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ETNOGRAFIA: FUNÇÃO SOCIAL DA RUA SIQUEIRA CAMPOS

Por:   •  7/5/2018  •  1.711 Palavras (7 Páginas)  •  326 Visualizações

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A rua me pareceu dividida em duas partes: de um lado se encontrava a Praça Serzedelo Correia cercada por grades, apresentando um grande portão que durante o funcionamento do local fica aberto. Notei um número de 12 bicicletas que ficavam amarradas por correntes nas grades. Dentro da praça notei um número grande de idosos, que infelizmente não contei. Pelos cabelos brancos e rugas acredito que tinham mais de 65 anos. O tempo ainda estava um pouco abafado do lado de fora da praça, mas a presença de muitas árvores no local amenizava o clima e frequentemente até podia sentir o vento. Do outro lado encontravam-se prédios, bares, bancos e bancas de camelôs. De posse de meu celular comecei a fazer anotações sobre o que ali eu observei.

Observei que a circulação de pessoas na calçada próximas de prédios, bares e bancas de camelôs, era bem mais frequente, no entanto, essas bancas acabam por obstruir a passagem dos pedestres que por ali circulam, sendo que a calçada é muito estreita e o grande número de pessoas que passam diariamente acaba por obrigar a correrem riscos caminhando pela rua disputando espaço com os veículos.

Percebi que existe apenas uma lixeira em cada uma das duas calçadas da Rua Siqueira Campos e que não atendem às necessidades dos pedestres, sendo que é uma rua comercial com ponto de ônibus e praça, com isso as calçadas acabam ficando sujas com lixo.

Em duas bancas de camelôs observei a autorização da prefeitura. Uma banca vendia camisetas infantis personalizadas e bijuterias em geral e a outra banca vendia utensílios domésticos, roupas e bijuterias nas cores verde e amarelo. Como era sábado estava na rua a UOP (A Unidade de Ordem Pública), que é formada por guardas municipais para identificar problemas da população da rua, camelôs, comércios ambulantes, estacionamentos irregulares, carga e descarga dos estabelecimentos comerciais, e etc. Tinham três guardas em pé na calçada da Praça Serzedelo Correia. Enquanto isso alguns camelôs, barraca de acarajé, carrinhos de água de coco e doces, barraca, pareciam estar bastante familiarizados com a circulação de pessoas conhecidas, chamando-os até pelos nomes. Esse fato comprova que a regra nem sempre é cumprida e nem mesmo imposta, pois os guardas municipais presentes não questionaram os vendedores em nenhum momento. Outras pessoas se encontravam meio “perdidas”, parecendo turistas estrangeiros, devido a comunicação por idiomas diferentes do português, pela cor da pele, excesso de rubor, estatura, cabelos loiros, olhos claros e roupas despojadas, posso deduzir que eram turistas estrangeiros. Os “perdidos” ficavam andando, olhando de um lado para o outro, com mapas ou manual de ajuda.

No espaço limitado há também duas bancas de jornais, situadas ao lado da calçada estreita dos prédios, bares e camelôs. Parece ser frequentadas pelos moradores e pelos passantes em geral. Já os camelôs sofrem influência do turismo local, vendo que são oferecidos produtos diversos, mas com uma grande quantidade produtos souvenirs (chaveiros, canetas, ímãs e etc.) do Brasil.

Percebi que nos dias que caminhei pela Rua Siqueira Campos, mesmo não sendo exclusivamente para o trabalho de campo, me forneceu maiores informações sobre a dinâmica daquele local. Em todas as vezes que passei por ali, tentei não conversar com ninguém. Acreditei que para o exercício proposto uma observação de perto e atenta era suficiente.

Notei que minha presença não era percebida, e nem notei olhares desconfiados, mesmo nos dias em que fiz anotações no celular, estando parada e em pé. Acho que se eu estivesse com um caderno e lápis na mão poderia ser notada pelas pessoas.

Em uma análise geral percebi que a função social da Rua Siqueira Campos deixa de ser somente passagem de pedestres e meios de transportes, mas também uma forma de renda para muitas pessoas. Percebi que as pessoas que trabalham na Rua Siqueira Campos buscam uma forma de ganhar recursos para aumento de renda ou ser a única forma de sobrevivência. Portanto, o fruto da flexibilização das relações de trabalho e uma reestruturação de produção, aumenta o trabalho informal, e esta realidade pode ser claramente observada na Rua Siqueira Campos.

Durante a noite em minhas passagens pela Rua Siqueira Campos, vi que as bancas de camelôs são retiradas, a circulação de pessoas é menor, mas os dois bares da Rua Siqueira Campos são bem frequentados, e apresenta certa segurança devido à movimentação nos bares, impedindo roubos, estupros e agressões. A Rua Siqueira Campos é um espaço acessível do bairro de Copacabana. A forma com que as pessoas se apropriam do espaço, com que costumam se encontrar, as redes de sociabilidade que são formadas e entre tantos outros elementos que compõem suas rotinas, pode de fato, demonstrar suas diferentes inserções em uma metrópole como o Rio de Janeiro.

O que procurei nesta etnografia foi apresentar a dinâmica espacial de uma rua, que não se trata simplesmente de um lugar de passagem de pedestres e circulação de veículos, mas que diariamente abriga dezenas de pessoas, localizada por sua vez, em um bairro que tem a peculiaridade de apresentar uma heterogeneidade de pessoas. Procurei apresentar os diferentes tipos de funções e sociabilidades que a Rua Siqueira Campos oferece, assim como seus personagens, as pessoas que circulam, frequentam e se apropriam daquele espaço.

Referências

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