meio Ambiente

Por:   •  2/9/2018  •  2.821 Palavras (12 Páginas)  •  272 Visualizações

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- DESENVOLVIMENTO[a]

Diante da pobreza notória e das péssimas condições de vida das comunidades vazanteiras, nos municípios de Itacarambi, Manga e Matias Cardoso foram escolhidos para abordar neste artigo, em função da cultura dos vazanteiros e suas relações com o Meio Ambiente, a disputa pela água e pelo território nas margens do rio São Francisco.

A Cultura dos Vazanteiros

A formação cultural dos vazanteiros, além de legados da cultura indígena e da cultura negra, recebe influências da vida social ribeirinha de todo o rio São Francisco, particularmente no período de intensa mobilidade propiciada pela navegação rumo ao nordeste brasileiro. Segundo, (OLIVEIRA,2005) não se pode perder de vista a existência de componentes culturais comuns ao homem do médio São Francisco e aos nordestinos de um modo geral. Esta autora cita a linguagem e a literatura popular, os hábitos alimentares e medicinais, como legados das migrações para a integração cultural dessa população.

Para, (CANDIDO,) chama-se transitório o morador que, não tendo títulos legais, pode a cada momento perder a terra onde mora. As origens da sua fixação podem ser muitas; em nossa formação destaca-se o foragido das autoridades, por infrações quaisquer, e, por isso mesmo, interessado em se isolar. O agregado, como se sabe, distingue-se do posseiro porque tem permissão do proprietário para morar e lavrar a terra, sem qualquer paga, salvo alguma prestação eventual de serviço. O posseiro não tem permissão e frequentemente ignora a situação legal da terra que ocupa: pode ser terra sem proprietário, pode ser terra com proprietário, pode ser terra que virá a ter proprietário.

As comunidades vazanteiras são caracterizadas pelo modo de vida ligado ao rio, habitam as ilhas e barrancos do rio São Francisco e vivem para observá-lo, já que as suas moradias e meios de sustento dependem do nível da água para realizar a pesca, agricultura, a criação animal e o extrativismo, associados aos ciclos da enchente, cheia, vazante e seca. Não possuem local fixo de residência devido a mudanças climáticas e também a questão das secas e cheias às margens do rio São Francisco.

Bem adaptados às condições de permanentes mudanças provocadas pelas variações das águas do rio, os vazanteiros têm conhecimento tradicional, fruto de mais de 4 séculos de convivência com a natureza. Seguindo as orientações do curso das águas, os vazanteiros das cidades de Itacarambi, Manga e Matias Cardoso desenvolvem

a agricultura de vazante, lameiro e sequeiro. Todos os alimentos que produzem vão para as famílias. O excedente é transportado em embarcações para ser vendido em mercados de cidades vizinhas ou vai para os bancos de alimentos das suas cidades.

Para (LARAIA,2001) todos os povos tendem a dizer que apenas a sua cultura é verdadeira, esquecendo-se que existem outras tantas culturas de igual veracidade e colocando sua cultura frente a demais, denominando-a superior. Pois bem, para ele isto é um erro. Todas as culturas, sem exceção, são verdadeiras, e todas devem ser respeitadas. Nenhuma a superior a outra, podem ser diferentes, mas nunca superiores.

A comunidade dos vazanteiros é portadora de uma identidade cultural própria, construída a partir da forma de apropriação do território, que se expressa por meio de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais entrelaçadas com relações diversificadas de trabalho e posse da terra.

Os vazanteiros e as relações com o Meio Ambiente

Os vazanteiros das ilhas de Maria Preta, Pau Preto e Pau de Légua defendem que o seu modo de vida não é incompatível com a preservação da natureza. Eles reconhecem a importância da agricultura para fins de sobrevivência das comunidades para a produção de alimentos e a segurança alimentar em escala local e regional, e consideram-se responsáveis pela conservação da biodiversidade, pela conservação dos solos, da vegetação, das margens do rio São Francisco, onde eles residem, e pelos peixes.

Muitas sociedades lidaram com a natureza, inovando técnicas tradicionais que possibilitavam manter com ela uma relação harmoniosa. Desse modo, observa-se que os instrumentos utilizados na prática agrícola pela maioria dos vazanteiros são simples. As foices e as enxadas são as principais ferramentas, sendo de baixo impacto ambiental, rudimentares e tradicionais, de modo que não causem grandes danos ao solo, diferentemente das máquinas e implementos agrícolas convencionais, que culminam em compactação do solo. O uso dessas ferramentas está associado ao baixo custo, de acordo com a tradição histórica, de serem eficientes em pequenas áreas de plantio e fáceis de carregar e manusear.

Para ( CANDIDO, ) o caipira, a agricultura extensiva,itinerante, foi um recurso para estabelecer o equilíbrio ecológico: recurso para ajustar as necessidades de sobrevivência à falta de técnicas capazes de proporcionar rendimento maior da terra. Por outro lado, condicionava uma economia naturalmente fechada, fator de preservação duma sociabilidade estável e pouco dinâmica.

Os vazanteiros, que praticam a agricultura de vazante, tiveram muita dificuldade pela resistência diante das políticas modernizadoras do estado. No entanto, pretende-se, nesta discussão, considerar o vazanteiro como sujeito social que sofreu e ainda sofre as consequências dos projetos (de irrigação, de barragens, de integração) para o sertão norte mineiro que são acompanhados do discurso falacioso da modernização. O descaso com o vazanteiro nos projetos públicos é nítido, embora hoje, por meio das políticas assistencialistas, esse aspecto fique menos evidente. Temos, portanto, o objetivo de dar a devida importância à existência do vazanteiro como um sujeito social importante na dinâmica das relações de produção no semiárido.

Observou-se que os vazanteiros do Pau Preto defendem que o seu modo de vida é compatível com a preservação da natureza. Eles reconhecem a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos e a segurança alimentar em escala local e regional, e consideram-se responsáveis pela conservação da biodiversidade.

Há busca de inovações técnicas para acelerar o modo de produção, distribuição e consumo. No espaço rural, as transformações geraram uma nova reestruturação da forma de produção e das relações sociais. A produção necessitou ser especializada, máquinas e os insumos agrícolas foram necessários para a aceleração e qualificação do processo de plantio e colheita,

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