Interdisciplinaridade e Processo de Trabalho em Saúde: Desafios e Possibilidades para o Serviço Social
Por: kamys17 • 4/7/2018 • 9.675 Palavras (39 Páginas) • 439 Visualizações
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Para Campos, Matos e Pires (2009, p. 11) o trabalho em saúde possibilita uma interação entre os profissionais, cuja proposta é ofertar uma atenção integral para se produzir cuidados em saúde. Acrescentando, ainda que: “[...] a interdisciplinaridade e o processo de trabalho em saúde são interligados”.
Nessa lógica, para Japiassú (1994), a interdisciplinaridade é vista como algo que provoca atitudes de medo e de recusa. Por ser um termo que traz inovação costuma apresentar
um desconforto/incomodo, pois acaba questionando o que já é adquirido ou já instituído. Segundo Fazenda e Godoy (2014) o tema surge como uma possibilidade de aprender a construir sem desfazer. Uma construção que tem como partida o velho na perspectiva de se construir o novo. Assim, para as autoras supracitadas (2014, p. 33) “Nenhum autor é sozinho, todo autor é parceiro, nem que seja apenas de seus teóricos. Nenhuma pesquisa nunca começa, ela sempre continua...”.
Diante desse contexto, foi proposto o desafio de estudar e entender a prática interdisciplinar dentro do contexto do processo de trabalho em saúde e os desafios e possibilidades de atuação dos assistentes sociais, prospectando chegar a conclusões que possam sugerir melhorias para esta situação. Salienta-se que o exercício da interdisciplinaridade não é algo concluído, sendo delineada pelas exigências das situações que se apresentam.
Todavia, é fato que em cada equipe acontece de múltiplas formas, por conseguinte, percebe-se a questão da individualidade, como um dos principais entraves em se colocar a interdisciplinaridade em prática, dificultando a ação profissional podendo muitas vezes torná-la ineficiente.
2 PROCESSO DE TRABALHO E INTERDISCIPLINARIDADE: A INTEGRALIDADE NO CUIDADO EM SAÚDE
2.1. O PROCESSO DE TRABALHO A PARTIR DO PENSAMENTO MARXISTA
Ao se privilegiar do tema trabalho, o ponto de partida no método marxiano segundo Matos (2013) é o particular e não o geral. Merece ser salientado que através do método particular, Marx e Engels estudaram a evolução do capital. A história é aí captada desde o início da manufatura da sua época, até a transição do fim do feudalismo, com ascensão e domínio da classe dominante.
Sabe-se que Marx e Engels eram humanistas, e identificaram que a produção de riqueza do capitalismo, era proveniente da força de trabalho vendida ao trabalhador. Sendo
este processo chamado de trabalho alienado, pois não respondia as necessidades do trabalhador. Nessa linha de análise, os autores assumiram a hipótese de que o trabalho, na sua forma não alienada, era a constituição do homem (idem, p. 23).
Assim, a abordagem do tema é presidida pela categoria trabalho usada de forma diversificada, ou seja, “trabalho como dispêndio de energia, como atividade física, como atividade trabalhosa, trabalho como sinônimo de emprego etc” (DURIGUETTO & MONTAÑO, 2011, p. 79).
Na análise do pensamento marxista, “é por meio do trabalho que o homem se desenvolve, estabelecendo relações que não necessariamente são frutos da sua vontade”. Importa lembrar que é por meio do trabalho, alterando a natureza que o homem se transforma. E nesse processo de transformar a natureza o homem também muda (MATOS, 2013, p. 24-25).
Nessa óptica de análise, Santos (2013) afirma que o trabalho é algo que distingue o homem, tendo em vista a sua capacidade de projetar idealmente o que será construído por seu trabalho e o que se pretende alcançar. Característica que os diferencia dos animais, que realizam suas atividades pelo instinto animal.
Partindo da concepção que Marx (1983, apud Lessa, 2011) no capítulo V do “O Capital” considera trabalho como:
[...] um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporeidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para a sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza (MARX, 1983, p. 149).
Ou seja, o trabalho é, pois, a categoria fundante do mundo dos homens, significa produzir, valor produzido, utilidade do que foi produzido, feito pelo ser humano. É notório, em Marx (1983), que o homem, ao transformar a natureza pela execução do seu trabalho, urge explicitar que, o “trabalho é um processo que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza”.
Entende-se, portanto, em Marx (2012), que é através do trabalho que o homem se afirma como um ser pensante, que age de modo racional e consciente. Portanto, o trabalho desenvolve mudanças na matéria, no objeto, mas também no sujeito, possibilitando ao mesmo descobrir novas capacidades e qualidades (MATOS, 2013).
A partir de então, o processo de trabalho, quando atinge certo nível de desenvolvimento, passa a exigir meios de trabalho já elaborados. Nota-se, portanto, que se acentua os principais elementos para compreensão do processo de trabalho: atividade adequada a um fim (o próprio trabalho); a matéria a que se aplica o trabalho (o objeto do trabalho) e os meios do trabalho (o instrumental do trabalho). Sendo esses meios de trabalho considerados como “as propriedades mecânicas, físicas, químicas”.
2.2. A CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE
Ao analisar a trajetória do Serviço Social, cabe ressaltar que o surgimento da profissão do assistente social no Brasil, ocorre na conjuntura da década de 1930 e 1945, através da influência europeia, época em que o país estava se industrializando. Contudo, o campo da saúde não concentrou o maior quantitativo de profissionais, mesmo com a motivação das Escolas que surgiram ocasionadas pelas demandas apresentadas pelo setor. Assim, algumas condições se fizeram necessárias para ampliação da profissão nesta conjuntura, além de contar com o “novo” conceito de saúde, elaborado em 1948, que exigiu uma requisição de outros profissionais para atuar no campo da saúde, entre eles o assistente social (BRAVO & MATOS, 2004).
Para os referidos autores, este conceito surge de organismos internacionais, vinculados ao agravamento das condições de saúde da população. A partir do exposto,
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