IMAGINÁRIA DEVOCIONAL MINEIRA: TIPOLOGIA E ICONOGRAFIA.
Por: Rodrigo.Claudino • 20/1/2018 • 1.964 Palavras (8 Páginas) • 339 Visualizações
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Imagens de oratório: com menos de 30 cm, em geral, destinadas à devoção doméstica, abrangem um universo multifacetado, subordinado às práticas do devocionário católico na esfera privada. Incluem desde peças eruditas com vistosa policromia e douramento às mais toscas imagens populares.
Santana mestra
Santana, assim como Nossa Senhora da Conceição, tem uma ligação muito estreita com a formação de Minas Gerais. Chegou com os bandeirantes, em seus oratórios ambulantes, e logo as instalaram nas primeiras igrejas matrizes. A princípio, não obtiveram templos próprios, o que só veio ocorrer a partir do terceiro quartel do Setecentos. Santana, como Santo Antônio e Conceição darão origem a vários topônimos de localizações mineiras ainda hoje vigorantes. Dentro da Igreja Católica o culto à mãe da Virgem é bem antigo. A sua festividade começou a fazer parte do calendário católico e cristalizou-se nos martirológios. No século XV tão popular se fez seu culto que a Igreja Católica temia que este sobrepujasse ao da filha, principalmente nos países ibéricos, sobretudo em Portugal e em seus domínios ultramarinos.
Como é sabido a história de Santana não se encontra nas Sagradas Escrituras e foi criada das fontes dos chamados “escritos apócrifos”, como o “Proto-Evangelho de São Tiago” ou o “livro sobre a Natividade de Maria”. Nesses escritos apologéticos Santana é destacada como uma mãe devotada à educação exemplar da filha, direcionando-a ao caminho da perfeição, da castidade, da obediência a Deus, espelhada nos valores religiosos prescritos nos livros sagrados. A par disto, o culto ganha força e divulga a idéia de uma Santana Mestra ou Guia, temática que seria explorada a exaustão pelos artistas, especialmente no piedoso ambiente artístico português. Todo esse entusiasmo que os portugueses devotavam à mãe de Nossa Senhora é trazido, então, ao Brasil, tanto pela própria piedade da população que para a colônia se trasladou, quanto pelas corporações que a Santana confiavam sua proteção, ou ainda pelos religiosos instalados nas capitanias brasileiras.
Em Minas Gerais, o culto a Santana e as representações sacras que daí derivam assumem todos os contornos. E ainda ligam-se a uma outra importante particularidade: ter seu nome associado, desde os primórdios, à caridade e à cura de doenças. Todavia, o modelo iconográfico dentro do qual se faz representar a Santana, no caso mineiro, é bem reduzido. Santana Mestra está frequentemente assentada em uma cadeira, tendo a eu lado, direito ou esquerdo – sendo este mais o comum -, a Nossa Senhora menina, cujo olhar fixa-se atentamente ao livro, apoiado no colo da mãe.
O outro modelo possível, pouco comum em Minas Gerais, ainda que recorrente no Nordeste brasileiro, é o da Santa de pé, trazendo a menina ao colo ou a guiando pela mão, na cena denominada Santana Guia.
Nossa Senhora da Boa Viagem
Durante o processo das grandes navegações, Nossa Senhora sempre foi invocada pelos marinheiros, quando em alto-mar, na esperança de que os salvasse da morte na solidão das águas profundas ou que, ao menos, lhes desse paz eterna no reino de seu Filho, caso o inevitável acontecesse. Apontada pelos mareantes como a Estrela do Céu, no caso da Estrela Polar falar-lhes em suas orientações, inúmeras invocações suas eram registradas nas popas dos barcos, naus e caravelas que, além de levarem a Cruz de Cristo em suas velas, também tinham o nome de sua mãe a acompanhá-las em suas jornadas. Para Ela construíam nicho na proa, de modo que nem mesmo os ventos mais bravos conseguiam escurecê-los, pois os marujos, tão fervorosos e tementes que eram, vigiavam-no 24 horas ao dia para que a lâmpada, dependurada diante dele, não se apagasse de forma alguma.
Se por um lado os espanhóis tinham sua Nuestra Señora de Buenos Ayres, já os portugueses tinham a Nossa Senhora da Boa Viagem, que com eles vieram em muitas naus que para o território brasileiro se dirigiram. Nossa Senhora da Boa Viagem surgiu, tradicionalmente, em um convento ao sul de Lisboa, à beira mar, que era dedicado à Rainha dos Anjos, mas alguns navegantes devotos de Nossa Senhora pediram aos padres daquela obra que dessem o título de Nossa Senhora da Boa Viagem ao convento, pois queriam asseguram e fazer felizes os sucessos de suas navegações, ao que os padres assentiram positivamente. A partir de então, a Santa passou a ser interpretada iconograficamente em madeira estofada, carregando o menino Jesus em seu braço esquerdo e levando na mão direita uma nau. Desde então, passaram os navegante portugueses a carregar em suas embarcações uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem para as terras onde iam, por mais distantes que fossem.
Segundo o historiador Augusto de Lima Júnior a devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem chegou a Minas Gerais, mais precisamente onde hoje se localiza a sua capital, Belo Horizonte, quando o Capitão da nau Nossa Senhora da Boa Viagem, Luiz de Monterroyo, e o marinheiro Francisco Homem del-Rei, interessados nas Minas de Ouro do Brasil, das quais ouviam falar coisas fantásticas, decidiram formar tripulação e partir para as terras tropicais pertencentes à colônia portuguesa. Entretanto não contavam, que, durante sua epopéia, contariam com mar tão bravio, a ponto de destroçar, quase que completamente, a embarcação. Quando finalmente fixaram-se em solo brasileiro, viram que o tamanho do estrago na nau capitânia não tinha remendo suficiente que ajeitasse. Resolveram, então, ali deixar a carcaça do navio e partir em bando para as terras das Minas Geraes. Mas antes, Francisco Homem del-Rei, grande devoto de Nossa Senhora da Boa Viagem, retirou o nicho com o retábulo, onde se encontrava a Senhora padroeira do barco, e pôs-se em marcha com ele. Assim, na sua batida aventureira, o bando chegou à cidadezinha de Itabirito, pois ali encontraram ouro de aluvião. Aí construíram uma ermida e estabeleceram o retábulo com a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem. Posteriormente, devido a desentendimentos com o Capitão Monterroyo, Francisco Homem del-Rei partiu para as terras de Borba Gato, que eram extensas Sesmarias. Acabou optando por firmar-se ao pé da Serra das Congonhas (atual Serra do Curral), onde mais tarde tornar-se-ia o Arraial do Curral del-Rei. Neste local, segundo Augusto de Lima Júnior, Francisco Homem del-Rei construiu uma pequena ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem, mais tarde demolida e erguido um belo templo em estilo barroco colonial. O retábulo e a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem
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