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A INTERPRETAÇÃO DO CONCEITO DE FETICHISMO NA OBRA DE MARX

Por:   •  24/12/2018  •  4.641 Palavras (19 Páginas)  •  289 Visualizações

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Marx ainda dá o exemplo de atividades camponesas autônomas que, a partir de sua própria divisão de trabalho naturalmente desenvolvida, criavam funções sociais específicas, criando produtos diferentes mas que não se relacionavam entre si como mercadorias, ratificando que:

"diferenças de sexo e idade e as condições naturais do trabalho, que mudam com as estações do ano, regulam sua distribuição dentro da família e o tempo de trabalho dos membros individuais da família, pois o dispêndio das forças individuais de trabalho, medido pela sua duração, aparece aqui, porém, desde sua origem como determinação social dos próprios trabalhos, porque as orças de trabalho individuais a partir de sua origem só atuam como órgãos da forma comum de trabalho da família."

Ou seja, Marx, a partir disso, trabalha para entendermos que a partir de uma associação de homens livres, os mesmos despendem suas forças de trabalho individual como uma única força social de trabalho, afirmando que:

"o produto total da associação é um produto social [...] Parte desse produto serve novamente como meio de produção. Ela permanece social, mas parte é consumida pelos sócios como meio de subsistência. Por isso tem de ser distribuída entre eles. O modo dessa distribuição, então, variará com a espécie particular do próprio organismo social de produção e o corresponde nível de desenvolvimento histórico dos produtores"

Marx corrobora, logo, o que entendemos como trabalho individual gerador de riqueza social total – riqueza no sentido de distribuição social planejada.

Toda essa exemplificação de contextos distintos relacionados à produção social só ratifica o ponto principal de que nossa forma capitalista de organização social cria, a partir de uma prática mercantil igualmente capitalista, um misticismo, um fetichismo quase como uma prática supersticiosa em cima das mercadorias e, também, a partir delas. E, assim, Marx dá uma brecha pra compreendermos uma possível solução, que seria possível apenas através do esclarecimento já supracitado:

"O reflexo religioso do mundo real somente pode desaparecer quando as circunstâncias cotidianas, da vida prática, representarem para os homens relações transparentes e racionais entre si e com a natureza. A figura, então, do processo social da vida, isto é, do processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob seu controle consciente e planejado."

Cristalização da riqueza como fetiche:

Começamos retomando o conceito de que o fetiche, na obra marxista, é uma aparência objetiva de que o valor de um objeto que foi socialmente produzido é uma propriedade natural – quase que inata – e, portanto, eterna desse objeto, e o dinheiro seria a expressão mais ofuscante dessa expressão. Com isso, podemos afirmar que há uma necessidade burguesa na criação de uma produção que produza – permitindo-me o pleonasmo – a necessidade artificial (artificial posto que não é natural) de cristalizar a riqueza em um objeto particular, cristalização esta proveniente da naturalização das relações de produção capitalista, objeto este que se tornará o meio de troca, traduzindo, assim, o modo de existência dessas relações de produção, o que significa que toda essa magia e fantasmagoria que envolvem os produtos de trabalho na base da produção de mercadorias, desapareceriam tão logo mudemos nossa forma de produção. Ou seja, a expressão monetária baseada na grandeza de valor levou a uma fixação do seu caráter de valor – pois o caráter de valor dos produtos do trabalho apenas se consolidam através de sua efetivação como grandezas de valor - e, segundo Marx, "é exatamente essa forma acabada – a forma do dinheiro – do mundo das mercadorias que objetivamente vela, em vez de revelar, o caráter social dos trabalhos privados, e, portanto, as relações sociais entre os produtores". Com isso, afirmamos que o valor é o tempo de trabalho abstrato socialmente necessário, e abstrato porque o mesmo é abstraído de suas propriedades materiais para ser considerado uma atividade abstrata, impalpável, despendido na confecção de um objeto que o detém, pautando-se no valor de troca desse objeto, seja ele mercadoria, capital ou dinheiro, e deste jeito afirmamos que essas três categorias – dinheiro, mercadoria e capital – carregam em si a transubstanciação do trabalho abstrato, existindo de forma concomitante no mundo dito "concreto" e no mundo das mercadorias.

Tempo de trabalho abstrato – mero consumo de energia física; sem importar que coisas esse dispêndio transforma.

Essa dita grandeza de valor, por assim dizer, seria o que determinaria as equivalências das mercadorias, pois como é possível trocar duas coisas qualitativamente diferentes como se fossem análogos ou equivalentes, isto é, quantitativamente iguais? Visto que, o que primeiramente interessa aos que trocam produtos é a quantidade de produtos alheios que eles poderão receber pelo seu, e, tão logo essas proporções aumentarem – o quanto receberem na troca – elas irão provir da natureza dos produtos do trabalho, que pode ser, também, caracterizado pelo tempo de trabalho que um indivíduo despende para produzir uma mercadoria, trocando, assim, montantes iguais de tempo de trabalho, virando o tempo, por si, uma medida de valor, fazendo da mercadoria uma portadora de uma determinada quantia de tempo de trabalho, sem outra finalidade senão a de facilitar essa troca mercantil. Marx, então, afirma que "o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção se impõe com violência, como lei natural reguladora", assumindo que:

"[...] a determinação de valor pelo tempo de trabalho é, por isso, um segredo oculto sob os movimentos manifestos dos valores relativos das mercadorias, e sua descoberta supera a aparência da determinação meramente casual das grandezas de valor dos produtos de trabalho, mas de nenhum modo sua forma material."

Sendo assim, o tempo de trabalho medido em cada mercadoria e trocado por outra não é o de cada trabalhador individual, mas sim o tempo médio que uma sociedade demora para produzir a mercadoria que será intercambiada, colocando em pauta também o fato de que as mercadorias não são sempre trocadas em razão um por um, visto que há trabalhos bem remunerados e outros pagos de forma miserável, ratificando a concordância de que a proporção da troca depende, em grande parte, de um processo social às costas dos produtores,

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