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A ética protestante e o espírito do capitalismo

Por:   •  4/4/2018  •  8.112 Palavras (33 Páginas)  •  325 Visualizações

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Keywords: Protestantism. Catholicism. Capitalism. Ethic.

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INTRODUÇÃO

A vertente de ideias e debates sobre o início e o desenvolvimento da Reforma Protestante iniciada no século XVI e sua inter-relação com a gênese e a expansão do capitalismo no mundo foram fortemente impulsionadas e reforçadas na segunda metade do século XIX, principalmente devido ao pensamento teórico social de Max Webber (2004), exposto em sua obra “A Ética Protestante e o Espírito Capitalista”. A reforma protestante teria, segundo ele, formado alicerces favoráveis nas sociedades que a abraçaram, preparando caminho para a expansão capitalista.

Contudo, concluir que certas condutas religiosas são congruentes ao sistema capitalista – com referência não apenas ao pensamento de Max Weber sobre esse assunto – remete, para dizer o mínimo, a uma ótica simplista de entendimento da relação de tais fatos históricos com a fisiologia política moderna.

Existem outros fatores que podem ter colaborado para a boa aceitação do capitalismo por parte dos Protestantes. Aspectos culturais e étnicos serviram de base para a busca da liberdade religiosa, da racionalização do cotidiano em geral, da desmistificação das crenças tradicionais, pelas quais as pessoas creditavam fatores sobrenaturais aos fenômenos científicos e a tudo que não se podia entender, favorecendo a vitória do medo do sobrenatural pela busca do conhecimento e racionalidade, que antes amarrava as pessoas à ignorância e ao atraso predominantes na era medieval.

Nesse contexto, importa esboçar a traços largos o raciocínio de Max Weber a respeito do tema.

Reportando-nos a Karl Marx (1988), para fins de comparação apenas, verificamos que este credita o surgimento do capitalismo inglês à apropriação da terra, destinada em especial à ovinocultura para grande produção de lã, e à consequente majoração da força de trabalho, formando um excedente dela.

Max Weber (2004), em contraposição, explica da transição da sociedade tradicional para a sociedade capitalista pelo aparecimento de uma nova ética - a Ética Protestante.

Nesse cenário, Weber (2004) relaciona o capitalismo às ações humanas, especialmente a uma ação: aquela que favoreceu o surgimento de novo tipo de empresário e de um novo tipo de trabalhador, caracterizados ambos por um novo ethos; vale dizer, por uma nova ética, entendendo-se por ética o que ensina Summer (1987): o conjunto das marcas específicas pelas quais um determinado grupo se separa e se diferencia de outros.

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Assim, Weber (2015) considera que a ética protestante e o espírito do capitalismo são claramente afins, uma vez que, para ele, o protestantismo favorece o florescimento e implantação de idéias e hábitos propiciadores e justificadores da busca racional de ganho econômico, muito congruente ao espírito do capitalismo, além de ter dado à vida do homem na Terra uma significação diferente e mais positiva. Portanto, para que o capitalismo se expandisse, era necessária uma ética do trabalho que só o protestantismo podia fornecer (WEBER, 2015).

Essa nova ética tinha por fundamento a certeza de que o homem bem-sucedido nas atividades terrenas é um eleito, um predestinado à salvação, pois, segundo Weber apud Freund (1987, p. 151), “o trabalho mais eficaz é manifestação da glória de Deus”, em franca oposição às crenças religiosas anteriores à teologia protestante, que viam o trabalho com maus olhos e segundo as quais só se obtinha a salvação através da vocação religiosa, da compra de indulgência e de outros meios nem sempre acessíveis a todos (ALMEIDA, 2008).

Em outras palavras, ainda para o autor acima referenciado, Calvino e Lutero democratizaram o acesso à salvação por meio do trabalho, criando, por assim dizer, uma ética inédita do trabalho: o homem trabalha incessantemente para maior glória de Deus.

Este trabalho de “democratização” da salvação encontrou ainda outras formas de afirmação, como a tradução da Bíblia para os vernáculos, por exemplo. Para Sant’Anna (2004), a iniciativa de Lutero em tirar Bíblia dos mosteiros, traduzindo-a para o alemão em 1521, e levá-la para a casa das famílias, permitindo o acesso a ela por um número muito maior de pessoas e possibilitando o surgimento de novas e diferentes interpretações das Escrituras, impactou grandemente as interações culturais e educacionais da época. Infere-se, assim, que o protestantismo impactou a educação, que, por sua vez, influenciou decisivamente o crescimento econômico.

Diante disso, impõe-se a questão desta pesquisa: Que relações se estabelecem, em especial na ótica de Max Weber, entre a Reforma Protestante e a aceitação do capitalismo entre as sociedades que aderiram a esta reforma?

O sistema capitalista, desde a sua gênese, sempre esteve intimamente relacionado à igreja cristã. Esta, por sua vez, envolve-se necessariamente com as mazelas sociais.

Em outras palavras, além de representar, para os fieis, um guia espiritual e espaço privilegiado de contato com o divino, a igreja cristã, desde os primórdios de seu estabelecimento entre os povos, sempre esteve fortemente em questões econômicas e políticas.

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Por outro lado, as crenças religiosas têm sofrido diversas transformações ao longo do tempo e é inegável a sua influência na economia e na cultura das sociedades.

Justifica-se, assim, o presente trabalho por estabelecer uma correlação, baseada principalmente no pensamento de Max Weber (2004), entre a gênese e o desenvolvimento do capitalismo – e sua ética própria – e a ética religiosa protestante, correlação esta explicada por ele como devida ao “caráter intrínseco permanente de suas crenças religiosas, e não apenas pelas situações temporárias externas, históricas e políticas”.

O objetivo geral deste estudo é traçar uma relação entre a Reforma Protestante e a implantação e expansão do capitalismo nas sociedades que aderiram à Reforma, relação baseada principalmente na obra do sociólogo alemão Max Webber na obra: A Ética Protestante e o Espírito Capitalista, buscando entender a Ética das Sociedades Protestantes diante da ascensão capitalista.

São objetivos específicos do trabalho: historiar brevemente a religião cristã e suas injunções ético-teológicas; estabelecer as diferenças culturais entre os países ocidentais do norte

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