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ENCANTAMENTO MARAJOARA EM RODRIGUES: REQUINTE E SOFISTICAÇÃO EM MODA E EM CERÂMICA

Por:   •  11/5/2018  •  2.248 Palavras (9 Páginas)  •  361 Visualizações

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A obtenção de informação histórica acerca da cultura indígena marajoara se baseia nos vestígios dos utensílios cerâmicos encontrados. Essa cerâmica tem o requinte como uma de suas características básicas, demonstrando uma cultura de alto desenvolvimento técnico e artístico, predominantemente abstrata, mas contendo uma padronização dos elementos estéticos decorativos, possuindo desenhos muito similares entre si (SCHAAN).

A arte marajoara é considerada complexa e se utiliza de um grande número de técnicas decorativas:

a cerâmica da fase Marajoara diferencia-se de outras da Tradição Polícroma da Amazônia por reunir características estilísticas e tecnológicas bem mais complexas (uso concomitante de excisão, incisões e duas camadas de engobo) e por ser mais antiga (500 d.C.) (Barreto, 2010, apud SCHAAN, 2007, p. 85).

Os artigos representados através da cerâmica estão basicamente divididos em tangas femininas, urnas funerárias, estatuetas humanas, utensílios para festas e dia a dia. As tangas femininas, feitas sob medida, eram usadas como vestimentas e também representavam a posição da mulher na estrutura social marajoara. As urnas funerárias, através da forma como eram adornadas, eram capazes de representar uma demonstração de poder e posição de destaque dentro da estrutura social que a pessoa ocupava. Já as estatuetas, podiam ser caracterizadas como instrumentos musicais (como maracás), além de estarem associadas a funções cerimoniais. Os utensílios, por sua vez, na maioria das vezes se associam ao preparo de alimentos e ainda, podem ser utilizados para servi-los, principalmente durante os rituais festivos e cerimônias em geral (AMORIM, 2010).

Figura 01 – Tanga Feminina, Urna Funerária, Estatueta.

[pic 2][pic 3][pic 4]

Fonte: AMORIM, 2010, p.40, 49 e 54.

O destaque da arte marajoara está evidenciado, portanto, no requinte de suas peças e na utilização de técnicas de maior desenvolvimento estético como reforça Barreto (2010, p.200):

A cerâmica da fase Marajoara se diferencia das cerâmicas decoradas anteriores não só por combinar muitos destes atributos já existentes, e outros novos (como a excisão), mas, sobretudo pela maior proporção de peças decoradas. Talvez, estes dois aspectos combinados sejam de fato aquilo que Meggers e outros identificaram como uma complexidade surpreendente da cerâmica marajoara, pois denotam investimento de tempo e conhecimento em atividades cerimoniais em proporções muito diferentes das conhecidas para os complexos cerâmicos anteriores.

Ainda nos tempos atuais, tem-se o desenvolvimento de artesanato com influências da arte marajoara como, por exemplo, em Icoaraci, distrito próximo a Belém, reconhecido nacional e internacionalmente como polo de produção de artesanato com referências na cultura marajoara, assim como Santarém e Ponta das Pedras, também no Pará (AMORIM, 2010).

3 WALTER RODRIGUES

Por volta dos anos 1960 a indústria da moda no Brasil sofreu uma expressiva alteração no seu sistema de funcionamento, deixando de ser somente um indicador de status social, para se transformar em um modo de expressão, período no qual o estilo prêt-à-porter se consolidou no país. Nesse sentido, pode-se destacar a participação da Casa Rhodia como impulsionadora desse desenvolvimento, através da promoção de cursos e oficinas com profissionais gabaritados e pertencentes aos escritórios de estilo parisienses, no período em que o país não dispunha de cursos de graduação em Moda. Alguns dos grandes talentos que se consolidaram na década de 1980 estiveram presentes nestes cursos da Casa Rhodia, dentre eles, o estilista Walter Rodrigues (ALÁRIO, 2007).

Walter Luiz Viera Rodrigues iniciou sua carreira em 1983, em um momento da moda brasileira em que as grandes marcas se sobressaíam aos nomes dos estilistas. Paulista de Tupã, o designer se muda para São Paulo para trabalhar na Revista Manequim em parceria com a editora de moda Iza Smith. Na revista, Rodrigues permanece durante um ano, e em 1984 se muda para a marca Cori, para trabalhar em conjunto com a equipe de estilo, período no qual o estilista pôde conhecer a vivência do processo produtivo de uma confecção e do setor operacional como um todo. Em seguida, o designer vai trabalhar na Huis Clos, onde a identificação entre a Diretora da Marca (Clô) e o estilista eram muito expressivas: ambos tinham um apego pela cultura oriental japonesa e pelo período do Art Déco, além do fascínio pela parte das costas nas peças produzidas (BUORO e YAMASHITA, 2008).

A marca Walter Rodrigues foi inaugurada em 1992 e já no ano seguinte, o estilista realiza o seu primeiro desfile. O método de desenvolvimento das suas peças sempre foi muito rico em pesquisa como ressalta Prado ( 2014, p.5) “Quase que como um antropólogo, Walter Rodrigues estuda culturas diferentes e viaja em busca de novidades, novas emoções e ideias para as coleções”.

Tendo a modelagem das peças como um fator de destaque nas suas coleções, Rodrigues buscou como uma de suas maiores referências Madeleine Vionnet, grande estilista de alta costura que tinha o gosto pelos drapejados e pelos fluidos, como suas principais características (SALLES, 2015).

Em 2000, Walter Rodrigues se envolveu em um projeto promovido pela entidade não governamental A Casa – Museu do Objeto Brasileiro, desenvolvendo peças em conjunto com artesãs rendeiras da comunidade de Morros de Mariana, em Ilha Grande, no Piauí, visando propocionar uma aproximação entre o artesanato brasileiro e o mundo da moda. As criações foram desfiladas na passarela do São Paulo Fashion Week no ano de 2001 e, em seguida, fizeram parte da exposição “A Mão na Moda, uma história brasileira”, feita também em São Paulo, no mesmo ano (ALMEIDA, 2013).

A afinidade com o orientalismo é característica marcante quando se fala em Walter Rodrigues. Na coleção Outono / Inverno 2006, o designer se inspirou no filme “Memórias de uma Gueixa” trazendo para as peças as referências da indumentária oriental representadas, principalmente, através do quimono (PRADO, 2014).

Em 2009, o estilista apresenta na passarela do Fashion Rio a coleção “Audrey Goes to China”, em que novamente se utiliza de referência oriental para as peças de verão da coleção, e também, da influência do cinema nas suas criações, fazendo uma releitura das peças utilizadas por Audrey Hepburn, principalmente extraídas do filme “Bonequinha de Luxo” (1961),

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