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O Departamento de Filosofia e Ciências Humanas

Por:   •  3/10/2018  •  3.126 Palavras (13 Páginas)  •  285 Visualizações

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A relativização é aqui dada como uma solução para essa visão etnocêntrica, tentando se encaixar dentro daquela cultura para a partir dali, olhar para ela mesma. Ter talvez, um pouco de empatia no olhar, para analisar toda a vivência daquela cultura e compreende-la de dentro pra fora.

PRIMEIROS MOVIMENTOS

[...] O primeiro destes pensamentos, ocorridos na Antropologia e que procuram explicar a diferença, é conhecido como Evolucionismo. A noção de evolução é um marco fundamental para o pensamento antropológico. [...] a diferença que se travestia em espanto e perplexidade, nos séculos XV e XVI, encontra, nos séculos XVIII e XIX, uma nova explicação: o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução. [...] Evolução, no seu sentido mais amplo, equivale a desenvolvimento.[...] evolucionismo social [...] passa ser o novo modelo explicador da diferença entre o “eu” e o “outro”. O resultado disso, é claro, vai ser a permanência do etnocentrismo agora traduzido na sociedade do “eu” como o estágio mais adiantado e a sociedade do “outro” como o estágio mais atrasado. [...] (p. 11 - 12)

Dando seguimento, haverá um questionamento do porquê existem sociedades com culturas tão diferentes. O evolucionismo cultural, que foi trazido por Rocha de uma forma muito sintetizada, sem que prejudicasse a compreensão, irá explicar e ainda reforçar esse etnocentrismo. Os evolucionistas dizem que as sociedades do outro são diferentes porque são primitivas, rudimentares, atrasadas e pouco desenvolvidas, isto comparado com a sociedade do eu. Essas sociedades atrasadas chegariam um dia a se desenvolver, era só questão de tempo. Nisso, todas as sociedades percorreriam o mesmo caminho até chegarem ao ápice do desenvolvimento. Essa evolução seria acarretada pelas invenções e aperfeiçoamentos de ferramentas, máquinas, instituições e da própria sociedade.

[...] Mas, restava ainda um problema teórico. A escolha e a definição dos critérios pelos quais seria possível medir o estádio de “avanço” de cada uma das sociedades existentes. [...] Faz-se, então, fundamental a criação de algo que fizesse as vezes de critério, tendo aceitação, lógica e possibilidade para o estudo comparativo. Acredito que a solução está no próprio conceito de cultura adotado pelos evolucionistas. [...] aparece no livro A Origem das Culturas de Sir Edward Tylor que, logo na primeira página, diz o seguinte: “Cultura ou civilização, no seu sentido etnográfico estrito, é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”. [...] em certas sociedades, os conteúdos destas idéias talvez nem existam. Para os evolucionistas, no entanto, estas idéias eram nítidas e claras. Extraídas dos seus contextos eles as absolutizavam e assumiam como se as idéias de sua própria sociedade fossem não apenas universais como as melhores e mais bem acabadas. Postulavam [...] (p. 13)

Foi falado aqui, muito sobre cultura, utilizando seu significado atual que é extremamanente genérico, porém esse termo será usado para classificar as sociedades, com base na definição de Tylor. Tal definição foi utilizada pelos evolucionistas para fazer essa classificação. Mas há uma grande questão em aberto, essa definição é extremamente volátil, não é algo claro e fixo que possa servir de parâmetro para essa classificação. Os evolucionistas, contudo, tomavam essa definição como fixa baseados na sua própria sociedade e cultura. Essa forma de pensamento abre uma grande brecha para o “apagamento” de algumas culturas. Como exemplo podemos citar as sociedades indígenas pouco desenvolvidas, onde os brancos encontravam terreno fértil para enraizarem sua cultura mais evoluída, sob a desculpa de estarem ajudando essas sociedades a se desenvolverem mais rápido.

[...] os evolucionistas pudessem pensar o “selvagem” sem conhecê-lo de perto, pois ele era visto como uma fase passada de mim mesmo. [...] Era uma questão de encaixar as culturas nos estádios já predeterminados da evolução. [...] os evolucionistas ao dispensarem o “trabalho de campo” e a relativização, acreditando-se capazes de ter todo o conhecimento do “outro” dentro de si mesmos, [...] Lewis Morgan – foi exatamente calcular as sociedades segundo seu grau de evolução. Estudando invenções, descobertas e instituições ele procurou ordenar os estádios evolutivos em períodos que caracterizam as fases passadas pelas culturas humanas. Para Morgan, a “acumulação do saber” e o progresso das “faculdades mentais e morais dos homens” vão marcando as mudanças de estádios no caminho da evolução. Avaliando itens culturais [...] divide os cem mil anos de história humana em três períodos básicos – selvageria, barbárie e civilização. [...] (p. 14)

Morgan como foi falado no texto fichado logo acima, utilizou-se das ideias dos evolucionistas e classificou as sociedades. O evolucionismo é apenas uma confirmação da visão etnocêntrica. É engraçado pensar que hoje continuamos a pensar desta forma. Olhamos para o índio como incompleto, como bobo e até desprovido de inteligência. As sociedades deles são comparadas às cavernas dos nossos ancestrais.

O PASSAPORTE

[...] um alemão chamado Franz Boas. [...] Ao seu nome se liga toda uma escola de pensamento que ficou conhecida como difusionismo [...] e influencia todo um importante grupo de alunos que desenvolve um trabalho fortemente inspirado na fertilidade do seu pensamento. [...] Com Boas, suas idéias e seus alunos, a Antropologia se transforma substancialmente. Nesta transformação, que relativiza as já bem estabelecidas noções evolucionistas, as idéias de cultura e história também se modificam. [...] a articulação destas idéias era um dos eixos da forma de pensar o “outro” dentro do evolucionismo. O grande passo que parece estar vinculado ao trabalho de Boas é o de iniciar uma reflexão que veio a relativizar o conceito de cultura. [...] Foi ele o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas humanas nos seus particulares. Cada grupo produzia, a partir de suas condições históricas, climáticas, lingüísticas, etc., uma determinada cultura que se caracterizava, então, por ser única, específica. Este relativismo cultural, essa pluralidade de culturas diferentes, visto por Boas é, se compararmos, uma ruptura importante do centramento, da absolutização da cultura do “eu”, no pensamento evolucionista. Não havia uma única história que se acumulava, inapelavelmente, em direção à sociedade do “eu”. O “outro”

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