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Cinema Negro - Eliciana Nascimento

Por:   •  25/5/2018  •  1.872 Palavras (8 Páginas)  •  362 Visualizações

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No livro de Bernardet, não há nada sobre os filmes da Vera Cruz que eram racistas ou sobre os filmes da chanchada que enalteciam o exotismo; não há também nenhum comentário do autor abordando como os filmes do cinema novo eram anti-racistas, assim pensa Noel Carvalho.

O primeiro momento do Cinema Novo ao abordar questões sociais, mostrar a realidade do Brasil e dos brasileiros, conseguiu construir novas representações do negro e com isso trouxe a inserção de atrizes e atores negros para dentro do mundo cinematográfico (CARVALHO); Nomes como Lea Garcia, Luiza Maranhão, Milton Gonçalves, Haroldo de Oliveira, Eliezer Gomes, Jorge Coutinho, Waldyr Onofre, Antônio Pitanga e Zózimo Bulbul, começam a ter destaque, estes três últimos, em 1970, viram diretores cinematográficos. Bulbul é considerado o pai do Cinema Negro brasileiro. Dirigiu curtas e longas, entre eles estão: Alma no Olho (1974), Artesanato do Samba (1974), Dia de Alforria? (1980) e Abolição (1988), seus trabalhos sempre estiveram ligados à população negra e a sua militância.

Apesar dessas mudanças estarem ocorrendo, os filmes ainda colocavam atrizes e atores negros em papeis subalternos, como os de empregada doméstica, mulher barraqueira, criminosos e os relacionavam a pobreza. Em 1998, Jefferson De e Daniel Santiago, contrários a todos esses estereótipos, lançaram o manifesto “Movimento Dogma Feijoada”, em um festival de curtas, que proclamava sete mandamentos ou regras para o cinema negro. São eles:

1)O filme tem que ser dirigido por um realizador negro;

2) O protagonista deve ser negro;

3) A temática do filme tem que estar relacionada com a cultura negra brasileira;

4) O filme tem que ter um cronograma exequível.

5) Personagens estereotipados negros (ou não) estão proibidos;

6) O roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro;

7) Super heróis ou bandidos deverão ser evitados.

Infelizmente, o cenário pouco muda e em 2014 é publicado uma pesquisa intitulada “A cara do cinema nacional: perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012)”, que foi realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (GEMAA) do IESP-UERJ6 . Foram analisados filmes de maior bilheteria no país entre os anos de 2002 a 2012, totalizando 218 produções, em que o objetivo era averiguar como se manifestava a diversidade de cor e identidade de gênero nesse campo.

A pesquisa apontou que dos filmes analisados, 84% dos diretores são homens e brancos, 13% dos diretores são mulheres de cor branca e apenas 2% dos diretores são homens e negros. Não foi identificada nenhuma diretora mulher e negra. Entre a função de roteirista, segue a discrepância: homens brancos representam 74% das produções, enquanto mulheres de cor branca ocupam 26% e apenas 4% dos roteiristas são homens negros. Novamente, entre os filmes analisados não há mulheres negras na função de roteirista.

A dificuldade de encontrar mulheres negras dirigindo filmes fez com que em 2013, o Ministério da Cultura, em parceria com a Secretária de Políticas para as Mulheres, criasse o edital “Carmen Santos – Cinema de Mulheres” como uma forma de instiga-las a produzir, enaltecer suas produções audiovisuais, fazendo-as terem o reconhecimento que merecem; uma chance de termos um cinema negro no feminino, onde essas mulheres possam ter e criar possibilidades de denunciar e combater o racismo, o machismo, a homofobia, e as múltiplas formas e especificidades de discriminações e preconceitos que estão presentes na sociedade (SOUZA).

O racismo e o sexismo que existem no Brasil, fizeram com que uma das primeiras cineastas negras, Adélia Sampaio, caísse no esquecimento. Apesar de todos os obstáculos enfrentados pela cineasta, é dela que vem o primeiro filme lésbico do cinema nacional brasileiro (Amor Maldito,1984). Sua força e garra para não desistir da cinematografia a levou a dirigir vários outros longas que, sem dúvida, são mais que importantes para a história do cinema do Brasil.

Mesmo com a dificuldade de superar esse apagamento, Adélia Sampaio é inspiração para várias cineastas que estão surgindo no século XXI e entre elas está Eliciana Nascimento que em 2014 teve seu curta “O tempo dos Orixás” levado para o maior festival de cinema mundial, o Festival de Cannes, ela e a cineasta Viviane Ferreira com seu curta “O Dia de Jerusa” foram as primeiras cineastas negras brasileiras selecionadas para participarem desse grande evento. Entrevistada por nós, Eliciana nos diz a importância que Cannes trouxe para sua vida:

“Cannes foi uma experiência única em minha vida. Foi o primeiro e maior festival de cinema que participei. A estreia foi no Short Film Corner, que é um segmento pequeno para curtas no Festival de Cannes, mas com isso você tem acesso a todo o festival e dá para aprender muito sobre a indústria do cinema durante o período do festival. Fiz conexões importantes a partir de Cannes e consegui o meu trabalho atual como Creative Video Producer (Produtora Criativa de Videos) por conta de ter lançado o meu filme em Cannes. A partir daí fui convidada para outros festivais nos Estados Unidos, Costa Rica, Cabo Verde e Brasil. O filme teve grande receptividade em todo lugar que foi exibido. Ganhei vários prêmios a começar pelo Spirit Award, e melhor fotografia do Reel Sister of the Diaspora Film Festival em Nova Iorque, o Reconhecimento de Direção de Ficção do Black Star Film Festival em Filadélfia, o melhor curta de ficção pelo Plateau – Festival de Cabo Verde e recentemente recebi um outro prêmio de reconhecimento na categoria de Diáspora Narrativa no Silicon Valley African Film Festival.”

Eliciana nasceu em Salvador, filha de empregada doméstica e pedreiro, estudou Comunicação Social

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