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Estudantes indígenas universidade federal

Por:   •  6/8/2018  •  1.509 Palavras (7 Páginas)  •  452 Visualizações

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ano em 10 cursos diferentes, sendo que a UFRGS disponibiliza de graduação em setenta cursos diferentes. Crítica essa que foi repensada em várias conversas com os estudantes. Conversas essas que aconteciam em encontros inesperados pelos halls e pelas sacadas da CEU.

Havia criado muita expectativa em relação as respostas das entrevistas, realmente pensei que dessas entrevistas sairiam as respostas para os meus questionamentos. O que na realidade não aconteceu.

As respostas que eu buscava e muitas vezes a reformulação dessas perguntas surgiam em um bate-papo descompromissado na sacada enquanto fumávamos um cigarro, ou em uma sexta-feira qualquer bebendo uma cerveja para encerrar a semana.

Foi nessas conversas que percebi o quanto minha crítica era equivocada e quanto se distanciava da visão que os próprios alunos tinham dessa questão. No meu instinto revolucionário acreditava que o número de vagas oferecidas deveria ser infinitamente maior, para que esses estudantes pudessem escolher entre qualquer um dos setenta cursos oferecidos pela UFGRS e não apenas por dez cursos. Eis que então durante uma conversa um dos alunos me explica a visão dele sobre o assunto, visão essa que depois foi de encontro com a fala dos demais alunos indígenas da CEU.

Iniciamos a conversa com ele me explicando como se dava a escolha dos cursos. E que para entender essa escolha eu não poderia me distanciar da filosofia indígena que preza o coletivo antes do individual e por isso os cursos escolhidos são principalmente cursos das áreas da Saúde, Educação e Humanas, pois essas são áreas de interesse para a aldeia como um todo. Segundo ele não é de interesse da maioria ter um membro formado em Engenharia de Materiais, por exemplo. Pois não faria sentido algum para eles. E que quanto ao número de vagas, ele disse que a minha visão estava limitada ao âmbito da UFRGS, sem perceber que existem outras universidades no estado e no país, que também tem Programa de Ações Afirmativas e que recebem alunos indígenas todos os anos. Segundo a visão dele o número de vagas oferecidas pela UFRGS está de acordo com a procura. Segundo palavras deles: “Vocês estão acostumados com esse negócio de sair da escola e entrar na universidade, pra gente isso começou a pouco tempo. Aí a procura ainda é pequena. Na verdade quando a gente se inscreve no curso não sabe muito bem do que se trata, porque os cursos são apresentados para os representantes das aldeias não para os jovens.”

Em outro momento conversando com outro aluno resolvi perguntar qual era a principal dificuldade que teve ao entrar na UFRGS, e ele me disse que sem dúvidas era estar sozinho. Segundo ele: “Porque na aldeia todos se ajudavam, e aqui é cada um por si, quando entramos aqui não estamos preparados pra isso.”

Quanto as políticas de assistência estudantil todos foram unanimes a dizer que estava tudo bem, que o dinheiro recebido para se manter era suficiente e que sempre que precisavam de alguma coisa podiam conversar com o pessoal da CAF.

Mas sabiam também que para possíveis melhorias era necessário se fortalecerem como grupo, pois na maioria das vezes se sentiam moldados pela opinião dos demais, não indígenas. Um pouco por serem poucos e entre esses poucos por ainda haver divisão de pensamentos entre os de etnia Kaingang e a Guarani.

Para finalizar pedi aos meus entrevistados e aos que conversei durante esse tempo de convívio o que eles acreditavam que poderia melhorar para os futuros alunos que irão entrar nos próximos anos, a resposta que tive foi que seria muito interessante que o aluno ainda dentro da aldeia pudesse ter uma ideia mais clara do que se trata cada curso, porque acaba ocorrendo uma falha de comunicação entre os líderes e os futuros universitários, talvez se existisse a possibilidade de conhecer a Universidade antes de entrar facilitaria a transição. Muitos deles disseram que veem durante o ano alunos de escolas de todo estado vindo conhecer a UFRGS e sentem que se tivessem passado por essa experiência talvez tivessem escolhido cursos diferentes.

Por fim, me dou conta de duas questões, a primeira é que o meu projeto em certo ponto se concretiza, pois sugeri que esses alunos fossem ouvidos. A segunda é que ouvindo o que eles tinham para me dizer pude perceber que estava equivocada nas críticas que fiz quando ao modelo de ingresso nessa Universidade.

Finalizo esse relatório agradecendo a cada um dos alunos indígenas moradores da Casa do Estudante Universitário pelas horas de conversa, pela paciência ao explicar sobre as minhas dúvidas e pelo acolhimento.

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