Conde Matarazzo: o empresário e a empresa, estudo de sociologia do desenvolvimento
Por: Ednelso245 • 30/5/2018 • 1.736 Palavras (7 Páginas) • 348 Visualizações
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Com duas fábricas exclusivamente sua, associou-se aos irmãos José e Luís para expandir sua atividade, José possuía um armazém/deposito em São Paulo e Luís uma fábrica de banha em Porto Alegre. A nova sociedade chamava-se “Matarazzo & Irmãos”. Francisco Matarazzo mudou-se para São Paulo. Os negócios da banha aumentavam no Brasil e a importação de bens de consumo foi substituída pela produção interna, possibilitando o mercado de adquirir uma inovação nacional: a banha em lata. Francisco funda uma nova fábrica em Porto Alegre.
A expansão da atividade de fabricação e distribuição ampla da banha se adequou com a entrada de Matarazzo nos negócios de importação de bens de consumo, entre 1890, perdurando até 1900, a empresa foi marcada pela transição comercial-industrial para comercial completamente. A intensificação do aspecto comercial foi concomitante a dissolução de Matarazzo & Irmãos. Posteriormente foi organizada uma sociedade anônima, composta por 43 acionistas, denominada Companhia Matarazzo, para aumentar a produção e o comercio de banha; Francisco e José, juntos, adquiriram a maior parte das ações, no entanto não tiveram cargos pois estavam dissolvendo a antiga associação. Francisco e José vendem as fábricas de Sorocaba e Porto Alegre para a Companhia Matarazzo; Francisco preservou apenas a pequena fábrica de Capão Bonito, firmando sociedade com André Matarazzo. José voltou para sua terra natal e Luís foi viver no interior de São Paulo.
Martins ressalta que a partir deste período, Francisco firmou relações com um banco Inglês (Bank of London & South America Limited/ London & Brazilian Bank). Com o crédito oferecido, o empresário comprava farinha americana, posteriormente, com auxílio do banco inglês, construiu os moinhos de farinha em São Paulo (em 1900). A fábrica possuía 2 oficinas, uma para fabricar sacaria e outra para consertos, além do almoxarifado. A partir desse moinho houve uma expansão industrial; entre 1901 e 1904 a seção de sacaria se ampliou transformando-se em tecelagem. 1902, a oficina de consertos foi transformada em uma seção de fabricação do ramo metalúrgico. Neste período, Francisco já possuía um palacete na Avenida Paulista (Recém-aberta).
Pouco tempo após a inauguração do moinho, Francisco participava da fundação do Banco Commerciale Italiano di São Paulo, tornando-se um dos diretores; juntos, a família Matarazzo (Francisco + irmãos + filhos) adquiriram 10% das ações. Cinco anos depois, Francisco participa da fundação de outro banco: O Banco Italiano del Brasile, desta vez é o maior dentre os acionistas de descendência italiana e eleito presidente do banco. Alguns anos depois, é fundado um terceiro banco italiano, a partir da associação entre Matarazzo e Puglisi (ligado a indústria de moagem de trigo também).
Em 1911, a Família Matarazzo e Companhia se transformam em sociedade anônima, onde Francisco possuía a maior parte do capital, seguido por André, o restante estava divido entre parentes e/ou empregados. (ver p.35). De acordo com Martins, em 13 anos (1887-1900) o capital nominal do grupo Matarazzo multiplicou-se mais de cem vezes, e no período seguinte (1900-1911), multiplicou-se 400 vezes o capital de 1887. (Ver pg.36). Houve uma reorganização da empresa (Indústrias reunidas fábricas Matarazzo), preservando um padrão familiar, onde antes era composta por chefes de família (André e Francisco), agora seria composta por todos os membros das famílias. Durante esse período o grupo se consolida; conforme Martins, as expansões que ocorreram entre 1910 e 1920 referem-se, especialmente, à ampliação das atividades nos setores já existentes e/ou aquisição de novas empresas, o grupo aproveitou o que já existia e expandiu o necessário, por exemplo, em 1917 compraram a Companhia Metal Graphica Alibertti que, junto com a seção metalúrgica que já existia, ampliaria o setor de estamparia de metal. A partir de 1917, Francisco passa a transferir parte de poder para os filhos, e morre em 1937.
Cap. 2 (Os Horizontes do Empresário)
Neste capitulo o autor procura compreender o sentido da ação do empresário Francisco Matarazzo, assim como a influência dessa ação na implantação da indústria no Brasil. De acordo com o Martins, a ação de Francisco Matarazzo se apoia em uma dicotomia entre uma ação objetiva e ação subjetiva.
Para entender esse aspecto subjetivo, o autor analisa a emigração de Francisco para o Brasil, que embora tenha sido influenciada pela situação econômica da Itália e pelo falecimento do seu pai, existiram outros acontecimentos que interviram subjetivamente. Francisco era o filho primogênito em uma família de origem nobre, em decadência, cresceu em uma comunidade apoiada na economia agraria, sendo descendente de uma posição/status social que não poderia mais se sustentar com o declínio da base econômica da sociedade estamental (resultado do capitalismo), assim, a escolha de Francisco pela “carreira das armas” se dá em uma tentativa de atender as expectativas sociais acerca da posição social do seu grupo familiar. “A escolha da carreira teria que ser objetivamente compatível com a condição e subjetivamente compatível com as aspirações” (p.49), entretanto a situação oferecia uma frágil condição pra Francisco, desta forma ele desiste da carreira militar, não apenas pelo falecimento do pai, mas também por sua condição social precária. Assim, o sentido subjetivo da ação de Francisco era estruturado a partir da internalização dos padrões culturais da comunidade e o objetivo era apoiado no ajustamento à situação.
Martins ressalta que a emigração de Francisco para o Brasil surge como uma alternativa para manter sua posição e construir sua vida sem incompatilidade entre suas aspirações (fundadas em uma condição estamental) e a possibilidade da situação. Desta forma, Matarazzo vai agir objetivamente de acordo com os padrões capitalistas e subjetivamente buscando realizar suas aspirações. O autor observa a ação de Francisco que na tentativa de obter o maior lucro possível sempre esteve atento a política econômica brasileira, especialmente quando se refere as mudanças do seu empreendimento
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