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Ensaios sobre o conceito de cultura_Zygmunt Bauman

Por:   •  22/10/2018  •  2.496 Palavras (10 Páginas)  •  280 Visualizações

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Já em seu texto de 1987, Canclini desenvolve um quadro mais amplo, tratando das políticas culturais a partir dos seus paradigmas, agentes e modos de organização. Os paradigmas são:

a) o mecenato liberal, promovido por Fundações industriais e empresas que apoiam a criação e distribuição discricionária da alta cultura, numa perspectiva de difusão do patrimônio e o seu desenvolvimento através da liberdade criativa individual;

b) tradicionalismo patrimonialista, promovido por Estados, partidos e instituições culturais tradicionais, com o uso do patrimônio tradicional como ambiente não conflitivo para a identificação de todas as classes em uma perspectiva de preservação do patrimônio folclórico como núcleo da identidade nacional;

c) estatismo populista, provido por Estados e partidos, pautada na distribuição dos bens culturais de elite e no controle estatal da cultura popular. Neste sentido, se busca proteger as tendências da cultura nacional-popular que contribuem na reprodução equilibrada do sistema;

d) privatização neoconservadora, efetivada por empresas privadas nacionais e transnacionais, bem como por setores tecnocráticos dos Estados, a partir da transferência ao mercado simbólico privado das ações públicas na cultura, com o propósito de reorganizar a cultura sob os auspícios das leis do mercado, procurando o consenso através da participação individual no consumo cultural;

e) democratização cultural, promovida por Estados e Instituições culturais, com o objetivo de promover a difusão e a popularização da alta cultura através do acesso igualitário de todos os indivíduos e grupos à fruição dos bens culturais;

f) e, por fim, democracia participativa, proposta pelos partidos progressistas e pelos movimentos populares independentes, com vista à promoção da participação popular, organização e autogestão das atividades culturais e políticas, visando o desenvolvimento plural das culturas de todos os grupos a partir de suas próprias necessidades. (CANCLINI, 1987. p. 9, tradução nossa).

O autor nos leva a problematizar as explicações correntes em seu tempo acerca da desigualdade entre as culturas, sugerindo aos estudos sobre cultura, cultura popular e identidade com aportes além da antropologia, incluindo a sociologia, a política, a filosofia e a história. Seus textos apresentam reflexões sobre as interpretações da cultura popular e como o tema influenciou e influencia as ações em comunidades constituídas na periferia do capitalismo. Textos marcados por análises que mantinham o rigor crítico, e que não permaneciam confortáveis com as perspectivas de mercado e do liberalismo econômico. Suas reflexões transitavam disciplinarmente, superando os limites das fronteiras disciplinares e inspirado pela complexidade do tempo presente, buscando compreender como as dinâmicas de massificação e globalização em curso interferem nos processos sociais da produção da cultura. Suas análises problematizam ainda sobre origens e princípios das correntes que interpretam cultura numa perspectiva hierárquica, essencializada e congelada no tempo. Para tanto, apontou para algumas ideias que permitem formar uma outra concepção de cultura:

Falamos de cultura, como o conjunto de fenômenos que contribuem, mediante a representação ou reelaboração simbólica das estruturas materiais, para compreender, reproduzir ou transformar o sistema social. (CANCLINI, 1983. p.40)

Esta concepção de cultura apresentada por Canclini emerge no contexto dos anos 80, momento de fragilidade das esquerdas, segundo o autor, dispersas, fracas e assediadas depois das derrotas dos anos 70 na América Latina. A releitura de um texto/autor, é sempre um desafio às suas ideias e de como elas estão conectadas com as questões que de fato importem aos nossos problemas contemporâneos. Uma dessas questões diz respeito à inscrição democrática da diversidade nas políticas culturais. Em Canclini, a questão das políticas culturais é sempre uma questão de aprofundamento da democracia, e discutir políticas culturais é discutir que sociedade podemos e queremos construir. Para o autor há sempre o risco de converter as políticas culturais ao ordenamento burocrático, aos dados de crescimento palpáveis e exaltáveis nos discursos e ao consenso ideológico. E conclui:

[...] não haverá políticas culturais realmente populares enquanto os produtores não tiverem um papel de protagonista, e este papel não se realizará senão como consequência de uma democratização radical da sociedade civil. (CANCLINI, 1983a, p. 143)

Nesta direção, o autor propõe pensarmos a produção da cultura em seus múltiplos atores, meios e possibilidades. Suas observações sugerem a complexidade de tais políticas, sua relação com o mercado e com os estratos sociais, nem sempre harmoniosos entre si. Pelo contrário, Canclini sugere observarmos sempre os conflitos presentes no jogo simbólico que define o pertencimento nacional/regional/local.

Políticas culturais e produção cultural

Canclini procura pensar as políticas culturais na interface com a sociedade, em seu sentido amplo. Nesta direção, o autor não deixa de trazer as questões da participação popular nas formulações sobre as políticas culturais populares. Para ele, as análises das políticas culturais que abordem a produção da cultura popular podem oferecer um caminho para compreender a complexidade e diversidade culturais nos territórios analisados. Contudo, é importante perceber os conflitos subjacentes ao jogo de afirmações simbólicas em curso em cada momento histórico. Em seus textos é possível observar como se alteraram as concepções das políticas culturais ao longo dos tempos, com destaque para alguns protagonismos, principalmente nos marcos internacionais de operacionalização de concepções mais inclusivas. O autor destaca o lugar da Unesco e dos pesquisadores na evolução do conceito, desde as descrições até a conceitualização apresentada em Veneza (1970), ou no México (1982). Ainda sobre a questão da internacionalização, o autor destaca a importância dos grupos de pesquisadores que avançam nas análises nacionais e regionais para os estudos comparados, propondo investigações internacionais, como no caso dos Grupo de Trabalho da Intercom ou o Grupo de Trabalho sobre Políticas Culturais na CLACSO (Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales), que sugerem tratar conjuntamente Argentina, Brasil, Chile, Peru e Uruguai ou investigar a política cultural e o consumo na Argentina, Brasil, Chile, México e Peru. Ainda não inclui os desdobramentos do Mondialcult nem da Convenção da Diversidade,

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